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3 O FENÔMENO DA DÊIXIS

4.3 Perspectiva narrativa

A discussão feita neste item, em que coloco a perspectiva narrativa como um dos caminhos que asseguram chegar à recategorização dêitica, não está pautada em teorias específicas da narrativa, ou seja, em estudos que tenham pretendido encontrar

uma “gramática” da narrativa. Funda-se antes, e indiretamente, no embasamento ou

talvez apenas na influência, de autores como Ann Banfield, Käte Hamburger e S.-Y Kuroda aos quais é devido o termo Modelo de Mudança Dêitica, usado para referir à tese de que o campo dêitico é constituído em uma base diferente na narrativa ficional, que em comunicação e em outras situações de linguagem.

A escolha pela expressão perspectiva narrativa deve-se, em primeiro lugar, ao fato de que os textos que analiso têm prioritariamente sequências narrativas e ainda porque a quase totalidade dos autores pesquisados faz referência às obras destes estudiosos da narrativa e orienta suas análises a partir também de textos narrativos. Sigo, assim, o pensamento de Segal (1995), Galbraith (1995), Zubin e Hewitt (1995), Monticelli (2005b), Barbéris (2005) dentre outros, cuja preocupação é estabelecer um novo quadro teórico de análise para a dêixis.

Segal, Galbraith, Zubin e Hewitt seguem uma linha de trabalho focada no processo de interpretação de texto narrativo e na representação mental que pode resultar desse processo. Dentre as metas estabelecidas em seus estudos, os autores incluem a identificação do conhecimento que um leitor deve levar a um texto, a fim de entendê-lo, e a caracterização dos processos pelos quais uma representação na memória é acessada como um texto produzido e compreendido. Tais metas despertam-me o interesse, visto que foram pensadas como uma forma de abordagem da compreensão e produção da dêixis na narrativa.

Monticelli e Barbéris, por outro lado, filiam-se a uma linha mais voltada para o enunciado e as circunstâncias de enunciação, em que surge a necessidade de olhar a dêixis como um fenômeno complexo e processual em vez de dêiticos como unidades prontas de um repertório linguístico, aspectos que me despertam o interesse.

Para Segal (1995), embora a teoria da narrativa não esteja diretamente envolvida com problemas cognitivos de competência e performance, fundamenta a teoria da mudança dêitica. O autor justifica a aproximação entre as duas teorias pelo fato de ambas apresentarem elementos comuns. Se para o centro dêitico são importantes as coordenadas eu, aqui, agora, para o esquema narrativo são importantes as coisas existentes como, por exemplo, personagens, objetos e configurações, que se situam em eventos, acontecimentos ou ações, assumidos temporal e espacialmente.

Além dos traços relativos a pessoa, tempo e espaço, Segal vê na cognição outro ponto de identificação entre as teorias. A abordagem teórica adotada pelo autor para a teoria da mudança dêitica é identificada por um ato cognitivo, ou seja, produzir e compreender enunciados com expressões dêiticas demanda operações cognitivas. Da mesma forma, para produzir ou compreender narrativa ficcional, o escritor e o leitor devem ter conhecimentos de estados e processos cognitivos que possam acomodar as propriedades do texto. Por esses pontos de interseção, então, se explica o fato de a teoria da narrativa buscar, com base na teoria da mudança dêitica, entender que o detalhamento do texto, conforme assinala Segal, só é compreensível a partir de uma posição em algum lugar dentro do mundo da narrativa que exige uma mudança dêitica135.

A representação dos acontecimentos na ficção sempre despertou a atenção de estudiosos desde a Antiguidade, tanto Platão quanto Aristóteles viam, na mimeses, a representação da natureza. Platão admitia que toda criação era uma imitação, até mesmo a criação do mundo – o mundo das ideias. Aristóteles, em sua Poética, abria espaço para o espectador da ação dramática, deixando ver que o sentir da catarse realizava-se no pensamento do leitor. Ou seja, não é de agora, que escritores e leitores de narrativas têm o poder de se imaginarem em um mundo que não é literalmente presente. É a ilusão de estar no meio da história que orienta o comportamento do leitor quando lê um texto ficcional, fazendo com que ele responda, por exemplo, ansiosa ou hesitantemente, o desenrolar do fato narrado.

