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I. INTRODUÇÃO

1.4. Pertinência

As mais recentes projeções da população portuguesa demonstram que o número de indivíduos muito idosos está a aumentar de acordo com outras regiões do mundo (INE, 2009; Rochon et al., 2014). Em Portugal, as tendências no crescimento populacional de indivíduos com 100 anos de idade ou mais, mostrou um índice de aumento da longevidade de 39 % em 1991, para 41 % em 2001, e 48 % em 2011 (INE, 2012).

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Segundo os Censos de 2001, a população residente em Portugal, compreendia 36 063 dos 90 aos 94 anos e 589 indivíduos com 100 ou mais anos de idade (INE, 2011b; Neves, 2008) que, sendo sobreviventes, teriam mais de 100 anos em 2011. Em Portugal Continental, existiam 94 homens e 473 mulheres com 100 ou mais anos à data dos Censos de 2001 (Figura 6).

As projeções da população, considerando um cenário central, estimavam a existência, no ano de 2011 de 570 indivíduos com 99 anos e de 587 centenários, sendo destes, 435 do género feminino, observando-se uma tendência para um envelhecimento demográfico (INE, 2009). Segundo o Correio da Manhã de 12 de Dezembro de 2010, o Instituto de Segurança Social referia existirem 2077 pensionistas acima dos 100 anos de idade.

Segundo os Censos de 2011 (INE, 2012) e de acordo com a população residente em Portugal Continental, verifica-se que existem com 98 anos de idade 466 homens e 1475 mulheres; com 99 anos 366 homens e 978 mulheres e, com 100 ou mais anos de idade, 264 homens e 1210 mulheres, assistindo-se a um crescimento demográfico nesta faixa etária, acima do que fora estimado (Quadro 1).

Figura 6 - Indivíduos do sexo masculino (à esq.) e femininos (à dta.) residentes em Portugal Continental nonagenários e centenários segundo os Censos de 2001.

A população centenária feminina atual é predominante em relação à masculina, tendo havido um crescimento acima de 50 % para ambos os sexos comparando com os Censos de 2001 com o de 2011 (Quadros 2 e 3).

Quadro 2 - População residente em Portugal Continental, total e decenal acima dos 95 anos, segundo o sexo (Censos de 2001).

Quadro 1 - População residente em Portugal, total e com idade igual ou superior a 98 anos, descriminada por idades e sexo (Censos de 2011).

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Quadro 3 - População residente em Portugal Continental, com idade igual ou superior a 98 anos, descriminada por idades e sexo (Fonte: INE, Censos de 2011).

Considerando apenas os indivíduos com 98 e mais anos de idade, verifica-se que representam um número relativamente grande, quer sejam do género masculino quer, e particularmente, do feminino, merecendo toda a nossa atenção (Figura 7).

Figura 7 - População masculina e feminina do presente estudo, residente em Portugal Continental, com idade igual ou superior a 98 anos, descriminada por idades (Censos de 2011).

Este rápido crescimento da população muito idosa, que não está no escopo da maioria dos estudos sobre o envelhecimento, transmite a necessidade de compreender e caracterizar esse grupo, de várias perspetivas, com um propósito de contribuir para o conhecimento do fenómeno da longevidade e perceber alguns dos principais fatores associados a este processo.

Procurando proporcionar bem-estar e saúde às pessoas, no decorrer da vida, tem sentido perceber os condicionantes subjacentes ao envelhecimento para que se possam retardar os seus efeitos mantendo as pessoas idosas num equilíbrio mais adaptativo.

Compreender a influência de fatores como a dieta e a nutrição na longevidade, estudar aspetos mentais e físicos na idade avançada, parece ser relevante não só para promover uma melhor qualidade de vida nestes sobreviventes excecionais como para poder orientar os mais novos.

Este estudo insere-se na continuação de investigação que começou a ser desenvolvida em 1993 com o estudo dos sistemas antioxidantes e doença hipertensiva (Bicho et al., 1993) seguindo-se a pesquisa sobre a hipertensão do idoso (Gorjão-Clara et al., 1994). A partir de então a investigação tem sido orientada para aspetos bioquímicos e genéticos do idoso.

Parece relevante caracterizar a população de centenários em Portugal e estudar variantes genéticas polimórficas, relacionadas com o envelhecimento bem como características do ambiente que possam estar envolvidas na longevidade. Este estudo pode contribuir para uma avaliação do estado global de saúde do idoso, podendo contribuir para o seu bem-estar e melhoria da sua qualidade de vida.

Será importante saber se haverá polimorfismos favoráveis ao envelhecimento humano, nomeadamente se o polimorfismo do ECA pode ou não estar associado à hipertensão e longevidade na população portuguesa, assim como outros relacionados com o risco cardiovascular e o processo oxidativo.

A relevância e pertinência deste trabalho advém de que poderá ser bastante útil, não só às pessoas que irão fazer parte do estudo, que terão oportunidade de partilhar vivências e comunicar eventuais problemas de saúde, mas também à população idosa em geral. Este estudo permite conhecer e compreender melhor o modo de vida, características pessoais, ambientais (incluindo alimentares e

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utilização de plantas com ação terapêutica) e genéticas, associadas a esta faixa etária e tirar ilações que possam contribuir para o conhecimento da vida do muito idoso, visando aumentar a esperança de vida e acima de tudo o bem-estar e a qualidade da mesma, que deve ser proporcionada a todos, em particular aos mais suscetíveis e fragilizados, que são os idosos, nas etapas mais tardias da existência.

Com este trabalho é possível avaliar dados objetivos como parâmetros antropométricos como o IMC, a massa gorda e massa muscular, a massa óssea, a idade metabólica, o nível de gordura visceral e outros parâmetros metabólicos e laboratoriais como o perfil lipídico, a glicemia e o ácido úrico. Permite ainda calcular o consumo de oxigénio pelo miocárdio, e comparar com indivíduos de grupo de controlo.

Este trabalho permite também estimar o risco cardiovascular nos indivíduos do grupo de controlo através da aplicação do QRISK, que faz a avaliação do risco para idades dos 30 aos 84 anos, atendendo à idade, género, etnia, índice de massa corporal, razão colesterol total / colesterol das HDL, presença de hábitos tabágicos presentes ou passados e existência de doenças pessoais como diabetes, doença renal crónica, fibrilhação auricular, hipertensão arterial, artrite reumatóide bem como antecedentes familiares de angina ou ataque cardíaco em parente de 1 º grau com idade inferior a 60 anos (Hippisley-Cox et al., 2008).

Estudar a população centenária portuguesa, poderá contribuir para a compreensão de fatores genéticos, ambientais e sua interação, envolvidos no fenómeno da longevidade humana, havendo ainda poucos trabalhos de pesquisa em Portugal sobre o envelhecimento (Araujo, Ribeiro, Teixeira, & Paul, 2015; D. Brandão, Ribeiro, Afonso, & Paúl, 2017; Duarte, Teixeira, Ribeiro, & Paúl, 2014; Ribeiro, Teixeira, Araújo, & Paúl, 2016). Acresce-se que não existe investigação sobre muitos dos aspetos abordados neste trabalho tais como parâmetros antropométricos, metabólicos, ambientais e genéticos dos indivíduos centenários.

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