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Capítulo 3 – PRODUÇÃO LUZ, CÂMERA, AÇÃO! REFERENCIAL

3.2. Pesquisa qualitativa em Linguística Aplicada

A pesquisa qualitativa é, segundo Denzin & Lincoln (2006, p. 16), “em si mesma um campo de investigação. Ela atravessa disciplinas, campos e temas”. Nos dias de hoje, a pesquisa qualitativa não pertence somente a uma área. O seu significado é diferente em cada uma das áreas do conhecimento humano. Essa diversidade de termos e conceitos dificulta uma definição unânime do que seja pesquisa qualitativa. Todavia, Denzin & Lincoln (ibidem, p. 17) sugerem uma definição que nos parece a mais apropriada para entendermos o significado da pesquisa qualitativa e sua aplicabilidade nas pesquisas em educação e mais especificamente em Linguística Aplicada:

A pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. DENZIN & LINCOLN (2006, p. 17)

Outro ponto ressaltado por Martins & Theóphilo (2007, p. 135-137) e de interesse para esta pesquisa é a de que para melhor entender o que é uma pesquisa qualitativa é importante também saber o que é uma pesquisa quantitativa. Para os autores (ibidem), a pesquisa quantitativa deve ser adotada quando for possível e viável à mensuração e quantificação dos dados coletados. Por conseguinte, a qualitativa deve ser adotada nas situações em que o pesquisador necessite explorar os aspectos psicológicos das pessoas por duas principais razões. Primeiramente, para compreender a complexidade do fenômeno analisado e segundo, quando o funcionamento desse processo só puder ser analisado por meio da observação das interações relacionadas ao objeto de estudo.

Deste modo, entendemos que pode ser estabelecida uma íntima relação entre os usos e os significados da pesquisa qualitativa e as pesquisas em Linguística Aplicada. Com a intenção de elucidar essa visão da pesquisa qualitativa em (LA), no quadro a seguir, reproduziremos a contraposição entre as perspectivas da pesquisa qualitativa e quantitativa proposto por (ALMEIDA FILHO, 2005 apud, FREITAS, 2008, p. 19):

PESQUISA QUANTITATIVA PESQUISA QUALITATIVA

Particularista; busca detalhes para

categorizá-los. Globalista; holística; lida com dados singulares. Centrado no produto; nos resultados. Centrado no processo.

Distância dos dados; visão-ética (de

fora). Proximidade aos dados; visão êmica (de dentro).

Poder de generalização; estudo de múltiplos casos.

Sem poder de generalização; estudo de casos únicos.

Objetividade. Subjetividade controlada.

Positivismo lógico; busca fatos ou causas para fenômenos sociais pouco se atendo a estados subjetivos dos sujeitos.

Fenomenologismo: busca compreender / interpretar o comportamento humano a partir de um quadro interno de referências do sujeito. Não fundado na realidade; voltado para

a verificação confirmatória; reducionista, inferencial e hipotético- dedutiva.

Fundado na realidade; voltado para a heurística (descoberta); exploratório; descritivo e indutivo. Pressupõe realidade estável. Conta com realidade dinâmica.

Confiável; “duro” e replicável quanto aos

dados.

Válido; “real”; “rico” e “profundo” nas interpretações.

Métodos testadores de hipóteses (busca

o certo x errado; verdadeiro x falso). Métodos fortalecedores de hipóteses.

Mensuração interventiva e controlada. Observação natural e com controle (com filtros) da subjetividade através do cotejo de dados de mais de uma fonte.

Quadro 6: Paralelo entre a pesquisa quantitativa e qualitativa Fonte: (ALMEIDA FILHO, 2005 apud, FREITAS, 2008, p. 19)

Ao apresentar esse quadro, o autor (op cit) explicita os pressupostos que compõem o paralelo entre a pesquisa qualitativa e a quantitativa e elucida que a intenção não é sobrepor uma abordagem à outra, e sim, reconhecer quando devemos adotar uma à outra. Além desse esclarecimento, concordamos com o autor (op cit) em relação às características da pesquisa qualitativa que investigam questões emergentes da realidade do cotidiano em seus ambientes naturais e consideram o investigador como principal instrumento de coleta de dados, quando exemplificado o fenomenologismo que busca compreender / interpretar o comportamento humano a partir de um quadro interno de referências do sujeito.

Denzin & Lincoln (2006, p. 23) corroboram o paralelo acima exposto ao afirmarem que dentre as principais diferenças das duas abordagens estão a de que “os pesquisadores qualitativos ressaltam a natureza socialmente construída da realidade”, construindo assim, uma íntima relação entre o pesquisador e o que é pesquisado, sem deixar de considerar as possíveis limitações da pesquisa. Enquanto os estudos quantitativos potencializam “o ato de medir e de analisar as relações causais entre variáveis, e não processos.”, em outras palavras, enfatizam a dimensão mensurável da realidade.

Frente aos inúmeros desafios que a realidade atual nos impõe, dentre eles, a velocidade com que as informações precisam ser renovadas, a busca pela praticidade e objetividade dos aspectos que envolvem as mais diversas questões sociais, ressaltamos ainda, a importância da reflexividade na postura do pesquisador qualitativo. A esse respeito, corroboramos a visão de (GERGEN & GERGEN, 2006, p. 369) sobre o que os pesquisadores buscam:

(...) formas de demonstrar as suas audiências sua situcionalidade histórica e geográfica, seus investimentos pessoais na pesquisa, as diversas tendenciosidades que trazem para seu trabalho, suas surpresas e “desgraças” no processo de empenho para a realização da pesquisa, como suas escolhas de tropos literários conferem força retórica ao relatório de pesquisa, e/ou os aspectos em que evitaram ou suprimiram certos pontos de vista.

De acordo com Lüdke & André (1986, p. 1-10), a construção da ciência é um fenômeno social por excelência e não um privilégio de alguns. Deste modo, a pesquisa qualitativa em educação aproxima a ciência da vida profissional do educador, tornando-a um instrumento de enriquecimento do seu trabalho. Em outras palavras, essa postura sincera do pesquisador confere maior verossimilhança à pesquisa qualitativa, além de possibilitar que outros pesquisadores tenham o seu trabalho como referência para a realização de pesquisas posteriores na área de educação. Para isso, enfatizamos que seria também relevante investir em pesquisas alinhadas com os diferentes contextos de formação de professores e que contribuam para a investigação da prática do formador de professores de línguas.

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