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PESQUISA DE ORÇAMENTOS FAMILIARES (POF) 2008-2009

No documento Dalva Coutinho - tese (páginas 98-104)

6.1 A Pesquisa

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou, em parceria com o Ministério da Saúde e o Banco Mundial, no âmbito do Projeto de Assistência Técnica de Desenvolvimento Humano (HDTAL), um estudo denominado Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009. Essa publicação procura informações sobre antropometria e análise do estado nutricional da população residente no país. Para tanto, foram analisados os dados de mais de 188 mil pessoas de todas as faixas etárias (crianças, adolescentes, adultos e idosos).

Os resultados foram comparados com as pesquisas do Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF) de 1989, da Pesquisa Nacional Sobre Saúde e Nutrição (PNSN), e a POF (2002-2003), para obtenção de uma tendência secular das variações de peso da população. Na análise, foram utilizados padrões comparativos estabelecidos pela OMS.

A análise dos dados mostra que a população tem tido um considerável aumento de peso nos últimos anos, sendo que, em 2009, as crianças de 5 a 9 anos estavam acima do peso recomendado pela OMS. O déficit de altura, um dos mais importantes indicadores de desnutrição, caiu de forma geral, passando de 29,3% (1974-1975) para 7,2% (2008-2009), entre meninos, e de 26,7% para 6,3%, para meninas. Porém, valem anotar que, na área rural da Região Norte, os indicadores apontam para uma redução mais lenta, de 16% para os

meninos e 13,5% para as meninas.

A pesquisa revelou dados alarmantes para a saúde pública, registrando uma explosão no número de crianças de 5 a 9 anos com excesso de peso nos últimos 34 anos: no período entre 2008 e 2009, 34,8% das crianças do sexo masculino estavam com o peso acima do recomendado pela OMS. Todavia, em 1989, essa porcentagem era de 15%, e entre 1974 e 1975, de apenas 10,9%. O mesmo padrão se repete entre as meninas, que registraram índices de 8,6% na década de 1970, passando para 11,9% no final dos anos 1980 e chegando aos 32% entre 2008 e 2009.

Gráfico 3-Evolução de Indicadores Antropométricos na População de 5 a 9 anos de idade, por sexo: Brasil, períodos 1974-1975, 1989 e 2008-2009

A pesquisa também revelou que na Região Centro-Oeste, houve um grande avanço no número de meninos com excesso de peso nos anos que vão de 1989 a 2009, passando de 13,8% para 37,9%. Entre as meninas, a campeã no excesso de peso foi a Região Sudeste, que saltou em dez anos de 15% para 37,9%, seguindo na dianteira também nos índices de obesidade infantil: no POF 2008-2009, registraram-se índices de 20,6% de meninos obesos. Por outro lado, os índices menos expressivos de obesidade em crianças de 5 a 9 anos foram encontrados na Região Norte, sendo que, para os meninos, tem-se a porcentagem de 11,4%. Entre as meninas, a região com os melhores resultados foi a Nordeste, com 8,9%.

A pesquisa mostrou ainda que, desde 1989, entre os meninos de 5 a 9 anos de idade, nas famílias dos 20% da população com menor renda, houve um forte crescimento daqueles com excesso de peso, passando de 8,9% para 26,5%. Na faixa de maior rendimento, o aumento notado foi de 25,8% para 46,2%, no mesmo período. A obesidade, que atingia 6% dos meninos das famílias de maior renda entre 1974 e 1975, e 10% em 1989, apresentaram índices de 23,6% entre 2008 e 2009.

7.1.1 Estado Nutricional de Crianças de 5 a 9 anos (POF)

A avaliação do estado nutricional da população de crianças de 5 a 9 anos de idade, estudada pela POF 2008-2009, levou em conta os índices antropométricos altura-para-idade e Índice de Massa Corporal, IMC-para-idade. A partir desses índices, calculados sempre com o

emprego da distribuição de referência OMS (ONIS et al., 2007), foram estimadas as prevalências de déficit de altura, déficit de peso, excesso de peso e obesidade.

