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3. INTERAÇÃO DE AVES MARINHAS COM ESPINHEIS

3.3. A Pesca de espinhel no Brasil

O Brasil é um país que possui uma fraca tradição pesqueira apesar do tamanho da costa e área de ZEE. Grande parte da frota industrial existente em águas brasileiras é arrendada, sendo a frota nacional de pequeno tamanho. O historial da frota espinheleira demonstra uma forte influência japonesa, observável tanto nos nomes comuns dos peixes, como nas artes empregues e estrutura das embarcações existentes (Dennis e Arocha 1999).

3.3.1. Breve descrição das correntes ao largo da costa brasileira

Segundo Dennis e Arocha (1999), o regime oceânico ao longo da costa atlântica sul americana é o resultado da interacção de duas grandes correntes. Forma-se a partir da Corrente Equatorial Sul, caracterizada por transportar uma água quente, pobre em nutrientes, que ao colidir com o continente brasileiro, se divide em dois ramos, um dirigindo-se para Norte- a corrente da Guiana e, outro para Sul- a corrente brasileira.

Ao dirigir-se para sul, a corrente brasileira intersecta a corrente fria das Falkland (antigas Malvinas) que se dirige para norte, formando assim a Convergência Subtropical, ou confluência Brasil-Malvinas (Maamaatuauahutapu et al.1992). Esta frente oceânica dinâmica forma-se ao largo do Brasil e Uruguai e apresenta um desvio sazonal de latitude. A mistura da massa de água tropical quente com entradas de água fria do estuário de La Plata (Argentina) e da Lagoa dos Patos (Brasil), resulta numa produtividade sazonal de phytoplankton elevada ao longo da plataforma continental do Brasil e Uruguai, dando origem a elevados níveis de produtividade primária e secundária em determinadas épocas do ano (Dennis e Arocha

1999).

Figura 3- Esquema geral de correntes no Atlântico Sul ((9) Awi-Bremerhaven, 2004).

3.3.2. Breve historial do espinhel no Brasil

A pesca de espinhel pelágica é utilizada no Brasil desde 1958, tendo sido introduzida por japoneses, que desde então têm exercido fortes influências neste meio. Um exemplo óbvio é o nome comum dos peixes capturados, (por ex. o caso do espadarte, Xiphias gladius, que hoje em dia é mencionado a nível nacional como “Meka”, nome de origem japonesa). Esta pesca, tem sofrido várias interrupções e alterações tecnológicas desde a sua introdução no país.

Dados referentes ao número de embarcações existentes indicam que, em 1990, este variou entre as 27 e as 58 embarcações. Em 1997 registraram-se 45 embarcações e em 1998, 58. Estima-se que, de 1980 a 1994, o esforço de pesca tenha aumentado de 2,5 milhões de anzóis/ano para 9 milhões de anzóis/ano. Esta arte é hoje direccionada para a pesca de atum (12%), espadarte (4%) e tubarões (29%) (Olmos, Neves e Bastos 2001).

Em 2004 existiam doze embarcações nacionais de espinhel, tendo oito sede em Santos, São Paulo, quatro em Itajaí, Santa Catarina e, uma em Rio Grande, Rio Grande do Sul.

A pesca de espinhel demersal é uma arte de pesca recente no Brasil introduzida em 1994 através de um projecto realizado pelo Instituto de Pesca de São Paulo. Em 1998 existiam cerca de 35 barcos de pesca com espinhel demersal com base nos portos de Vitória, Rio de Janeiro, Santos, Itajaí e Rio Grande. Tem como espécies alvo o cherne, (Epinephelus spp.), namorados, (Percophis sp.), e batatas. (Olmos et al. 2001).

3.3.3. Capturas acidentais de aves marinhas na costa brasileira

Este é um estudo relativamente recente, e com necessidade de maior acompanhamento.

A composição qualitativa e quantitativa dos bandos de aves em redor de espinheis em águas brasileiras é sazonal. A maior diversidade ocorre durante o verão brasileiro enquanto que a maior quantidade de aves acompanhantes ocorre nos meses de inverno (Olmos 1996).

Estas alterações anuais na composição dos bandos vão, dar origem a flutuações nas taxas de captura acidentais, tanto pelo espinhel pelágico como demersal.

Por tal, é necessário complementar os estudos de seguida apresentados, para uma melhor noção da realidade existente.

3.3.3.1. Espinhel pelágico (ou de superfície)

Segundo Olmos et al. 2001, o cálculo da mortalidade provocada por espinheleiros pelágicos foi feito com base em dados de três investigações: 120 campanhas de pesca entre 1994 e 1999 tendo sido utilizados 1.529.312 anzóis em 1.350 lances, os dados recolhidos por barcos pesqueiros provenientes de Santos (estima-se que os resultados apresentados estejam subestimados visto terem sido realizados pelos pescadores e sem a observação directa a bordo); através de seis campanhas realizadas pelo navio de pesquisa oceanográfica Atlântico sul entre 1996-98, dentro do âmbito do projecto ARGO, de avaliação do stock de peixes pelágicos e, através de um estudo realizado por Teodoro Vaske em 1991, após a realização de um embarque de 52 dias. A extrapolação destes dados permitiu calcular o número médio de aves mortas, sendo: 3.084 Procellaria aequinoctialis, 1.623 Thalassarche melanophrys, 690 Thalassarche chlororhynchos, 568 Procellaria conspicillata, 243 Diomedea exulans, 1 2 2 Puffinus gravis, 41 Fulmarus glacialoides e 41 Diomedea dabbenena. Além destes valores existem em média, 243 Procellaria não especificados (aequinoctialis ou conspicillata) (Olmos et al. 2001).

Em 2002, no âmbito do Projecto Albatroz, seis campanhas de barcos de espinhel a pescar no sul-sudeste brasileiro foram monitorizadas por observadores do Projeto

Albatroz. O esforço total de captura foi de 102.250 anzóis em 86 lances, tendo sido capturadas 23 aves (19 T. melanophris, 1 T. chlororhynchos e 3 Procellaria aequinoctialis). Estes números correspondem a 0,225 aves/1000 anzóis, uma taxa de captura muito superior aos 0,05 aves/1000 anzóis aceitos internacionalmente. (Neves et al. 2004).

3.3.3.2. Espinhel demersal (ou de fundo)

De acordo com Olmos et al. (2001), o impacto da frota brasileira de espinhel de fundo nas aves marinhas foi pela primeira vez estudado entre 1994-95, tendo sido os dados recolhidos pelo navio de pesquisa Orion, pertencente ao Instituto de Pesca de São Paulo. A recolha de dados prosseguiu nos anos de 1996-1997 pelo barco pesqueiro Margus II através do programa REVIZEE (Avaliação do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva Brasileira).

Verificou-se serem cinco as espécies mais afectadas: Puffinus gravis, Thalassarche chlororhynchos, Procellaria aequinoctialis, Procellaria conspicillata e Thalassarche melanophrys, indicadas por ordem decrescente de número de aves capturadas. Tendo como base o número de embarcações existentes, esforço de pesca dos espinheleiros, e os dados obtidos por estas duas expedições de investigação, foi possível calcular através de uma estimativa, o número de aves capturadas para a década de 90. Verificou-se então que, anualmente, durante este período, a frota brasileira de espinheleiros de fundo causou uma mortalidade média de: 2,568 Puffinus gravis, 724 Procellaria aequinoctialis, 197 Procellaria conspicillata, 395 Thalassarche chlororhynchos e 329 Thalassarche melanophrys, dentro da ZEE brasileira.

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