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No intento de encontrar um tipo de pesquisa que contemplasse as colocações apresentadas nos objetivos e hipótese da pesquisa e, igualmente, dialogasse com o método dialético da maneira a qual o caracterizei no capítulo anterior, observei que a pesquisa qualitativa comporia de maneira coerente o corpo desse trabalho e as intenções da pesquisa. Nesse sentido, encontrei no âmbito qualitativo uma visão que aborda o dinamismo nos conteúdos, oportuniza o contato do pesquisador com a situação estudada e reconhece complexidade das temáticas que são postas em debates nas ciências humanas. Godoy (1995, p. 58) sintetiza as características básicas que compõe a pesquisa qualitativa:

a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados. Parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos.

Reconhecendo que a pesquisa que realizo trabalha com o campo do Ensino da Geografia e a formação inicial, uma área que contempla inúmeras variáveis em seu conteúdo e em seus discursos, é evidente que na discussão teórica se inter- relacionam diferentes interpretações, reflexões e proposições acerca dos diálogos feitos nesse âmbito.

Vejo, por isso, que buscar na opção metodológica uma abordagem qualitativa que se preocupe com a interpretação dos dados que são obtidos, não somente com a sua leitura pura, mas sim com uma leitura que exceda o quantitativo e, assim, consiga compreender e analisar criticamente os significados e projeções presentes nos escritos abordados. Concordo com Teixeira quando este relata que na “pesquisa qualitativa o pesquisador procura reduzir a distância entre a teoria e os dados, entre o contexto e a ação” (TEIXEIRA, 2006, p. 137) e é nesse sentido é que estabeleço a proposta dialética e qualitativa na pesquisa.

Pontuado isso, trago Minayo (2001), que descreve e aborda as peculiaridades da pesquisa qualitativa. Dos pontos destacados pela autora, um que se interliga fortemente com o diálogo que proponho é a característica interpretativa do qualitativo, uma vez que abordo fenômenos os quais considero complexos e que não podem ser

reduzidos a análises quantitativas. Debruçar-me em busca dos significados e potencialidades da realidade que estudo me parece basilar, de tal modo que é no qualitativo que me amparo.

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2001, p. 21-22)

Por sua vez, a contrapartida – a pesquisa quantitativa – é uma ferramenta metodológica que tem uma preocupação maior com o campo estatístico, matemático, tendo uma influência maior da ciência positivista, partindo de outra maneira de interpretar a realidade.

A diferença entre qualitativo-quantitativo é de natureza. Enquanto cientistas sociais que trabalham com estatística apreendem dos fenômenos apenas a região "visível, ecológica, morfológica e concreta", a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas. (MINAYO, 2001, p. 22)

Não obstante, Bernadete Gatti, pesquisadora da Educação, destaca que convém a mescla entre qualidade e quantidade; contudo, assinala que a para se produzir um resultado com significação teórica é preciso impor, a partir dos referenciais, uma interpretação qualitativa

Os conceitos de quantidade e de qualidade não são totalmente dissociados, na medida em que de um lado a quantidade é uma interpretação, uma tradução, um significado que é atribuído à grandeza com que um fenômeno se manifesta (portanto é uma qualificação dessa grandeza), e de outro ela precisa ser interpretada qualitativamente, pois, sem relação a algum referencial não tem significação teórica. (GATTI, 2006, p. 28)

Singularizo, portanto, uma das mobilizações essenciais que tenho com a pesquisa, a qual envolve tanto a abordagem dialética e a pesquisa qualitativa, e que faz parte do contínuo desenvolvimento dessa Dissertação: a interpretação. Conforme Gatti (2006) e Minayo (2001) caracterizaram, a interpretação dos dados se sobreleva quando se analisa qualitativamente o conteúdo que se propõe problematizar. Carrego, assim, nas observações e teorias que articulo, uma constante interpretação de um sujeito – professor e pesquisador do Ensino de Geografia – amparado em suas referências, nos diálogos entre elas e, naturalmente, em sua percepção da realidade. Para realizar essa interpretação, trago a compreensão de Sánchez Gamboa que relata que:

Interpretar exige recuperar os cenários, os lugares ou palcos onde as manifestações dos atores têm sentido; requer também a constituição de um horizonte interpretativo que permite articular diversas manifestações num quadro compreensivo. (...) O caminho do conhecimento implica traçar um percurso das partes ao todo e deste ao contexto, caminho contrário ao realizado pela analítica que vai do todo delimitado e separado do contexto para as partes. (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007, p.138)

Interpreto, pois, que os objetivos que elaborei com a pesquisa partem de uma compreensão da realidade e, a partir da análise, podem compor um horizonte no qual se possibilita uma nova realidade. Primeiro, viso interpretar qual é a nossa realidade e por que ela assim se apresenta; em um segundo momento, ampliar esse debate e realizar uma provocação que questiona o porquê de, em face a outras perspectivas de realidade, não se propor uma mobilização. Trago García Ballesteros (1998, p. 24), que assinala que ao optar pela pesquisa qualitativa se quer entender a realidade existente e apresentar, também, outras possibilidades e mudanças possíveis de serem vislumbradas: “empleamos una metodologia cualitativa cuando queremos responder a la pregunta de por qué nuestra relación en y con el espacio es de una determinada manera y por qué no es de outra”.

Nessa ótica do uso da interpretação, enquanto pesquisador, viso aproximar-me da noção de interpretação qualitativa trazida por Chizzotti:

A pesquisa qualitativa recobre, hoje, um campo transdisciplinar, envolvendo as ciências humanas e sociais, (...) adotando multimétodos de investigação para o estudo de um fenômeno situado no local em que ocorre, e enfim, procurando tanto encontrar o sentido desse fenômeno quanto interpretar os significados que as pessoas dão a eles. O termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível e, após este tirocínio, o autor interpreta e traduz em um texto, zelosamente escrito, com perspicácia e competência científicas, os significados patentes ou ocultos do seu objeto de pesquisa. (CHIZZOTTI, 2003, p. 13)

Embora reconheça como um desafio a todo pesquisador que se propõe a uma análise qualitativa, essa busca pela sensibilidade e cientificidade na interpretação compõe um dos objetivos que carrego na redação dessa Dissertação. Procuro, em vista do que foi exposto, fortalecer a pesquisa nas bases qualitativas, utilizando seus pressupostos e valorando a interpretação dos dados levantados para fomentar diálogos e perspectivas para a análise da realidade.

Com esse amparo metodológico, observo ser possível considerar e valorar os conhecimentos produzidos por pesquisadores do campo da Educação e do Ensino de Geografia, estabelecer intersecções entre as reflexões que esses sujeitos trazem e

contemplá-las. Igualmente, pontuo que a interpretação da realidade e a manifestação de uma perspectiva para sua alteração, dialogando com as vozes de sujeitos envolvidos com a temática que pesquiso, fortalecem a produção acadêmica a qual me dedico. Vejo a pesquisa qualitativa como um instrumento metodológico que acorda com os objetivos e se relaciona com uma pesquisa que envolve a formação inicial de professores de Geografia

a pesquisa qualitativa serve com vantagens à análise da realidade cada vez mais complexa do desenvolvimento global, com seus novos cenários e o desafio de levar em consideração cada vez mais o olhar das pessoas envolvidas nos processos de produção de bens, serviços e conhecimento tendo em vista a afirmação cada vez maior de fenômenos que valorizam e demandam efetiva participação humana. (VIANNA; ENSSLIN, 2007, p. 174)

2.4 A pesquisa teórica, a Revisão Sistemática de Literatura e a Análise Textual