• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 OS CAMINHOS DA PESQUISA: PERCURSOS METODOLÓGICOS

2.1 A pesquisa e a sua trajetória

Para conseguirmos alcançar as respostas para as questões interpostas pela pesquisa, iniciamos o levantamento bibliográfico de pesquisas já realizadas sobre a Educação de Jovens e Adultos. Este estudo caracteriza-se como uma metapesquisa11 e os caminhamos estão relacionados, primeiramente, à pesquisa conhecida como Estado da Arte ou Estado do Conhecimento.

11 Sobre metapesquisa é importante citar Navarro (2007), que, mesmo ao pesquisar sobre a área da comunicação social, nos ajuda a compreender que: “O conceito meta-pesquisa refere-se à pesquisa sobre a pesquisa; mas se considerarmos que, como toda ciência social, a pesquisa da comunicação está determinada por uma “dupla hermenêutica” (Giddens, 1984), uma vez que encerra uma interpretação de interpretações, abre-se uma dupla possibilidade: considerar a meta-pesquisa como pesquisa de terceiro grau (interpretação de interpretações de interpretações), ou bem, considerar a pesquisa da comunicação como uma prática social de comunicação institucioalizada, equiparável com outras práticas sociais de comunicação. Nesse sentido, a meta-pesquisa da comunicação é também pesquisa da comunicação, e do mesmo modo que na “semiótica de segunda ordem” ou semiótica da ciência de Klaus Bruhn Jensen (1995), ou na “sociologia da sociologia” de Bourdieu (1988), exige o uso dos melhores recursos de uma ciência para a análise de si mesma” (NAVARRO, 2007, p. 166).

48 A percepção sobre esta tipologia de pesquisa é a de um conhecimento amplo sobre uma produção acadêmica e, como gostaríamos de elaborar este levantamento, nos apegamos aos elementos de uma pesquisa do estado do conhecimento12.

Muitos pesquisadores e pesquisadoras estão realizando pesquisas desta natureza, pois, segundo Ferreira (2002, p. 258), o estado da arte impulsiona os(as) pesquisadores(as) ao “desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento”, o que justificou nossa escolha por alguns elementos desta metodologia.

O caráter bibliográfico da pesquisa, segundo Gil (1999, p. 65), é vantajoso, pois “reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. Assim, foi possível alcançar as informações que estavam espalhadas entre dissertações e teses dos programas de pós- graduação, “auxiliando também na construção, ou na melhor definição do quadro conceitual que envolve o objeto de estudo proposto” (LIMA; MIOTO, 2007, p. 40).

Segundo Ferreira (2002), os(as) pesquisadores(as) são invadidos por uma sensação

do não conhecimento acerca da totalidade de estudos e pesquisas em determinada área de conhecimento que apresenta crescimento tanto quantitativo quanto qualitativo, principalmente reflexões desenvolvidas em nível de pós-graduação, produção esta distribuída por inúmeros programas de pós e pouco divulgada (FERREIRA, 2002, p. 258).

Realmente, foi esta a sensação que impulsionou a verificação dos temas que as pesquisas de mestrado e doutorado, abarcadas pelos programas de pós-graduação do Brasil, desenvolveram. Assim, como Soares e Maciel (2000), também acreditamos ser de extrema importância para a ciência, compreendermos e organizarmos as teses e as dissertações que tratam da educação de jovens e adultos, pois

essa compreensão do estado do conhecimento. sobre um tema, em determinado momento, é necessária no processo de evolução da ciência, a fim de que se ordene periodicamente o conjunto de informações e resultados já obtidos, ordenação que permita a indicação das possibilidades de integração de diferentes perspectivas, aparentemente autônomas, a identificação de duplicações ou contradições e a determinação de lacunas ou vieses (SOARES; MACIEL, 2000, p.9).

A organização das fontes para a pesquisa em âmbito nacional é importante por proporcionar um grande número de informações sobre um conhecimento determinado, e o

12 Neste capítulo será explicitado até onde foi possível desenvolver uma pesquisa do estado do conhecimento e os motivos da não continuidade desta abordagem de pesquisa.

49 fato de utilizar este tipo de metodologia torna-se necessário para a organização dos dados e para a sua divulgação.

Apesar de ser uma opção metodológica fascinante, não podemos deixar de comentar que ela necessita de um trabalho minucioso de busca por dados, considerando toda sua abrangência.