Déficit de altura na faixa etária de 5 a 9 anos correspondeu, como no caso dos menores de 5 anos de idade, a índices altura-para-idade inferiores a -2 escores z da distribuição de referência. Deve-se notar que déficits de altura revelam atraso no crescimento linear da criança ocorrido em algum momento desde o seu nascimento ou mesmo durante sua gestação (WOLRD HEALTH ORGANIZATION, 1995). Como a ocorrência do atraso no crescimento incide em particular nos primeiros dois anos de vida, a prevalência de déficit de altura em crianças de 5 a 9 anos de idade, em 2008-2009, deve refletir, sobretudo a magnitude da desnutrição infantil que prevalecia no País na primeira metade da década de 2000. Diferentemente, portanto, da prevalência de déficit de altura registrada nos menores de 5 anos de idade, indicativa da situação nutricional na segunda metade da década de 2000.

O déficit de peso em crianças de 5 a 9 anos de idade foi diagnosticado por valores de IMC-para-idade inferiores a -2 escores z da distribuição de referência, indicando nesse caso quadro atual de desnutrição (ONIS et al., 2007). Excesso de peso e obesidade, na mesma faixa etária, foram diagnosticados por valores do IMC-para-idade iguais ou superiores a 1 ou 2 escores z, respectivamente (Onis et al., 2007).

A Tabela 4 apresenta estimativas para crianças de 5 a 9 anos de idade estratificadas por sexo e segundo os intervalos de idade.

A prevalência de déficit de altura na faixa etária de 5 a 9 anos foi de 6,8%, sendo ligeiramente maior em meninos (7,2%) do que em meninas (6,3%) e tendendo a diminuir com a idade. Conforme mencionado, a prevalência de déficit de altura nessa faixa etária reflete, sobretudo, a magnitude da desnutrição infantil na primeira metade da década de 2000.

Déficit de peso foi diagnosticado em 4,1% das crianças, com pouca variação entre os sexos e segundo os grupos de idade. Excesso de peso foi diagnosticado em cerca de um terço dos meninos e meninas, excedendo, assim, em mais de oito vezes a frequência de déficit de peso. Quadros de obesidade correspondeu a cerca de um terço do total de casos de excesso de peso no sexo feminino e a quase metade no sexo masculino.

Tabela 4 - - Indicadores antropométricos na população de 5 a 9 anos de idade, com base na distribuição de referência da Organização Mundial de Saúde – OMS, por sexo segundo a idade –Brasil – período 2003 -2009

Idade

Indicadores antropométricos na população de 5 a 9 anos de idade(%)

Total Sexo

Déficit de Altura Masculino Feminino

Total 6,8 7,2 6,3 5 anos 9,9 9,8 10,1 6 anos 6,2 7,1 5,1 7 anos 7,2 8,0 6,3 8 anos 6,1 6,6 5,5 9 anos 5,1 5,1 5,0 Déficit de Peso Total 4,1 4,3 3,9 5 anos 5,0 4,8 5,1 6 anos 4.1 4,6 3,6 7 anos 4,4 5,4 3,4 8 anos 3,4 3,4 3,3 9 anos 3,8 3,4 4,3 Excesso de Peso Total 33,5 34,8 32,0 5 anos 32,8 31,7 34,0 6 anos 31,0 33,1 28,7 7 anos 34,3 36,3 32,2 8 anos 33,2 34,6 31,8 9 anos 35,6 37,5 33,4 Obesidade Total 14,3 16,6 11,8 5 anos 16,2 16,9 15,4 6 anos 14,5 16,4 12,5 7 anos 15,6 18,6 12,4 8 anos 13,6 17,7 9,4 9 anos 12,2 13,9 10,3

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009.

A Tabela 5 apresenta estimativas para crianças de 5 a 9 anos de idade estratificadas por sexo e segundo a região e a situação de domicílio.

Tabela 5 - Indicadores Antropométricos na população de 5 a 9 anos de idade, com base na distribuição de referência da Organização Mundial da Saúde – OMS, por sexo e situação do domicílio, segundo as Grandes Regiões período 2008-2009.

