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Capítulo 2. Acesso Livre e Repositórios Digitais

2.4 Repositórios digitais de recursos educativos

2.4.3 Perspectiva histórica

O surgimento dos RRE não decorreu directamente do movimento OA, no entanto este conceito teve também influência na área da educação. Inicialmente o movimento OA começou por provocar a livre disseminação de artigos de investigação, mas actualmente muitos outros tipos de materiais “Open” existem, nomeadamente para ensino e aprendizagem, como sejam os Open Content, Open Courseware e Open Educational Resources (Fleming & Massey, 2008), que veremos mais à frente.

Matkin (2002) relata o percurso evolutivo da área do e-learning30, e naturalmente dos RRE, de

uma forma muito objectiva, a qual resumidamente apresentamos de seguida. A indústria do e-

learning começou a estabelecer-se como uma força na primeira metade da década de 1990, à

medida que a Internet prendia a imaginação das instituições. Colégios e universidades, do mesmo modo que faziam uso da Internet para propósitos de investigação científica, começaram a experimentar usar a web para melhorar o ensino e aprendizagem. Desde cedo, dois aspectos no e-learning atraíram as Instituições de Ensino Superior: (1) a expectativa de que esta nova tecnologia poderia, de facto, transformar o ensino e aprendizagem, de maneira fundamental e profunda; (2) as grandes quantidades de dinheiro que fluíam para iniciativas e projectos de e-learning, vindo de várias fontes. Nesta época, a noção de “content is king” foi largamente adoptada. Procurava-se garantir os melhores especialistas em conteúdos para criar cursos, usando a mais recente e impressionante tecnologia, e o mais alto nível de instructional

design, resultando em processos altamente caros. A criação de conteúdos de e-learning tornou-

se o maior objectivo dos investimentos, particularmente quando se tornou claro que a tecnologia de disponibilização podia ser criada, ou adquirida, relativamente barata. À medida que se tornou evidente que a procura, pelo ensino superior, do que estava a ser disponibilizado na Internet não era a esperada pelos investidores, o focus do investimento deslocou-se para o marketing e distribuição. Por exemplo, as fundações privadas Andrew W.

Mellon Foundation e William and Flora Hewlett Foundation, dispuseram-se a investir fortemente

em iniciativas que visavam fornecer cursos e conteúdos de ensino online gratuitos, a vastas audiências. Esta ideia tornou-se conhecida como Open CourseWare, e o primeiro exemplo, em 2002, foram os materiais disponibilizados através da iniciativa MIT OCW. Matkin continua, referindo que se se considerar a evolução da indústria do e-learning, percebe-se que o seu desenvolvimento foi tendencioso em favor do lado da oferta, e que muitos dos seus problemas decorreram da falta de entendimento do lado da procura. A indústria concentrou os seus primeiros esforços no desenvolvimento dos seus produtos e sistemas, sem entender

o mercado ou as necessidades e percepções das suas desejadas audiências.

Matkin (2002) faz o paralelo com os repositórios de ensino e aprendizagem, e diz que estes seguiram a tendência da indústria do e-learning, desenvolvendo-se orientados pelo lado da oferta. Assim, aparecem estruturados de acordo com a subjacente estrutura do conteúdo como entendido pelo produtor, em vez de ser para a facilidade de uso do consumidor do conteúdo. Como resultado, a utilização destes repositórios, através do uso e partilha dos seus materiais é baixa, e é grande o desperdício encontrado em duplicação de materiais por diferentes repositórios (Matkin, 2002).

Assumir, implicitamente, que o acesso facilitado e gratuito a uma massa crítica de conteúdos de alto valor, é condição suficiente para o crescimento e impacto da educação através da web, foi reconhecido como falso (Burgos & Griffiths, 2005; OLCOS, 2007). Aprendizagem é diferente de consumo de conteúdo e a aprendizagem advém de ser activo (Burgos & Griffiths, 2005). Assim, as actividades que podem ser realizadas com esses recursos passam também a ser reconhecidas como importantes, e a investigação avança no sentido de procurar incluir no e-learning abordagens pedagógicas flexíveis e sofisticadas, aparecendo, por volta de 2003, especificações como a IMS LD (Burgos & Griffiths, 2005).

Interesses mundiais em promover a educação e aprendizagem ao longo da vida para toda a sociedade, fazem surgir o movimento Open Educational Resources (OLCOS, 2007). No coração deste movimento está a simples e poderosa ideia que o conhecimento é um bem público, e que a tecnologia em geral, e a WWW em particular, fornecem uma extraordinária oportunidade para cada um partilhar, usar e re-usar o conhecimento (OLCOS, 2007). E por volta de 2004, o termo Open Educational Resource (OER), é usado para designar a parte desse conhecimento que apreende os componentes fundamentais de educação – conteúdos e ferramentas para ensino, aprendizagem e investigação – disponibilizados livres de custos (OLCOS, 2007).

Verifica-se também uma alteração no foco de atenção dos investigadores, a qual se volta agora para as práticas educacionais, em vez de se centrar nos produtos educacionais, mas reconhecendo, sem dúvida, o quanto as práticas podem beneficiar com os recursos, tais como os conteúdos e ferramentas, disponibilizados nos repositórios em acesso livre (OLCOS, 2007; Fleming & Massey, 2008).

Exposto pelo projecto OLCOS, que visa impulsionar a criação, partilha e re-uso de OERs, o problema principal dos actuais repositórios educacionais de acesso livre, é que, apesar da sua filosofia de partilha, vêem os professores e estudantes como consumidores de conteúdo, que essencialmente querem ir buscar material (OLCOS, 2007). O sucesso e sustentabilidade dos

RRE dependerá, seguramente, da formação e fidelização de comunidades de prática e interesse (Matkin, 2002; Heery & Anderson, 2005; Bates et al, 2006c; OLCOS, 2007; Fleming & Massey, 2008), mas para que isto seja possível, os RRE terão de pensar cuidadosamente em como ser útil a essas comunidades, em procurar identificar e satisfazer as necessidades da comunidade que pretende servir, a de ensino e aprendizagem (Bates et al, 2006b; Heery & Powell, 2006; OLCOS, 2007).

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