Ao ler os resumos das teses de doutorado e das dissertações de mestrado, mesmo com os problemas que serão elencados, era preciso ter em mente que “os resumos das pesquisas analisadas contam uma certa realidade dessa produção”, como indica Ferreira (2002, p.268). O que gostaríamos de dizer é que uma mesma pesquisa poderá apresentar resumos distintos, principalmente se algumas informações não forem dadas, assim como concordamos com Ferreira (2002) ao mencionar que

os resumos oferecem uma História da produção acadêmica através de uma realidade constituída pelo conjunto dos resumos, que não é absolutamente a mesma possível de ser narrada através da realidade constituída pelas dissertações de mestrado e teses de doutorado, e que jamais poderá ser aquela narrada pela realidade vivida por cada pesquisador em sua pesquisa (FERREIRA, 2002, p. 268).

Ao aceitarmos as informações contidas no resumo das pesquisas coletadas, é importante que o pesquisador ou pesquisadora saiba que não é possível que busquemos

apenas uma relação do resumo com a pesquisa, metonimicamente (uma parte que representa o todo), nem uma relação de fidedignidade do resumo em relação à pesquisa à qual se refere e, muito menos, uma relação exclusivamente de contiguidade. Cada resumo deve ser lido e analisado numa relação de dependência com o trabalho na íntegra, mas também enquanto realidade relativamente independente, produto de uma tensão construída na continuidade e na ruptura com o trabalho que lhe dá origem, numa relação dialética entre os gêneros, entre as condições de sua produção e práticas discursivas (FERREIRA, 2002, p. 269-270). Apesar da metodologia caminhar inicialmente pelos elementos de uma pesquisa considerada como estado da arte, consideramos apenas a possibilidade de um levantamento bibliográfico das produções acadêmicas, pois o estado da arte demandaria um tempo maior do que o disponível no doutorado, assim como a necessidade de um conjunto de pesquisadores para colaborarem com a pesquisa.

Explicitando melhor, uma pesquisa do estado da arte considera a leitura de uma obra completa para, a partir dela, ser possível o levantamento de informações. Porém, na pesquisa realizada, buscamos as informações apenas pelos resumos inseridos no catálogo do órgão de fomento de pesquisa da Capes, desenvolvendo um levantamento inicial de uma pesquisa do estado da arte.

50 Contudo, nesta pesquisa não realizamos a leitura do material completo das dissertações de mestrado e de todas as teses de doutorado. Apenas em alguns casos em que não foi possível obter dados com os resumos. E realizamos a mesma indagação de Ferreira (2002, p.264): “É possível traçar um determinado ‘estado da arte’ lendo apenas resumos?”.

Segundo a autora, quando utilizamos como fonte de pesquisa os resumos de trabalhos e os dados bibliográficos produzidos na academia para uma organização de uma específica área do conhecimento, o pesquisador ou pesquisadora se deparará com duas etapas diferenciadas. Na primeira, haverá a interação entre os dados e a sua quantificação e identificação, mapeando, assim, a produção “num período delimitado, em anos, locais, área de produção” (FERREIRA, 2002, p. 265). Nesta etapa, os dados são objetivos e o pesquisador ou pesquisadora não terá grandes obstáculos para analisá-los. A segunda etapa está relacionada com a possibilidade de o/a pesquisador/a “inventariar essa produção, imaginando tendências, ênfases, escolhas metodológicas e teóricas, aproximando ou diferenciando trabalhos entre si, na escrita de uma história de uma determinada área do conhecimento” (FERREIRA, 2002, p. 265). A investigação vai além de buscar respostas sobre quem, onde e quando as pesquisas foram desenvolvidas e trilha o caminho para as respostas sobre o quê e como.

Ferreira (2002) sinaliza que a última etapa apresenta dificuldades ao pesquisador e/ou à pesquisadora, pois a leitura dos resumos é imprescindível e, ao realizar apenas a leitura dos resumos, sempre haverá a dúvida do entendimento, pois essa tipologia de texto “não lhe dá a ideia do todo, a ideia do que “verdadeiramente” trata a pesquisa”, como também a sensação de estarmos realizando “uma leitura descuidada” (FERREIRA, 2002, p. 265-266).

Segundo a autora, esta fase torna-se problemática, pois alguns resumos não apresentam a preocupação de cumprimento das características desta tipologia textual, demonstrando a sua vulnerabilidade. Então, ressaltamos que, em muitos momentos, foi necessário buscarmos na obra completa algumas informações de compreensão que não obtivemos apenas com o resumo. Essa leitura cuidadosa do material colaborou muito com a construção de uma abrangente visão dos temas que os pesquisadores e as pesquisadoras propuseram-se a investigar.