Para Segal (1995), a abordagem da mudança dêitica é consistente com a experiência fenomenológica. Por conseguinte, interpretar o texto narrativo pode

135 We think that much of the detail of text is only understandable from a position somewhere within the

significar vivê-lo de uma posição interna do mundo narrado, mas, mais que isso, significa compreender o movimento de todos os eus da ficção no tempo e no espaço, ampliar a interpretação das expressões dêiticas, tendo o texto como ponto de partida, e, assim, redefinir a noção de dêixis e o seu estatuto no processo de referenciação. A ideia, portanto, é que a interpretação ocorra a partir do texto, mas não apenas dentro dos limites do texto, pois, como lembra Monticelli (2005b), autor e leitor não compartilham um mesmo mundo perceptivo.

Segal (1995), a partir do argumento de que a metáfora de o leitor ficar dentro da história é cognitivamente válida, é de opinião que o leitor muitas vezes assume uma postura cognitiva dentro do mundo da narrativa e interpreta o texto a partir dessa perspectiva. Este é também um dos princípios da Teoria da Mudança Dêitica.

Para o autor, pelo fato de a dêixis demandar informação não veiculada pelo texto para a sua interpretação, o foco é, então, o contexto não linguístico do discurso, pois muito da interpretação de expressões dêiticas depende desse contexto. Os termos dêiticos incluem conteúdo semântico com base na situação de uso, em contexto mais livre de conteúdo semântico, ou seja, a compreensão de expressões como hoje, ontem, esta manhã é dependente não somente do conteúdo semântico, mas, principalmente, do tempo do enunciado em correlação com a semântica da relação temporal. Esse é um ponto de vista que norteia esta pesquisa sobre a recategorização dêitica.

A noção de que a interpretação da dêixis depende do contexto é igualmente o posicionamento de Monticelli (2005b), para quem dêixis é um fenômeno que liga expressões linguísticas com a fonte de informação e o contexto de sua produção

Ainda a propósito do papel do texto para a interpretação da dêixis, Segal (1995) já advertia para o problema, pontuado por Apothéloz e Doehler (2003), dos exemplos que neutralizavam parâmetros contextuais, ou seja, de textos em que muitos pesquisadores, para contornar a dificuldade de entender o detalhamento da narrativa, faziam seus próprios textos ou davam interpretações globais de texto real. Atenta às advertências dos autores, procurarei, a partir dos próximos itens, fazer reflexões acerca de como se organiza o centro dêitico em textos narrativos, de como os eus do texto narrativo aparecem na enunciação, de como se dá a localização no mundo da narrativa e como o paradoxo do tempo é equacionado.

4.3.1 O centro dêitico em textos narrativos

A Teoria da Mudança Dêitica recorre à egocentricidade bürherleana e aponta a localização dentro do mundo da narrativa como o centro a partir do qual as expressões dêiticas devem ser interpretadas, ampliando em termos analíticos, assim, a visão de Bühler. Enquanto termos como aqui e agora se referem a um determinado espaço e tempo e são apenas as coordenadas do centro dêitico, na visão desta teoria de base narrativa, estes termos podem, assim como o centro dêitico, sofrer mudanças em razão do espaço e do tempo em que o texto é encontrado dentro de um modelo mental, que representa o mundo do discurso.

Consoante afirmei em parágrafos da introdução deste capítulo, para a visão de interpretação cognitiva do fenômeno dêitico é necessário que autor e leitor compartilhem um mundo perceptivo. Essa compreensão também é possível à luz da proposta de Bühler (1982) para quem o campo dêitico tinha uma base perceptual criada por percepções visuais das quais o discurso se originava e das quais a interpretação de expressões dêiticas era dependente. Isso significa que a orientação subjetiva é um sistema de coordenadas em que todos os parceiros na comunicação estão presentes.

