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Diante dos métodos etnográficos de observação participante e de entrevistas, é possível registrar o não documentado, isto é, revelar os encontros e desencontros que penetram o cotidiano da prática escolar, relatar as atividades e representações dos seus atores sociais, sua linguagem, suas maneiras de comunicação e os significados que são construídos e reconstruídos na rotina do seu fazer pedagógico.

Perante as principais características de uma pesquisa etnográfica e sua conexão com a educação André (2012) retrata assim:

A etnografia é um esquema de pesquisa desenvolvido pelos antropólogos para estudar a cultura e a sociedade. Etimologicamente etnografia significa “descrição cultural”. Para os antropólogos, o termo tem dois sentidos: (1) um conjunto de técnicas que eles usam para coletar dados sobre os valores, os hábitos, as crenças, as práticas e os comportamentos de um grupo social; e (2) um relato escrito resultante do emprego dessas técnicas (ANDRÉ, 2012, p. 27).

A flexibilidade inata no campo da observação na etnopesquisa dá ao investigador um ambiente concreto para atingir, de uma maneira um tanto quanto favorável, a dinamicidade das existências humanas. Assim define Macedo (2004)

O trabalho de campo assume, em geral, um contínuo processo de reflexão e mudança de foco de observação, o que permite ao pesquisador testemunhar as ações

das pessoas em diferentes cenários. Tal flexibilidade permite, ademais, que objetivos, questões e recursos metodológicos sejam retomados, assim, como as articulações com a teoria, dependendo da dinamicidade e das orientações que surgem do movimento natural da realidade investigada. Assim, a flexibilidade no ato de pesquisar é uma das condições para a autencidade e o sucesso de uma pesquisa, onde a observação participante seja um recurso significativo (MACEDO, 2004.p, 158).

A pesquisa etnográfica segundo Lapassade (2005) pode ser descrita:

Como “um encontro social”, como, aliás, é feito na tradição interacionista, em que se considera, precisamente, que o trabalho de campo pode ser ele mesmo o objeto de uma sociologia. A maioria dos manuais e coletas de etnossociologia, recentemente publicados, leva-o em consideração (LAPASSADE, 2005, p.82).

André (2012) mostra a pesquisa do tipo etnográfico: “que se caracteriza fundamentalmente por um contato direto do pesquisador com a situação pesquisada, permite reconstruir os processos e as relações que configuram a experiência escolar diária” (ANDRÉ, 2012, p.41). Este mesmo autor evidencia os mecanismos para pesquisas que condizem com essa realidade:

Esse tipo de pesquisa permite, pois, que se chegue bem perto da escola para tentar entender como operam no seu dia a dia os mecanismos de dominação e de resistência, de opressão e de contestação ao mesmo tempo em que são veiculados e reelaborados conhecimentos, atitudes, valores, crenças, modos de ver e de sentir a realidade e o mundo (ANDRÉ, 2012, p. 41).

Analisar a escola profundamente constitui fazer parte da prática das relações e conexõesque compõem o seu cotidiano, abrangendo as forças que a incentivam ou que a atêm, distinguindo os alicerces de poder e as formas de sistematização do trabalho escolar, envolvendo o papel e o desempenho de cada indivíduo diante do complexo conhecimento que engloba as atividades, afinidades e conteúdos formados, recusados, reorganizados ou alterados.

Ecket e Rocha (2008) afirmam:

A etnografia como método de investigação das modernas sociedades complexas como método de investigação, influenciou as formas de se fazer pesquisa entre os sociólogos da Escola de Chicago. Este grupo de sociólogos americanos e europeus tinha por interesse comum nos anos 30 do século XX, desenvolver um método e conceitos pertinentes para tratar do fenômeno urbano e industrial(ECKET e ROCHA, 2008, p. 11-12).

Diante desse entendimento, o pesquisador pode procurar situações para entender o sentido evidente e reprimido das condutas dos sujeitos, ao mesmo tempo que busca sustentar sua interpretação prática do fenômeno. Para Lüdke e André (1986): “o pesquisador deve

exercer o papel subjetivo de participante e o papel objetivo de observador, colocando-se numa posição ímpar para compreender e explicar o comportamento humano” (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 15).

A realização da etnografia trouxe para o campo do debate, atualmente, os pontos da reparação etnológica, ou seja, o regresso à turma pesquisada das informações e elementos que o etnógrafo deles obteve durante o tempo que ficou com eles.

Desse modo, André (2012) vê a escola como:

Espaço social em que ocorrem movimentos de aproximação e de afastamento, onde se criam e recriam conhecimentos, valores e significados vai exigir o rompimento com uma visão de cotidiano estática, repetitiva, disforme, para considerá-lo, como diria Giroux (1986), um terreno cultural caracterizado por vários graus de acomodação, contestação e resistência, uma pluralidade de linguagens e objetivos conflitantes (ANDRÉ, 2012, p.41).

Contudo neste estudo de campo existe uma discussão e uma indagação contínua sobre o referencial teórico e uma variável explicitação no decorrer dos anos de trabalho, e de acordo com o nível de conhecimento já existente em relação aos aspectos pesquisados e o que está sendo revelado no transcorrer do estudo.

Os saberes inerentes dos estudantesobtidos fora da escolanão podem ser desprezados. Como diz André (2012):

Têm mostrado que existe um saber que vai sendo construído pelos professores com base nas situações concretas encontradas no seu ambiente de trabalho e que estão relacionadas ao tipo de aluno que eles têm, às condições e aos recursos institucionais, às representações que eles vão gerando sobre o seu trabalho, as quais por sua vez decorrem de suas experiências vividas – seu meio cultural, sua prática social, sua origem familiar e social, sua formação acadêmica (ANDRÉ, 2012, p. 81).

Para Lapassade (2005),a tarefa do etnógrafo:

De modo geral, [...] é ouvir o que dizem as pessoas a respeito de suas atividades cotidianas, registrar seus comentários e relatos, encontrar informantes (sem se limitar a isso, como faziam, às vezes, ou fazem alguns antropólogos). A descrição final da vida do grupo será elaborada, principalmente, a partir desse conjunto de campo, e trabalhados a seguir, ou simultaneamente. Esta coleta é, portanto, o fruto de múltiplos encontros e interações cujas formas podem ser categorizadas. (LAPASSADE, 2005, p.84).

Contudo Fino (2003) afirma que nenhum indício que vai levantando será alguma vez tão notório quanto isso:

O êxito da investigação etnográfica decorre em grande medida da capacidade interpretativa do investigador, o que, se é verdade que lhe atribui, aparentemente pelo menos, grande liberdade na mobilização dos instrumentos teóricos de análise, tem o inconveniente de o deixar à mercê dessa capacidade interpretativa, bem como do risco de uma subjectividade que nunca é completamente controlada (FINO, 2003, p.11).

O campo foi estudado durante 7 meses, compreendendo os meses de fevereiro, março, abril, maio, junho, julho e agosto de 2018, uma vez por semana, de acordo com ohoráriodas aulas de História da turma do 3º Ano “A”, conforme a figura 1.

Figura 1 - Horário da turma do 3º Ano “A” da Escola Coronel José Abílio.