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CAPÍTULO II EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE NO

2.2. Educação Ambiental, Cidadania e Desenvolvimento Sustentável

2.2.1. Perspetivas éticas ambientalistas

Para caracterizar as atitudes do homem face ao ambiente, existem várias correntes filosóficas, de entre as quais se podem salientar o antropocentrismo, biocentrismo e ecocentrismo.

Na perspetiva antropocêntrica, o homem é o centro das preocupações ambientais. Assim, o antropocentrismo pode ser considerado uma visão das relações existentes entre o Homem e o Universo, baseada numa ação dominadora (Esteves, 1998). Neste sentido, a perspetiva sobre o ambiente caracteriza-se por uma visão instrumental da Natureza, ou seja, a Natureza existe para ser explorada ao nível dos recursos aí existentes, para a obtenção da satisfação humana que proporciona o seu bem-estar. O pensamento aristotélico é influenciador, até aos dias de hoje, do pressuposto de que a natureza foi criada para usufruto humano. Para Almeida (2007b), a perspetiva antropocêntrica pode ser sistematizada nas seguintes ideias:

A especificidade humana, fruto das suas capacidades, coloca o Homem numa posição de domínio; O Homem é dono do seu próprio destino, e está nas suas mãos usufruir das potencialidades ilimitadas que o mundo tem para oferecer; O progresso é inerente à história da humanidade, e prova disso é a sociedade tecno-industrial. (p. 31)

Esta perspetiva defende a ideia do domínio humano sobre a natureza, mas assume também medidas conciliadoras com ela. Nenhuns dos direitos humanos básicos, como a liberdade, a felicidade, a justiça, a qualidade de vida, podem ser assegurados sem um bom ambiente. Por isso, para ser saudável e seguro, o ambiente precisa dos contributos das diferentes atividades assumidas pelos ecossistemas (produção de oxigénio, produção de biomassa, depuração dos materiais, entre outras), pelo que tem de manter as condições para que essas funções se concretizem (Almeida, 2007b), procurando “compatibilizar a centralidade humana com a utilização sustentável do mundo natural” (p. 32).

Enquanto o antropocentrismo assecnta nas relações existentes entre o Homem e o Universo, assumindo o Homem uma relação de dominação sobre a natureza. A perspetiva biocêntrica rompe com a ideia da mera atribuição de valor instrumental à Natureza. Neste sentido, a perspetiva biocêntrica reconhece o mérito inerente e valor intrínseco em todos os seres vivos e defende a obrigatoriedade dos seres humanos não ignorarem esse atributo e de não interferirem sobre as outras formas de vida. Ou seja, o biocentismo defende que a característica de estar vivo constitui o critério fundamental do estatuto moral de um ser, independente de estarmos ou não perante seres sencientes. Stenmark (2002, citado em Rosa 2004), define biocentrismo, como sendo “a perspetiva de que o comportamento das pessoas para com a natureza deve ser avaliado com base na forma como afeta os seres vivos (incluindo os humanos) e apenas eles” (p. 113).

Na teoria de Taylor (2001, citado em Rosa, 2004), designada “Perspetiva Biocêntrica da Natureza”, surge um misto de dados científicos e de normas morais que permitem justificar as atitudes de respeito por todas as coisas vivas, baseadas em quatro componentes básicas, nomeadamente:

Os humanos devem ser encarados como membros da comunidade da vida, detendo essa qualidade nos mesmos termos que se aplicam a todos os membros não humanos; Os ecossistemas naturais da Terra devem ser encarados como uma teia complexa de elementos interligados, em que o bom funcionamento biológico de cada ser depende do funcionamento dos demais; Cada organismo individual deve ser

encarado como um centro teleológico de vida, perseguindo o seu próprio bem no seu próprio modo; A pretensão de que os humanos são, por natureza, superiores às outras espécies não tem substância e deve ser rejeitada como nada mais que um preconceito irracional a nosso próprio favor. (p. 117).

Almeida (2007b, citando Schweitzer, 1987) salienta que o homem, “quando se torna um ser pensante, encara a sua vida com reverência e estende-a a todas as outras formas de vida, passando a preservação e promoção da vida a constituir os seus valores mais elevados” (p. 61). Rosa (2004) salienta que todos os animais e plantas têm interesses, os quais os colocam na esfera da consideração moral e refere ainda que autores como Schweitzer e Taylor defenderam o igualitarismo biocêntrico que se pode sintetizar no seguinte:

a) Todos os seres vivos tem um bem próprio que emana das suas necessidades e capacidades biológicas, ou seja, podem ser prejudicados ou beneficiados quer, possam sentir quer não; b) Os seres vivos são dotados de valor inerente, o qual emana do facto de terem um bem próprio, e que constitui um pressuposto básico da atitude de respeito pela natureza; c) Os agentes morais (isto é, as pessoas) devem consideração moral direta às entidades que tem valor inerente (isto é, os seres vivos), e têm o dever básico de promover e preservar o bem próprio dessas entidades com fins em si mesmas. (p. 116)

Por último, há ainda a considerar a perspetiva ecocêntrica, a qual coloca o Homem numa relação diferente com o ambiente natural, abandonando a postura de conquistador e passando a membro da comunidade biótica, numa atitude de respeito para com os seus constituintes e para com a própria comunidade, como um todo. A teoria ecocêntrica tem como pressuposto base que a natureza tem um valor intrínseco e que essa valorização conduz à necessidade de repensar a postura do Homem para além das relações com os seres vivos e estendendo-a a outros elementos como as rochas, o solo, e a água, assim como aos próprios processos de natureza físico-química, geológica e biológica que ocorrem nos ecossistemas.

O ecocentrismo caracteriza-se pela atribuição de um valor não meramente instrumental aos ecossistemas, unidades geradoras da diversidade biótica e fundamentais ao funcionamento da Terra como um todo integrado. Por isso, O ecocentrismo tem tendências diferentes do antropocentrismo e do biocentrismo, visto que a vida, em todas as suas formas e não apenas a humana, é considerada o valor mais expressivo do ecossistema planetário, reconhecendo-se a importância de todos os seres

vivos por si mesmos e para a manutenção do equilíbrio do ambiente. Os seguidores desta teoria valorizam, assim, o conhecimento científico da ecologia, reconhecendo a natureza como uma teia onde tudo e todos estão interligados em dependência mútua.

A Terra tem sido encarada em termos exclusivamente económicos, funcionando como uma fonte de privilégios, sem as correspondentes obrigações, pelo que, para ultrapassar todos estes erros, é necessário uma mudança de atitude (Leopold, 1989, citado em Almeida, 2004). Contudo, inverter essa tendência, no sentido de tentar resolver os problemas ambientais que a Terra enfrenta, requere muita coragem dos Homens, para mudarmos as atitudes face ao ambiente que nos rodeia. É necessária uma nova relação Homem-Natureza, quer do ponto de vista ecológico, quer moral e económico. Daí a importância da mudança de atitudes para um mundo melhor e a pertinência de uma ação educativa que permita infletir as tendências que se têm feito sentir nas sociedades atuais fomentar essa mudança.