Grandes Regiões

Indicadores Antropométricos na população de 5 a 9 anos de idade, por sexo e situação do domicílio(%)

Masculino Feminino

Total Situação de Domicílio Total Situação de Domicílio

Urbana Rural Urbana Rural

Déficit de Altura Brasil 7.2 6,8 8,9 6,3 5,8 8,1 Norte 12,2 10,5 16,0 10,3 8,8 13,5 Nordeste 7,9 7,8 8,3 6,9 6,1 9,0 Sudeste 6,2 6,5 6,5 5,3 5,4 4,6 Sul 4,7 6,3 6,3 4,0 4,2 3,1 Centro- Oeste 6,8 6,1 6,1 7,4 7,2 9,1 Déficit de Peso Brasil 4,3 4,1 4,7 3,9 4,0 3,5 Norte 4,9 5,8 2,8 3,5 3,9 2,6 Nordeste 5,5 5,1 6,3 4,6 4,9 3,7 Sudeste 3,4 3,2 4,7 3,5 3,4 4,1 Sul 2,5 2,6 1,7 3,7 3,9 3,0 Centro- Oeste 5,8 6,1 3,9 4,1 4,2 3,2 Excesso de Peso Brasil 34,8 37,5 23,9 32,0 33,9 24,6 Norte 26,6 30,6 17,6 24,7 27,8 18,0 Nordeste 30,3 35,2 19,0 26,0 28,9 19,0 Sudeste 39,7 40,3 34,3 37,9 38,0 36,8 Sul 36,3 36,6 34,7 35,5 35.7 34,4 Centro- Oeste 37,9 39,9 27,2 32,4 33,5 25,2 Obesidade Brasil 16,6 18,3 9,7 11,8 12,9 7,5 Norte 11,4 13,8 6,1 9,4 10,9 6,3 Nordeste 13,2 15,6 7,7 8,9 10,9 4,1 Sudeste 20,6 21,2 15,1 13,6 14,0 10,4 Sul 16,7 17,4 13,4 16,2 16,0 16,8 Centro- Oeste 17,5 18,5 11,6 10,3 10,6 8,5

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa de Orçamento Familiares 2008-2009.

A prevalência de déficit de altura foi máxima na Região Norte (12,2% em meninos e 10,3% em meninas) e mínima na Região Sul (4,7% e 4,0%, respectivamente, em

meninos e meninas). Prevalências próximas à média nacional de 7% foram encontradas em meninos e meninas das Regiões Sudeste e Centro-Oeste e, também, naqueles da Região Nordeste. Este padrão de distribuição regional do déficit de altura na faixa etária de 5 a 9 anos reproduz o padrão observado em menores de 5 anos, denotando, assim, a ausência de mudanças na distribuição regional da desnutrição infantil entre a primeira e a segunda metade da década de 2000.

Entretanto, diferentemente do observado para menores de 5 anos, nos dois sexos, a frequência do déficit de altura em crianças de 5 a 9 anos de idade tendeu a ser maior no meio rural do que no meio urbano. A situação das crianças de 5 a 9 anos de idade no meio rural

se mostrou particularmente desvantajosa na Região Norte, onde 16,0% dos meninos e 13,5% das meninas apresentavam déficit de altura em comparação a 10,5% e 8,8%, respectivamente, no meio urbano. A desigualdade urbano-rural evidenciada na faixa etária

de 5 a 9 anos, mas não entre menores de 5 anos de idade, indica tendência de diminuição de desigualdades sociais na desnutrição infantil da primeira para a segunda metade da década de 2000.

A prevalência de déficit de peso na faixa etária de 5 a 9 anos foi baixa em todas as regiões, oscilando ao redor da média nacional de 4%. Nesse caso, não foram detectadas diferenças sistemáticas entre domicílios urbano e rural.

A prevalência de excesso de peso oscilou de 25% a 30% nas Regiões Norte e Nordeste (mais do que cinco vezes a prevalência do déficit de peso) e de 32% a 40% nas

Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste (mais do que dez vezes a prevalência do déficit de peso). O excesso de peso tendeu a ser mais frequente no meio urbano do que no meio rural, em particular nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Com magnitudes menores, a prevalência da obesidade mostrou distribuição geográfica semelhante à observada para o excesso de peso.

CAPÍTULO IX - METODOLOGIA

No documento Dalva Coutinho - tese (páginas 98-104)