Conforme ficou evidenciado no item 3.2.1, a copresença de parceiros comunicacionais na situação enunciativa é um aspecto importante da abordagem egocêntrica da dêixis, pois, além de propiciar que os dados de percepção se tornem o contexto para a geração de um campo dêitico, permite também a reconstrução deste campo no texto.

O papel do contexto é essencial tanto para o estabelecimento de um centro dêitico quanto para a forma como as interpretações de expressões dêiticas são realizadas no mundo da ficção. Neste processo, ao leitor compete localizar os aspectos dêiticos que pertencem à história136 e acompanhar sua dinamicidade, visto que este centro dêitico não permanece estático à medida em que a história se desenrola. Isso quer dizer que na dinamicidade do texto os centros dêiticos podem ser modificados.

Aliás, Fillmore, ao falar do sistema dêitico, aborda implicitamente a questão do contexto. Para o autor, as indicações de lugar fazem parte do sistema dêitico porque, para muitas expressões locativas, a localização dos participantes do ato de fala serve como ponto de referência espacial. Fillmore ([1984], 1997, p. 64) exemplifica com a

136 Neste capítulo, emprego indistintamente os termos história e narrativa, significando o discurso literário

expressão upstairs: “Se eu digo "João está lá em cima", você compreenderá que "lá em

cima" significa acima do lugar onde eu estou no tempo em que enuncio a sentença, a menos que o discurso imediatamente precedente tenha fornecido algum outro ponto de referência137”. O autor notou ainda, em relação a alguns verbos, coming and going, por exemplo, que o centro dêitico é mais geral e mais abstrato que as expressões dêiticas tradicionais, eu, aqui e agora.

Para Zubin e Hewitt,

É esta plasticidade de centragem dêitica que constitui a base para a estrutura de narrativa dêitica. A teoria do centro dêitico tenta modelar a consequência da mudança dêitica fora do aqui/agora/eu/tu da interação face a face, onde ela está ancorada em situações do mundo real, para o reino puramente textual da ficção, onde a dêixis é suprimida livremente de suas amarras físicas na situação de fala (ZUBIN; HEDWITT, 1995, p. 130)138.

Um aspecto que se destaca na citação “mudança dêitica fora do

aqui/agora/eu/tu da interação face a face, para o reino puramente textual” diz respeito ao par eu/tu da interação. Vale destacar que não se trata de uma simples modelagem, mas de algo bem mais complexo e que, nessa mudança de centro dêitico, do mundo real para o do mundo da ficção, o par eu/tu se ‘muda’ com toda a sua bagagem de

conhecimentos do mundo real que interferirá na interpretação do texto ficcional. E, de acordo com essa visão, as expressões dêiticas não apenas são passíveis de mudanças como podem ter a força de recategorizar seus referentes.

Como foi visto, a teoria retoma os pressupostos defendidos por Bühler, mas reelabora a concepção de centro dêitico. A partir da visão de um centro dêitico fundado na narrativa, este centro, mesmo contendo todos os elementos do aqui e agora, passa a ser mais do que apenas o ponto de origem para os termos dêiticos. Segal (1995, p. 15)

relembra que, no mundo da narrativa, “leitores e autores mudam seu centro dêitico da

sua situação do mundo real para o de uma imagem de si mesmos em um local dentro do

mundo da história”139.

137 If I say, “Johnny lives upstairs”, you will understand me as meaning upstairs of the place where I am at

the time I say the sentence, unless the immediately preceding discourse has provided some other reference point.

138It is this plasticity of deictic centering that forms the basis for the deictic structure of narrative. Deictic

center theory attempts to model the consequences of shifting deices out of the here/now, I/you of face-to- face interaction, where it is anchored in real-world situations, into the purely textual realm of fiction, where deixis is cut adrift from its physical moorings in the speech situation (ZUBIN; HEDWITT, 1995, p. 130).

