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4 A PESQUISA ENQUANTO SEUS FUNDAMENTOS

4.4 PERSPECTIVA QUE SUBJAZ A ANÁLISE DOS DADOS

A produção de dados procede da realização de entrevistas e para a análise dos dados nos valeremos das relações apresentadas no Quadro 7, uma vez com as falas copiladas dos professores entrevistados poderemos identificar os aspectos trazidos por eles, mesmo que sejam implícitos, que possa nos levar a resposta da pergunta que norteia toda está pesquisa, precisamos para tanto trazer uma noção a respeito da linguagem, neste caso transcrita diretamente da fala para a escrita, que vá além da mera comunicação neutra, portanto, trazemos aqui “uma rejeição da noção realista de que a linguagem é simplesmente um meio neutro de refletir, ou descrever o mundo, e uma convicção da importância central do discurso na construção da vida social” (CAREGNATO; MUTTI, 2006, p. 680).

Assim, entendemos que o discurso do entrevistado não está isolado de todo o contexto no qual ele está inserido, tudo que o constitui e o que é construído por ele, não pode ser entendido como neutro em contexto histórico e social, é carregado de sentidos que vão além da própria formação dele. Sendo assim,

A formação discursiva constitui-se na relação com o interdiscurso e o intradiscurso. O interdiscurso significa os saberes constituídos na memória do dizer; sentidos do que é dizível e circula na sociedade; saberes que existem antes do sujeito; saberes pré-construídos constituídos pela construção coletiva. O intradiscurso é a materialidade (fala), ou seja, a formulação do texto; o fio do discurso; a linearização do discurso (CAREGNATO; MUTTI, 2006, p.681).

Desta forma, estamos interessados também em saber se os professores da educação básica de Pernambuco têm em sua formação discursiva se utilizado do interdiscurso que apresentamos em páginas anteriores, relacionado a visão de que a Matemática é para a Física uma mera ferramenta representacional, e que se assim for está será a visão que irão levar para a educação básica, e que fará parte da formação discursiva dos estudantes que de lá saírem.

Dito isto, após a realização das entrevistas, procederemos com a análise de cada uma das respostas que os entrevistados forneceram, de maneira a identificar em suas falas elementos que possam indicar qual a perspectiva que ele tem a respeito das relações entre Física e Matemática, buscando identificar elementos que remetam as posturas elencadas no capítulo 3, e justificando como cada elemento da fala dos entrevistados nos leva a entender que este se alinha, ou não, com uma as determinadas posturas do quadro de categorias.

Quadro 6: Posturas frente às relações existentes entre a Física e a Matemática

Relações Posturas adotadas

Eixo 1 - Quanto à função da Matemática

na construção do conhecimento físico

i) Ênfase operacional representativa ou pictórica

ii) Ênfase na estruturação/construção do conhecimento

Eixo 2 - Quanto ao papel da Matemática no

ensino de Física

i) A Matemática pode se tornar um obstáculo para o aprendizado da Física

ii) A Matemática tem papel coadjuvante no ensino de Física, sendo irrelevante para o processo

iii) O ensino de Física não pode prescindir da Matemática, uma vez que está faz parte da significação dos conceitos físicos

Eixo 3 - Quanto às práticas em sala de

aula

i) A Matemática deve ser minimizada (ou excluída) do ensino de Física, ao menos na educação básica

ii) Deve-se deixar clara a separação entre Física e Matemática para o aluno conseguir diferenciar, por exemplo, grandezas Físicas das ferramentas Matemáticas utilizadas para às representar

iii) A Matemática deve ser significada na construção dos conceitos físicos, entendida como participante fundamental desta construção

Fonte: Própria (2019)

Sabendo que estes elementos que buscamos podem aparecer sobre os mais diversos formatos, sendo necessário reconhecer cada argumento em seu contexto, entendendo como o entrevistado tem se relacionado com a Matemática ao longo de sua formação, e como isto tem implicado na sua perspectiva a respeito do papel que a Matemática pode exercer, seja como facilitadora no ensino de Física ou como um obstáculo. Assim, de maneira geral o roteiro da entrevista aborda todos os aspectos do objetivo geral e dos específicos elencados para esta pesquisa, e ainda visa identificar elementos que possam ser indicativos de como a visão destes professores entrevistados a respeito das relações entre a Física e a Matemática poderiam ser classificadas.

