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2. O MÍDIUM E AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO

2.2. A exposição Laborar: Trabalho em São Carlos e suas condições de produção

2.2.1. Museografia e curadoria: o que expor e transmitir, como expor e transmitir

2.2.1.1. Pesquisa: o que expor e o que transmitir

A pesquisa é, sobretudo, um momento de direcionamento e busca daquilo que o museu pretende expor a partir do projeto da curadoria e, portanto, da produção de um discurso da exposição. É nessa etapa da produção da exposição que a equipe seleciona o conteúdo e começa a pensar nele e nas possibilidades de exposição de todo o assunto que será abordado, para fazer um trabalho de rearranjo material das expressões e dos significados, da essência de toda a pesquisa, em suportes capazes de sensibilizar o público.

O trabalho de pesquisa da equipe do museu se concentrou no estudo de textos acadêmicos que abordassem os diferentes períodos da história do trabalho, iniciando por textos filosóficos, passando por textos sobre a história do trabalho no Brasil, em que se buscou fazer um estudo sobre as leis trabalhistas no país desde seu surgimento até o momento atual. Foi feita, ademais, uma pesquisa focada na história do trabalho das mulheres.

A maior parte da pesquisa, entretanto, concentrou-se em buscar textos acadêmicos que abordassem a história da cidade de São Carlos em uma perspectiva de análise do surgimento das indústrias, do comércio e sua importância na urbanização e na construção dos bairros mais tradicionais da cidade. Textos sobre a fundação da cidade na metade do século XIX, sobre a escravidão na região, a vinda das famílias de imigrantes para as lavouras e posteriormente a mudança dessas famílias para a cidade, a chegada das tecnologias e da urbanização nas cidades do interior, além da mudança geográfica da cidade devido à urbanização, são alguns dos exemplos de leitura que foram feitas para a pesquisa da exposição com o objetivo de buscar informações a respeito da história do trabalho especificamente na cidade de São Carlos.

Depois desse primeiro processo de pesquisa acadêmica, surgiu a necessidade, por parte da curadoria, de dividir esses assuntos em conteúdos por sala, já pensando na transmissão dos conteúdos da exposição, a partir da materialidade do espaço expositivo do Museu de São Carlos, avaliando como se daria a produção dos textos que estariam presentes em cada sala do museu, de forma que esses textos pudessem também nortear os conteúdos da exposição de uma forma lógica e cronológica, se baseando naquelas primeiras concepções27 sobre a abordagem do tema.

Com o estabelecimento desses objetivos, algumas das primeiras concepções sobre como seria a exposição foram sendo modificadas ao longo de todo o processo de pesquisa e expografia que se iniciou em 2017. Novamente foi se tornando necessário alterar alguns conteúdos e inserir outros para que pudessem ser introduzidos acertadamente no espaço que abrigaria a exposição. No início, dividiu-se a exposição em 5 salas e mais ou menos 5 conteúdos diferentes. No momento da expografia, foi necessário fazer um rearranjo devido à quantidade de conteúdos que seriam abordados, e as 5 salas foram transformadas em 7 salas. O espaço do museu não sofreu nenhuma reforma, mas a equipe decidiu aproveitar a sala do educativo – espaço para desenvolvimento de atividades de ordem pedagógica e lúdica –, que estava sendo inutilizada, e a última sala do museu, onde ficava exposta permanentemente a carruagem (símbolo e objeto histórico mais significativo do museu para o público), também foi incluída na exposição. Foi acordado que as salas seguiriam os seguintes conteúdos:

Sala 1 - Fundação da cidade de São Carlos, trabalho nas lavouras e trabalho escravo; Sala 2 - Industrialização e urbanização da cidade de São Carlos;

Sala 3 - Mulheres e sua relação com o trabalho; Sala 4 - Leis trabalhistas;

Sala 5 - Ofícios da arte; Sala 6 - Indústria e tecnologia; Sala 7 - O trabalho na atualidade.

Distribuir o conteúdo encontrado nas pesquisas pelas salas do Museu de São Carlos foi um primeiro passo da materialização dessa exposição no espaço expositivo: refletir sobre

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Ofícios industriais e agrários, ou seja, profissões ligadas à indústria, desde seu surgimento até sua consolidação na cidade; ofícios do campo diante da agricultura atrelada à indústria; ofícios urbanos, da década de 1910 até 1950, entendidos como profissões atreladas ao início da urbanização e ainda não responsáveis por grandes produções, mas sim pelo consumo – como consequência do desenvolvimento da cafeicultura; e ofícios tecnológicos – profissões que surgiram diante do avanço da tecnologia, das pesquisas e das universidades após a década de 1950.

como cada conteúdo irá se relacionar com o espaço e qual seria a melhor forma de iniciar e finalizar a exposição. Observa-se que existe uma questão cronológica que foi levada em consideração, em que a exposição se inicia com a fundação da cidade e no campo, com as formas de trabalho escravocratas e depois vai caminhando para o processo de industrialização, crescimento e urbanização da cidade até chegar aos avanços das tecnologias e às formas atuais de trabalho. Existe um caminho que é percorrido na exposição do museu histórico que procura trazer para o público essa linha cronológica dos acontecimentos, construindo um pedaço da história no espaço do museu, abordando esses assuntos de forma específica.

Com o início do desenvolvimento da pesquisa e a produção dos textos, houve a necessidade de pensar no inventariamento da exposição, ou seja, houve a necessidade de voltar a atenção, primeiramente, para os objetos do acervo que seriam expostos, com a intenção de que estes pudessem direcionar a produção dos textos sobre o tema do trabalho. O inventariamento é, também, uma prática de pesquisa e ação por parte da equipe do museu, uma vez que esse é um trabalho de levantamento dos objetos, fotografias e documentos históricos do acervo do museu que estão dentro do tema da exposição e poderão ser expostos; a equipe responsável pela pesquisa e curadoria (no caso, a historiadora do museu) fez uma visita à reserva técnica do museu e lá, junto à museóloga, analisa os objetos que poderão contemplar os conteúdos que serão abordados na exposição, faz uma busca no acervo fotográfico, em almanaques, revistas e antigos jornais da cidade, listando todos os elementos relacionados ao tema da exposição.

Depois de especificar esses objetos, documentos e fotografias, iniciou-se o processo de escrita dos textos, já estruturados a partir da divisão das salas e da escolha do acervo, pensados de forma mais prática e assertiva, uma vez que foram produzidos e estruturados a partir do espaço expositivo e dos conteúdos de cada sala. O texto é um material verbal que está, na maioria das vezes, presente nas exposições como concretização de um pensamento, para descortinar e salientar determinados assuntos que a curadoria julga importantes de serem comunicados aos visitantes. No início, foi pensado que cada sala teria cerca de dois textos, cada texto com cerca de uma lauda (de 1.800 caracteres) de tamanho. Mais adiante, na discussão sobre a expografia, veremos certas mudanças que envolvem esses textos e, depois, faremos uma reflexão a respeito dessas mudanças e dos suportes transmissores que elas envolvem.