139 (...) readers and authors shift their deictic center from the real-world situation to an image of

Outro aspecto significativo para a mudança do campo dêitico, dentro dos pressupostos da Teoria da Mudança Dêitica, está relacionado à subjetividade. Galbraith

(1995, p. 25) diz que “os atos de narração ficcional transferem sua referencialidade da

realidade do mundo histórico para a realidade do mundo ficional, e transfere a subjetividade do falante para a subjetividade dos personagens do mundo da história140”. A afirmação da autora é resultante não apenas de sua análise sobre as contribuições de Bühler, mas também do posicionamento de Hamburger sobre narrativa, cuja base teórica lhe serviu de apoio. Reportando-se aos estudos de Hamburger, Galbraith destaca que a autora defende dois reinos de atos de linguagem: declaração da realidade e da ficção. A declaração da realidade põe em jogo um falante e um mundo que é independente do falante: declarações da realidade ou declaração- sujeito é o eu-Origo. Na declaração da ficção, a Origo ficcional não é o falante do texto, mas a personagem que experimenta no mundo da história141.

A autora adota a distinção entre narração ficcional e não ficcional e enfatiza que em narração não ficcional, pode-se encontrar evidência de uma transferência de dêixis espaço-tempo, por exemplo, pelo uso do presente histórico e de advérbios dêiticos como aqui e agora introduzidos no tempo narrado. Ela traz ainda um argumento simples, mas irrefutável, o de que ninguém começa uma narrativa como parcialmente fictícia, da mesma maneira que formas de ficção que não são narradas, e a consciência em terceira pessoa não pode ser diretamente apresentada, mas sim transmitida através sintomaticamente de comportamento observável como gesto, diálogo, monólogo ou encenação expressiva.

Os caminhos percorridos para subsidiar este trabalho na linha da mudança dêitica em direção a uma proposta de recategorização são, inicialmente, os meios linguísticos apontados por Bühler. Além da base essencialmente linguística, busco seguir outras trilhas. De um lado, encontram-se estudiosos como Segal que veem o centro dêitico representado como uma estrutura cognitiva. Por outro lado, estudiosos como Monticelli (2005b) que escolhem dispositivos particulares constitutivos do mundo da narrativa para orientar suas análises.

140 Acts of fictional narration transfer their referentiality from the actuality of the historical world to the

entertained reality of the fictive world, and transfer the subjectivity of the speaker to the subjectivity of story world characters.

141 É um posicionamento que não se distancia da distinção proposta por Benveniste para enunciação

Este autor recorre aos discursos representado (discurso indireto livre) e pensado (discurso direto), como formas de desafiar a egocentricidade clássica, e admite que seria possível esperar um uso coerente de dêiticos em termos de uma coincidência entre eu, aqui, agora – um sistema dêitico puro, conforme pensado por Bühler,

exemplificado por ele, em:

[84] Ele apenas acenou com a cabeça e disse: "Tudo está bem do jeito que está. Você e eu, provavelmente, não somos muito bons em lidar com armas de qualquer maneira. Mas agora é melhor nós começarmos a nos mexer e sair

daqui"142.

Em texto narrativo, não é sempre assim, e a coerência é amparada pelo que Monticelli chama de sistema misto, em que é preciso recorrer a posições discursivas diferentes para a interpretação dos dêiticos e fazer uso do discurso representado e pensado. Nesse caso, a dissociação de eu, aqui e agora toma lugar dentro de um sistema dêitico misto, como no exemplo seguinte:

[85] Agora, ele tropeçou e sentiu-se mal, e aterrorizado dos dois que foram, abrindo agora a porta exterior e entrando na casa escura143.

Só é possível explicar os agora em [85] com referência ao sistema dêitico proveniente da percepção do personagem, o ele pode ser explicado com referência a outra posição discursiva, que parcialmente é responsável pelas sentenças de pensamento representado.

Monticelli, concordante com Fiorin (2010), assume que desse ponto de vista é útil recorrer à noção de narrador, que, por ser situado em um nível enunciativo mais alto no texto, pode misturar sua enunciação com a do personagem, dando início a um sistema misto dêitico de discurso representado e pensado.