Também vale salientar que, após alguns pré-testes e pré-análises dos resultados obtidos, vimos que se fazia necessária algumas modificações no quadro 6, afim de que pudéssemos comtemplar de maneira mais ampla as respostas dos entrevistados. Assim, reformulamos algumas das acessões contidas no quadro 6 e utilizamos como fundamento para nossas categorizações que se seguem nas próximas seções, o quadro, com as categorizações reformuladas:

Quadro 7: Posturas frente às relações existentes entre a Física e a Matemática (categorias)

Eixo 1- Quanto à função da Matemática na construção do conhecimento físico

i) Ênfase meramente operacional (sistemas algébricos), representativa ou pictórica (sistemas geométricos), ou seja, a construção “completa” e a organização dos conceitos físicos não necessitam de qualquer linguagem Matemática. (Moretzsohn, Ostermann, Moreira);

ii) Ênfase na organização do conhecimento, reconhecendo também o papel operacional da Matemática. Os conceitos podem ser construídos sem a linguagem Matemática, mas não podem ser organizados sem ela;

iii) Ênfase na construção do conhecimento, ou seja, sem a Matemática os conceitos não podem ser construídos nem organizados/estruturados em sua forma “completa”

(Concheti, Pietrocola, Paty, Boniolo e Budinich, Karam).

Eixo 2- Quanto ao papel da Matemática

no ensino de Física

i) A Matemática tem papel coadjuvante na construção e na estruturação dos conceitos em Física, sendo irrelevante para o ensino destes, podendo ser um obstáculo

meramente operacional para o aprendizado da Física; ii) A Matemática tem papel coadjuvante na construção dos

conceitos em Física e relevante na estruturação deste último, portanto se faz relevante para o ensino, pois torna o conhecimento físico sistematizado;

iii) O ensino de Física não pode prescindir da Matemática, uma vez que esta faz parte da construção e

organização/estruturação dos conceitos físicos. Neste caso podendo torna-se um obstáculo também conceitual.

Eixo 3- Quanto às práticas em sala de

aula

i) A Matemática não possui um caráter relevante na

construção e organização/estruturação do conhecimento físico, portanto, uma das possíveis consequências é que uma vez que ela em geral é um dos maiores problemas na

aprendizagem de Física deve ser minimizada (ou excluída) do ensino de Física, principalmente na educação básica ii) A Matemática possui um papel relevante na

organização/estruturação do conhecimento físico, assim deve-se deixar clara a separação entre Física e

Matemática para o aluno conseguir diferenciar, por

exemplo, grandezas Físicas das ferramentas Matemáticas utilizadas para às representar, trazendo para o ensino de Física apenas o conhecimento matemático necessário para tanto;

iii) A Matemática é relevante tanto na construção quanto na organização/estruturação do conhecimento físico, portanto deve ser significada na construção dos conceitos físicos.

Fonte: Própria (2019)

Temos, portanto, que as três primeiras perguntas do roteiro (apêndice A) tem por objetivo abordar questões gerais da formação do entrevistado que podem vir a ser relevantes na formação de suas concepções acerca das relações teórico- educacionais entre a Matemática e a Física, com as questões 4 e 7 intencionamos atingir o eixo 1 do Quadro 7, com as perguntas 4, 5, 6, 7, 9 e 10 pretendemos atingir o eixo 2 e com as perguntas 5, 7, 8, 9 e 10, temos também a intenção de abordarmos as concepções elencadas no eixo 3. Portanto, podemos observar que as perguntas não se limitam a abordar apenas um dos eixos elencados, mas sim perpassam os outros eixos, sendo possível que durante as entrevistas e análises das respostas possamos ainda identificar elementos não previstos na estruturação da análise previamente elaborada.

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS PRODUZIDOS POR MEIO