Ao aprofundarmos a leitura sobre a metodologia e de trabalhos que se utilizaram dela, a resposta à pergunta inicial sobre a possibilidade de termos uma pesquisa do estado da arte apenas com a leitura de resumos, basicamente seria negativa. Mas não podemos deixar de mencionar que encontramos alguns estudos que se basearam apenas nas informações do resumo, como, por exemplo, O estado da arte das pesquisas sobre percepção ambiental no

51 Brasil (VASCO; ZAKRZEVSKI, 2010), tendo como argumentação o fato de que alguns pesquisadores e pesquisadoras lidam com “tranquilidade no mapeamento que se propõem a fazer da produção acadêmica a partir dos resumos publicados em catálogos das instituições, ignorando todas essas limitações que o próprio objeto oferece” (FERREIRA, 2002, p. 266).

Então, nesta pesquisa podemos dizer que, apesar das suas limitações frente uma pesquisa considerada estado da arte, utilizamos algumas de suas características para obtermos um conhecimento sobre o desenvolvimento dos estudos sobre a educação de jovens e adultos. Não temos a intenção de nomear esta pesquisa em relação a um tipo de metodologia, aprisionando-a a métodos fechados. A atitude de não intitulá-la metodologicamente em uma tipologia, relaciona-se com a sua delimitação pelos melhores caminhos para sua elaboração.

O processo metodológico também nos fez considerar que havia nele algumas características da pesquisa de métodos mistos.

A pesquisa de métodos mistos vem ganhando espaço entre os(as) pesquisadores(as), abordando teoricamente a pesquisa de uma maneira significativa e tem sido chamada de “terceiro movimento metodológico” (CRESWELL; CLARK, 2013, p. 19).

Para Creswell e Clark (2013), a definição para os métodos mistos está relacionada às características essenciais da pesquisa que a definirá como tal. Nos métodos mistos, o pesquisador ou a pesquisadora:

- coleta e analisa de modo persuasivo e rigoroso tanto os dados qualitativos quanto os quantitativos (tendo por base as questões de pesquisa);

- (mistura (ou integra ou vincula) as duas formas de dados concomitantemente, combinando-os (ou misturando-os) de modo sequencial, fazendo um construir o outro ou incorporando um no outro);

- dá prioridade a uma ou ambas as formas de dados (em termos do que a pesquisa enfatiza);

- estrutura esses procedimentos de acordo com visões de mundo filosóficas e lentes teóricas; e

- combina os procedimentos de pesquisa específicos que direcionam o plano para a condução do estudo (CRESWELL; CLARK, 2013, p. 22).

No caso desta pesquisa, o fato de estar baseada em dados quantitativos e do encaminhamento desses dados vincularem-se para uma análise qualitativa, podemos indicar que sua abordagem também pressupõe algumas características da pesquisa de métodos mistos. Este tipo de pesquisa possui algumas características diferenciadas entre sua aplicação e baseia-se em seis diferentes projetos. Analisando-os, pelo modo como os dados são tratados neste estudo, o projeto a que podemos dizer estar vinculada esta pesquisa é o projeto sequencial exploratório.

52 Este é desenvolvido em duas fases, sendo a primeira relacionada à coleta e análise de dados quantitativos e a segunda destinada a explicar os resultados quantitativos através dos dados qualitativos.

Segundo Ivankova e Stick (2007, apud CRESWELL; CLARK, 2013), um método apenas pode não ser suficiente para pesquisar algumas situações, sendo necessário ocorrer uma mistura entre (o) quanti e (o) quali. Com base em um exemplo de pesquisa com estas características, eles afirmam que:

os dados e os resultados quantitativos proporcionaram um quadro geral do problema da pesquisa, enquanto que os dados qualitativos e sua análise refinaram e explicaram aqueles resultados estatísticos explorando as visões dos participantes com relação à sua perspectiva em maior profundidade (IVANKOVA; STICK, 2007, p. 97 apud CRESWELL; CLARK, 2013, p. 114).

Os caminhos da nossa pesquisa se cruzam também com algumas particularidades da pesquisa de métodos mistos, principalmente no projeto sequencial exploratório, pois foi a partir dos dados quantitativos que a análise qualitativa foi realizada.

Contudo, tal qual uma pesquisa da arte e/ou uma pesquisa de métodos mistos, consideramos esta pesquisa como não finalizada e muito menos “presa” em uma tipologia, pois forçosamente, inspirada em Soares e Maciel (2000), afirmamos que esta possui como subproduto um banco de dados que precisa sempre ser atualizado, dada a importância e a relevância desse tipo de pesquisa para pesquisadores(as) e estudiosos(as) dessa área de conhecimento, além de construir seus percursos metodológicos conforme os passos forem sendo demarcados.

Na próxima seção, o percurso metodológico será apresentado e discutido, possibilitando uma compreensão mais aprofundada de como a pesquisa foi elaborada.