Os exemplos [86] e [87], criados artificialmente pelo autor, mostram isso mais claramente:

[86] Mas ela estava realmente feliz agora por estar aqui de novo? Elizabeth se perguntou, como ela re-entrou na casa da família.

142 [33] He only nodded and said, "Everything is all right the way it is. You and I probably aren't much

good at handling guns anyway. But now we'd better get a move on and get out of here." (Rasmus, chapter 10. In: MONTICELLI, 2005b, p. 211)

143 [34] Now he stumbled and felt sick, and terrified of the two who were just now opening the outer door

[87] Mas ela estava realmente feliz agora que estar lá de novo? Elizabeth se perguntou, como ela re-entrou na casa da família144.

A diferença relevante entre as duas sentenças é que o aqui em [86] é para ser interpretado dentro do sistema dêitico a projetado pela personagem (Elizabeth), mas

lá de [87] requer a referência para outra posição b discursiva, ocupada pelo que é tradicionalmente chamado o narrador.

À Teoria da Mudança Dêitica compete identificar as propriedades que caracterizam os centros dêiticos e os princípios que regulam sua criação e mudanças. Assim, mesmo que as abordagens supostamente sigam métodos distintos, sempre haverá o suporte necessário para análise em diferentes tipos de textos.

Segal (1995) apresenta as seguintes propriedades: 1. Análise detalhada de forma e conteúdo do texto

Por essa propriedade, o modelo espera que o máximo de informações sobre os mecanismos de geração e compreensão subjacentes da narrativa possam ser adquiridos a partir dos detalhes da forma e do conteúdo do texto narrativo (estrutura das sentenças e parágrafos, tempo, conectivos intersentenciais, escolha lexical, pronominalização etc);

Dentre os estudiosos, cujos trabalhos se filiam a uma linha mais voltada para o enunciado e as circunstâncias de enunciação, essa propriedade também é encontrada. Renate e Pajusalu (2005) consideram a possibilidade específica de esconder a pessoa pelo uso, em interação em estoniano, de formas sem sujeito de verbos no modo condicional. Em tais casos, o objeto gramatical do verbo não é especificado e o agente da ação permanece indeterminado.

Importa chamar a atenção para o fato de que, mesmo se tratando de textos

do mundo da ficção, “os detalhes da forma” são usados como um dispositivo

pragmático. No caso do estudo das formas condicionais em estoniano, ficou demonstrado que a dêixis na interação não está sempre conectada com a realização lexical e que o uso ou omissão de dêiticos pessoais pode desencadear uma mudança do

144 [35] But was she really happy now

a to be herea again? Elizabetha wondered, as she re-entered the

family home.

[36] But was she really happy nowa to be therea again? Elizabetha wondered, as she re-entered the

papel indicial simples de dêixis para aspectos mais complexos da subjetividade na linguagem.

2. Presunção de um texto aberto

No tocante a essa propriedade, é importante frisar que a Teoria da Mudança Dêitica vê a compreensão dos textos de ficção com o mesmo olhar da Linguística Textual145, ou seja, a compreensão de uma narrativa vai muito além de informações recuperáveis de uma análise linguística das frases no texto. Muito do que é realizado na interpretação é trazido pelo leitor, sujeito ativo neste processo, isso significa que o sentido depende do contexto linguístico específico e do contexto não-linguístico.

Por outro lado, a atitude do leitor não é totalmente livre, ou aberta, para ser coerente com o que expõe esta propriedade. Com isso quero dizer, em consonância ao proposto por Galbraith (1995), que a narração ficcional requer que o leitor imagine um campo dêitico em que as coordenadas eu, aqui e agora são transpostas de sua ancoragem habitual no eu, para um ponto de ancoragem no texto narrativo, ou seja, esse campo dêitico ficcional é construído de acordo com as especificações linguísticas do texto.

3. O modelo falante/ouvinte não é presumido

Em primeiro lugar, essa propriedade quer salientar que grande parte do texto narrativo é mimético, ou seja, falante/ouvinte surgem dentro de/para um mundo de representação. Disso resulta que muitos teóricos da narrativa admitem que o autor cria

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