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2. Dados SGIP

5.4 Peso das campanhas presidenciais

Por fim, uma análise interessante de ser feita é a distribuição de recursos por cargo disputado. O resultado é mostrado no Gráfico 8 abaixo. Cada cargo está representado por uma cor e a extensão de cada barra é proporcional ao valor destinado àqueles cargos.

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Algumas candidaturas à presidência consumiram uma quantidade considerável de recursos do partido para um retorno em votos desprezível. É o caso do PPL com João Goulart Filho, cuja candidatura consumiu quase 50% dos fundos públicos aos quais o partido tinha acesso, mas o candidato foi o último colocado, tendo recebido 0,03% dos votos válidos.

Candidatos presidenciáveis possuem um papel muitas vezes simbólico de encabeçar a divulgação das ideias do partido, entretanto, é importante compreender que quanto maior o custo dessas campanhas menos recursos serão disponibilizados para candidatos ao legislativo.

No caso do DC, há um fator preocupante: o candidato à presidência é, também, o presidente do partido. Ou seja, a depender do grau de influência desse dirigente sobre a executiva nacional, pode ocorrer dos recursos públicos serem utilizados para beneficiar uma candidatura presidencial com fins personalísticos, sem chances de vitória ou qualquer retorno positivo ao partido.

Por fim, cabe falar na preferência de alguns partidos para campanhas de deputados federais sobre os demais cargos, inclusive cargos majoritários. O art. 16-D da lei das eleições prevê que:

Art. 16-D. Os recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), para o primeiro turno das eleições, serão distribuídos entre os partidos políticos, obedecidos os seguintes critérios:

I - 2% (dois por cento), divididos igualitariamente entre todos os partidos com estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral;

II - 35% (trinta e cinco por cento), divididos entre os partidos que tenham pelo menos um representante na Câmara dos Deputados, na proporção do percentual de votos por eles obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados;

III - 48% (quarenta e oito por cento), divididos entre os partidos, na proporção do número de representantes na Câmara dos Deputados, consideradas as legendas dos titulares;

IV - 15% (quinze por cento), divididos entre os partidos, na proporção do número de representantes no Senado Federal, consideradas as legendas dos titulares.

Ou seja, para aqueles partidos que buscam aumentar seu percentual recebido do fundo eleitoral, o pleito para a câmara dos deputados prova-se essencial. Por esse motivo, líderes de grandes partidos como PT, PSDB E MDB acusaram partidos menores de estarem realizando “leilões de fundo” em 2018 para que deputados trocassem de siglas nas eleições daquele ano (MARIA LIMA, 2018). A prática revela um possível motivo de preocupação com o desenho distributivo da lei de fundo eleitoral atual.

6 CONCLUSÃO

O objetivo desse trabalho consistia em verificar o grau de concentração da escolha de distribuição dos fundos públicos para as campanhas eleitorais. Tanto para as eleições de 2016

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quanto para as de 2018 foi observado um alto nível de discricionariedade aplicado a um pequeno grupo de líderes partidários. Em 2016, considerável parte dos valores repassados teve como fonte comissões provisórias, que não possuem um caráter democrático dentro das formas de organização dos partidos.

Também foi verificada uma participação ínfima de recursos destinados às mulheres no mesmo pleito, podendo refletir a falta de representatividade desse grupo nos comandos das siglas. Além disso, constatou-se que diversos candidatos beneficiados com altas somas de recursos possuíam vínculos formais com a executiva nacional, reforçando os riscos do modelo atual de distribuição de recursos.

Em 2018, a maior parte da distribuição ficou a cargo da executiva nacional, sem qualquer processo de ratificação dessa decisão pelos demais filiados ao partido. A exigência do TSE de que o fundo eleitoral fosse repassado após deliberação formal prévia para as regras de distribuição interna do partido trouxe mais transparência ao processo, mas sem reflexos na melhora democrática dessa escolha.

Os valores repassados aos partidos provêm de uma fonte pública, distribuídos com o propósito de concretizar princípios constitucionais que beneficiem a sociedade brasileira, notadamente o princípio da democracia. Não se trata de uma contraprestação por serviços prestado pelos partidos para que esses tenham ampla discricionariedade sobre sua utilização após receber os valores. Portanto, é possível indagar a aceitabilidade de um grupo pequeno de oligarcas determinar livremente o gerenciamento desses valores.

Considerando a fonte pública desses recursos bem como as altas cifras que os compõem, o retrato apresentado contribui para o debate acerca da necessidade de regras mais rígidas para prever a distribuição desses recursos. Com a existência do fundo eleitoral, dirigentes partidários passaram a ser gerentes exclusivos dos cofres que irão fomentar as campanhas eleitorais, impactando diretamente o resultado eleitoral. Ainda que os partidos possuam certo grau de autonomia, cabe o questionamento se tamanha concentração traria benefícios para a democracia brasileira.

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