• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3: Objetivos e Método de Investigação

3.2 Método de Investigação

3.2.1 Perspetiva de Investigação Adotada

Atualmente existem três principais vertentes de investigação em contabilidade: investigação positivista, investigação interpretativa e investigação crítica. A abordagem predominante é a positivista, sendo as outras consideradas uma alternativa à abordagem predominante (Chua, 1986).

44

O paradigma positivista “procura explicar e prever fenómenos em função de conotações implícitas de racionalidade e objetividade” (Vieira e Major, 2009, p.12). Por outro lado, os paradigmas interpretativos e críticos “assumem uma visão subjetiva dos fenómenos contabilísticos, procurando compreender as interações que neles ocorrem”, sendo a principal diferença entre os dois derivada dos investigadores críticos irem além, “questionando a moralidade de tratamento das várias partes envolvidas que podem ter uma situação desigual em termos de distribuição de poder” (Vieira e Major, 2009, p.12).

De acordo com Chua (1986), a abordagem interpretativa enfatiza o papel da linguagem, da interpretação e da compreensão das relações sociais. Esta preocupa-se em compreender a natureza social das práticas contabilísticas. O objetivo não é encontrar leis universais e generalizações, mas sim compreender os acontecimentos, as estruturas sociais e também os significados que as pessoas atribuem aos seus comportamentos e aos outros. Normalmente utiliza métodos qualitativos seguindo um processo interativo que envolve um estudo empírico da realidade, que o interpreta no seu contexto e sob os pontos de vista dos diversos intervenientes. Existe um envolvimento do investigador com os sujeitos e a interpretação que ele faz dos fenómenos é resultado da sua experiência pessoal. O resultado da investigação é uma descrição usualmente sob a forma de narrativa (Vieira e Major, 2009).

Chua (1986) sintetizou os pressupostos dominantes na investigação interpretativa, evidenciados no Quadro 3.

Quadro 3. Pressupostos dominantes na perspetiva interpretativa

A. Crenças sobre o conhecimento

A teoria explica as intenções humanas. As mesmas são avaliadas por via de critérios de consistência lógica, interpretação subjetiva e de acordo com o senso comum.

Atores estudados no seu contexto do dia-a-dia. Estudos de caso e observação participante são encorajados.

B. Crenças sobre a realidade física e social

A realidade surge-nos de forma subjetiva e é objetivada através da interação humana. A ação humana é intencional e baseada no contexto social e histórico.

Assume-se a existência de ordem social, sendo os conflitos medeados através de convenções sociais generalizadas.

C. Relação entre a teoria e a prática

A teoria procura apenas explicar a ação e compreender de que forma se produz e reproduz a ordem social. Fonte: Chua (1986, p.615, adaptado)

45

Face ao exposto, este trabalho irá adotar uma abordagem interpretativa, utilizando uma metodologia qualitativa com recurso ao método de estudo de caso do tipo exploratório. Conforme explicam Vieira e Major (2009, p.132), “o ponto de partida do trabalho de investigação qualitativa consiste em considerar que os sistemas sociais não podem ser tratados como fenómenos naturais, mas sim como fenómenos socialmente construídos”, e esta está particularmente associada à investigação que adota uma abordagem interpretativa. Assim, os métodos de investigação qualitativa são desenhados para ajudar os investigadores a compreender as pessoas e os contextos sociais complexos onde estão enquadrados. A escolha entre os diferentes métodos a utilizar deve depender do objetivo da investigação em causa.

De acordo com Vieira e Major (2009), entre os métodos de investigação mais comuns encontram-se as entrevistas, a observação, textos e documentos, e o registo de áudio e vídeo, os quais podem e devem ser combinados no mesmo estudo, sendo o mais recorrente o estudo de caso.

Ao comparar o método do estudo de caso com outros métodos, Yin (2004) afirma que para se definir o método a ser usado é preciso analisar as questões que são colocadas pela investigação. De acordo com Yin (2004, p.19), “em geral os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo “como” e “porquê?”, quando o investigador tem pouco controlo sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenómenos contemporâneos, inseridos em algum contexto da vida real”.

De acordo com Vieira e Major (2009), os estudos de caso numa perspetiva interpretativa são uma reflexão profunda sobre a evidência e o posicionamento perante as diferentes teorias com vista a obter as respostas às questões formuladas.

Nos últimos anos o estudo de caso tem-se tornado um método muito comum de investigação em contabilidade (Scapens, 2004). Mas, segundo Bressan (2000, p.1), “o método do estudo de caso é um método das Ciências Sociais e, como outras estratégias, tem as suas vantagens e desvantagens que devem ser analisadas à luz do tipo de problema e questões a serem respondidas”.

46

Para Ryan et al. (2002, p.148), uma destas limitações é a dificuldade na obtenção de generalizações, dado que os estudos normalmente abordam pequenas amostras. No entanto, os estudos de caso normalmente consistem num ponto de partida para mais investigação científica e para o desenvolvimento da teoria. Os mesmos sugerem hipóteses para testar posteriormente, e é aí que a generalização é possível.

Para Yin (2004, p.105):

As evidências para um estudo de caso obtêm-se a partir de seis fontes de dados: documentos, registos de arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos. O uso dessas seis fontes requer habilidades específicas e procedimentos metodológicos diferentes.

Assim, no que respeita aos métodos e técnicas de recolha de dados, e dado o objeto deste estudo, recorrer-se-á a:

 técnicas documentais, constituídas por artigos científicos, livros, legislação, e documentos oficiais da entidade em análise; e

 técnicas não documentais, nomeadamente entrevistas aos responsáveis do Departamento de Finanças e Património da Câmara Municipal da Maia.

A recolha da evidência documental é um meio fundamental para definir os objetivos do trabalho e encadear os acontecimentos, tendo como complemento as entrevistas aos responsáveis por forma a absorver a sensibilidade dos envolvidos para as questões essenciais e dar resposta às questões levantadas.

Documentos relacionados