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3 A PÓS-MODERNIDADE E A DOENÇA MENTAL

4.2 PESQUISA QUALITATIVA

A sociologia compreensiva permite a abordagem qualitativa porque procura descrever e compreender os fenômenos de forma ampla, partindo de método indutivo. A pesquisa qualitativa, ao contrário do modelo experimental, concebe o pesquisador implicado no objeto e no processo de conhecimento. Esse tipo de investigação obedece ao igo ie tífi o e pode se efe i a todas as pes uisas ue p ivilegia a i te p etaç o de dados, e luga de sua e su aç o . SANTAELLA, , p. .

Enquanto a pesquisa quantitativa visa medir e enumerar os fenômenos como, por e e plo, a pes uisa de opi i o, a i vestigaç o ualitativa se o upa e o te dados des itivos so e pessoas, luga es e p o essos i te ativos GODOY, , p. e p essup e o contato direto do pesquisador com a situação estudada. Os estudos qualitativos procuram indicar os sentidos dos fenômenos considerando a realidade complexa.

Os métodos adequados às ciências naturais não podem ser aplicados às ciências humanas, cujo objeto é o próprio homem e suas especificidades como a razão, as emoções e o comportamento, entre outras. O estabelecimento de leis universais mediante a observação empírica não dá conta de descrever e interpretar os fenômenos ligados ao ser humano. Tampouco as frequências estatísticas são suficientes para compreender a realidade social. Na segunda metade do século XIX, Wilhelm Dilthey procurou estabelecer métodos que fundamentassem as ciências humanas. O filósofo se opôs ao positivismo comtiano e ao idealismo hegeliano.

A corrente positivista das ciências humanas surgiu a partir do empirismo inglês, representado por Francis Bacon, e se desenvolveu com os franceses August Comte e Émile Durkheim. Estes autores aplicavam às ciências humanas a mesma base metodológica das i ias atu ais. Co te de o i ou a ova i ia de físi a so ial ue estuda ia as leis que comandam as estruturas e a dinâmica social.

As ciências exatas se baseiam na metodologia de Kant que, criticando a metafísica, teria transformado a filosofia em uma metodologia para as ciências exatas. Dilthey procurou compreender as ciências humanas a partir de suas manifestações e acentuou o caráter

histórico e relativo dos acontecimentos e, por consequência, do pensamento humano. O autor pretendia fundar as ciências do entendimento sob as categorias lógica, epistemológica e metodológica.

Para Dilthey, a partir dos sinais exteriores, seria possível compreender a individualidade. O sentimento vivenciado pelo autor de uma obra poderia ser recriado, por exemplo, partindo-se das manifestações escritas. O autor associou a hermenêutica ao texto escrito e estabeleceu que a interpretação deveria ser o modelo de compreensão que conferiria as bases metodológicas para as ciências humanas. (GRONDIN, 2012).

A hermenêutica das ciências humanas para Dilthey era resultado da experiência, expressão e entendimento que condicionariam sua validade universal, em que a interpretação é a busca do próprio sentido da vida e da história. A teoria filosófica de Dilthey proporcionou as bases das interpretações históricas e influenciou profundamente Heidegger, que ampliou o sentido histórico para a hermenêutica existencial. (GRONDIN, 2012).

Há vários tipos de investigações qualitativas que apresentam características comuns. Godoy (1995) as enumera como: a valorização do contato direto entre pesquisador e o ambiente pesquisado; a proeminência da palavra em lugar da expressão numérica e quantitativa; a preocupação em compreender os fenômenos a partir do significado que as pessoas dão às coisas e à vida; o foco e questões de interesses amplos sem hipóteses estabelecidas a priori.

O estudo dos acontecimentos sociais requer métodos e dados para que se possam observar os acontecimentos de modo sistemático, analisar os sentidos, entrevistar e interpretar os materiais e proceder à análise sistemática. Os dados formais exigem competência para serem produzidos como, por exemplo, os textos jornalísticos que representam o mundo para grupos de consumidores. O jornal, portanto, indica uma visão de mundo que é posta em circulação. (BAUER; GASKELL, 2008).

Procurando esquivar-se da polêmica sobre a suposta superioridade de um tipo de pesquisa sobre outro, esses autores asseveram que a opção pela investigação qualitativa ou

quantitativa depende dos objetivos da investigação e não são abordagens excludentes, podendo ser combinadas. Para nosso estudo, utilizamos pesquisa qualitativa por abarcar a complexidade e fluidez da vida cotidiana, expressa como narrativa jornalística na Folha de S.

Paulo.

Para Chizzotti (2003, p. 231), as pesquisas qualitativas absorvem temáticas pós- modernas para rejeitar a racionalidade técnica e instrumental, própria da pesquisa convencional, e mostrar a o igi alidade iado a. Essas i vestigaç es e o e s sensibilidades que o pós-modernismo invoca, para analisar as possibilidades estéticas dos estilos dis u sivos ou te tuais da pes uisa ... .

Além da abordagem qualitativa, utilizamos a pesquisa bibliográfica em nosso estudo que proporciona o embasamento teórico adequado ao tratamento do assunto proposto. Para Stumpf (2010), a pesquisa bibliográfica planeja o trabalho como um todo a partir da busca de bibliografia que evidencie o pensamento dos autores e as próprias ideias e argumentos do pesquisador.

Nu se tido est ito, u onjunto de procedimentos que visa identificar informações bibliográficas, selecionar documentos pertinentes ao tema estudado e proceder espe tiva a otaç o ou fi ha e to das efe ias e dos dados dos do u e tos. (STUMPF, 2010, p. 51). A autora ressalta que a pesquisa bibliográfica acompanha todas as fases da pesquisa, desde a formulação do problema até a análise dos resultados.

Este trabalho utiliza ainda a pesquisa documental como técnica de coleta de dados de maneira indireta objetivando qualificar o estudo. Gil (2009, p. 147) afirma que do u e tos o s o ape as es itos ue es la e e algo, as ual ue o jeto ue possa o t i ui pa a a i vestigaç o de dete i ado fato ou fe e o .

No caso dos estudos em comunicação, as fontes documentais comumente utilizadas são registros pessoais, documentos elaborados por fontes institucionais e os produtos midiáticos como textos jornalísticos, fotorreportagens, sites, blogs, telerreportagens e outras produções. Nesta investigação, utilizamos matérias do acervo digital do jornal Folha

de S. Paulo, pesquisas e relatórios publicados por órgãos governamentais como a

Organização Mundial de Saúde, ANVISA, entre outros.

Utilizamos as pesquisas bibliográfica e documental, o método compreensivo de Michel Maffesoli (2010a) e as noções de imaginário (2001a), saturação da identidade (2006; 2010c), trágico (2003a) e corpo paroxístico, noção decorrente do presenteísmo (2003a), e tecnologia do imaginário (SILVA, J.; 2012). Estudamos o corpus composto por 12 ocorrências a fim de investigar como o jornalismo tende a modular afetos e os comportamentos a partir das matérias relativas às doenças mentais de 2001 e 2011 da Folha de S. Paulo.