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CAPÍTULO I METODOLOGIA E REFLEXÃO SOBRE INSTRUMENTOS DE

1.2. O (a) Pesquisador (a) e a Pesquisa Científica: as marcas e os requisitos

O produto, ou seja, a pesquisa científica e seus resultados possuem inevitavelmente a(s) marca(s) do (a) pesquisador (a): sua origem social, econômica e cultural. Tais marcas influem no modo como enxergamos a realidade que pesquisamos. Tentei responder a indagação feita pela minha sobrinha, mas, não sei se a resposta foi adequada ou que tenha sido suficiente para satisfazer a sua curiosidade. Curiosidade esta que, de certa maneira, não podemos perder quando fazemos uma pesquisa, não importando a que área das ciências nós pertençamos. Um ânimo, energia de criança, para “produzir ciência”, seguida de uma sólida base teórico-metodológica. Reforçamos, ainda que

Pesquisar em educação exige, além de uma formação acadêmica restrita (relativa ao tema que será desenvolvido), uma sólida e profunda formação acadêmica geral, pois a dificuldade em interpelar e compreender textos indicados nos cursos de Pós-Graduação somente será vivenciada se, ao lado de um trabalho com o texto básico, proceder-se à leitura de vários textos complementares (FAZENDA, 2006, p. 16).

Esta tarefa não é fácil. Baseado em Fazenda (2006), eu elaborei um pequeno esquema que me ajudou a refletir sobre esta pesquisa:

“Escolha do Tema” ↔ “Enunciado do Problema” ↔ “Encaminhamento”.

É uma elaboração simples, mas creio que é eficaz para pensarmos uma “lógica da pesquisa”. O desenho acima foi a minha forma de conceber um caminho que eu pudesse pisar e seguir. Obviamente, devem existir outros esquemas mais elaborados. Podemos observar que os vetores possuem direção dupla, ou seja, o (a) pesquisador (a) pode

refazer o caminho e repensar sua caminhada. Um aditivo para esta reflexão expõe uma afirmação:

Qualquer que seja o problema, o referencial teórico ou a metodologia empregada, uma pesquisa implica o preenchimento de três requisitos: - a existência de uma pergunta que se deseja responder; - a elaboração (e sua descrição) de um conjunto de passos que permitam obter a informação necessária para respondê-la; - a indicação do grau de confiabilidade na resposta obtida (LUNA Apud FAZENDA, 2006, p. 27).

No conselho de Machado de Assis (1878), citado anteriormente, devemos observar as mínimas coisas, o que está escondido, o dito e até o que não foi dito é material, dados para nós que nos dedicamos à práxis de pesquisar. “Enfiar o nariz” em coisas aparentemente desinteressantes pode nos revelar surpresas, desvelando o oculto. Trouxe aqui esta discussão sobre as dimensões da realidade, os modos de interpretá-la e o “problema da objetividade” para que os (as) leitores (as) compreendam que esta dissertação é resultado de um modo do autor compreender a educação de jovens e adultos, mais especificamente no período de alfabetização.

Por conseguinte, desenvolvi um trabalho do ponto de vista da abordagem qualitativa na pesquisa educacional, que “exigiu contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra, através do trabalho intensivo de campo” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 11). O local da pesquisa é muito importante:

Fieldwork research involves (a) intensive, long-term participation in a field setting; (b) careful recording of what happens in the setting by writing field notes and collecting other kinds of documentary evidence (e.g., memos, records, examples of student work, audiotapes, videotapes); and (c) subsequent analytic reflection on the documentary record obtained in the field, and reporting by means of detailed description, using narrative vignettes and direct quotes from interviews, as well as by more general description in the form of analytic charts, summary tables, and descriptive statistics. Interpretative fieldwork research involves being unusually thorough and reflective in noticing and describing everyday events in the field setting, and in attempting to identify the significance of actions in the events from the various points of view of the actors themselves32(ERICKSON, 1985, p. 06)

32 O trabalho de campo envolve pesquisa (a), a participação intensa de longo prazo em um ambiente de

campo, (b) a gravação cuidado com o que acontece no cenário escrevendo notas de campo e coleta de outros tipos de provas documentais (por exemplo, memorandos, registros, exemplos de trabalhos dos educandos , fitas de áudio, fitas de vídeo), e (c) posterior reflexão analítica sobre o registro documental obtida no campo, e elaboração de relatórios por meio de descrição detalhada, usando vinhetas narrativas e citações diretas a partir de entrevistas, bem como pela descrição mais geral, na forma de gráficos analíticos, tabelas de resumo, e estatísticas descritivas. Pesquisa de campo interpretativa envolve ser extraordinariamente profunda e reflexiva em perceber e descrever eventos diários no ambiente de campo, e na tentativa de identificar o significado das ações nos eventos dos vários pontos de vista dos próprios atores. Tradução do pesquisador.

Portanto, o trabalho de campo exige um período considerável de permanência no local e convivência com os sujeitos participantes. Além dessa exigência, temos a possibilidade de utilizarmos vários instrumentos de produção de dados, o que amplia a qualidade e quantidade de fonte documental para serem submetidas à análise e interpretação. Erickson (1985) também destaca a importância da percepção e descrição dos acontecimentos diários do específico local em que o pesquisador se insere.

Compartilho com o pensamento de Brandão (1999) em compreender, os educandos e educandas da EJA como reais sujeitos da pesquisa, e não como “objetos” da mesma. Compreendo que os educandos foram mais do que “colaboradores” do nosso estudo. Eles (as) também autores e autoras, na medida em que compartilharam suas experiências de mundo, forneceram dados para o pesquisador, transformados posteriormente em fonte de interpretação para a confecção do trabalho científico, comprometido em desenvolver a discussão dos resultados com os (as) participantes / sujeitos da pesquisa.

A meu ver, a “pesquisa participante” é o método de pesquisa mais adequado aos objetivos explicitados acima, devido à possibilidade de contato direto com os sujeitos envolvidos na pesquisa. Assim como da participação efetiva desses sujeitos no processo do trabalho de campo, tendo como instrumento de produção de dados: entrevista coletiva, observação participante, roda de conversa e da análise de documentos.