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CAPÍTULO 3 FORMAÇÃO CONTINUADA E

2. PESQUISADORES-PARTICIPANTES:

Consideramos como Pesquisadores-participantes todos aqueles que tiveram não só a responsabilidade em organizar a Política Municipal de Esporte e Lazer, mas que sobretudo buscaram construir e participar de espaços de discussão, avaliação, planejamento e sistematização da política, com a preocupação de atender a objetivos da ação e a objetivos da pesquisa.

A partir de vários níveis de produção e de participação nos “auditórios” de discussão, foi sendo construído desde encontros e

seminários locais, nacionais e internacionais, até a construção de monografias de graduação, de pós-graduação e teses, passando pelas Reuniões Específicas e Pedagógicas semanais, pelas Oficinas de Planejamento e pelos Encontros Municipais de Formação Continuada em Esporte e Lazer.

Enquanto Pesquisadores-participantes, os sujeitos envolvidos diretamente na construção da política acreditavam que Governos, Instituições e Movimentos Sociais deveriam adotar como linhas de ação a formação de quadros e o trabalho coletivo e abrangente, dessa forma, acreditavam que as experiências realizadas na realidade em questão pudessem servir de exemplo para a construção de outras experiências em vários campos de atuação. Apesar disso, consideravam alguns problemas: 1. Relacionado ao campo da pesquisa científica, como realizar uma pesquisa-ação no campo das políticas públicas de esporte e lazer no sentido da construção de algo novo; 2. Como garantir que essa pesquisa possa servir aos fins da divulgação científica necessária à construção de novas experiências de políticas públicas, bem como de novas pesquisas científicas; 3. Como garantir o tempo necessário à pesquisa- ação de sistematização e de debate em vários seminários, tudo acontecendo no seio de uma política pública.

Enquanto sujeitos que participaram da Política Municipal de Esporte e Lazer, tivemos também os Professores de Educação Física, estatutários22, que trabalhavam nos Centros Sociais Urbanos e os Professores de Educação Física, Artes e áreas afins que foram sendo integrados ao Programa Círculos Populares de Esporte e Lazer23.

Tanto os Professores de Educação Física, estatutários, quanto os demais professores contratados enquanto prestadores de serviço, mantiveram interesses que não chegavam a se configurar enquanto interesses de caráter coorporativo, pois apenas preocupavam-se com questões individuais, procurando garantir o máximo de direitos e cumprir o mínimo de deveres possíveis. A única diferença é no que se refere à disposição de aprender, de desenvolver um trabalho diferenciado e de construir uma relação com a

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A Prefeitura do Recife possui um quadro de professores de Educação Física em sua grande maioria vinculados ao GOM (Grupo Operacional Magistério), ou seja, vinculados diretamente à escola. Os professores que trabalham nos Centros Sociais Urbanos são professores vinculados em sua origem à Secretaria de Educação, mas, por não estarem na escola, não fazem parte do GOM. Portanto, apesar de receberem pela Secretaria de Educação, não estão enquadrados no PCC (Plano de Cargos e Carreiras) da Prefeitura. Mas, por outro lado, também não sofrem ingerência direta de nenhum órgão, pois a atividade a que eles estão à disposição não é regulada. A situação do GEGM (Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães) é semelhante, mas apresenta algumas diferenças. Os professores que estão a ele ligados, em sua maioria estão à disposição deste, tendo como órgãos de origem as Secretarias da área de administração direta, portanto, não têm vínculo institucional como professores com a Prefeitura. Além desses, o GEGM possui alguns instrutores cujo vínculo é direto com o Ginásio. Mas nesta gestão 2001- 2004, o nosso único contato (inicial) foi com os professores à disposição dos Centros Sociais Urbanos, pois o GEGM estava inacessível à política de esporte e lazer da cidade desde o início.

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Como a atuação no setor comunitário não estava regulada, a relação dos professores, agentes comunitários e até mesmo dos estagiários só podia ser estabelecida enquanto prestação de

comunidade, que, mesmo com todos os problemas, os professores prestadores de serviços estavam muito mais abertos e dispostos24.

De qualquer forma, a falta de regulação da atuação no setor foi um grande problema que teve grandes proporções. E isso ocasionou por um lado o total descompromisso de uns em manter as obrigações em dia, e por outro lado uma grande rotatividade de profissionais.

Os professores estatutários estavam a mais de vinte anos enquanto Prefeitura, trabalhando em Centros Sociais Urbanos, e não na escola, e, portanto, já tinham atravessado várias gestões, mas nada como essa experiência especificamente. A maioria participou do Esporte para Todos (EPT), programa federal implementado na década de 80.

Os professores prestadores de serviço, a exemplo dos gestores, também eram bastante novos, muitos recém formados e apenas alguns tiveram experiência de trabalho na escola ou na rede privada. Uma parte também veio do Movimento Estudantil e a grande totalidade nunca tinha participado de experiências semelhantes.

Os professores estatutários problematizavam as questões de ordem funcional, devido a ausência de um sistema que regulasse a

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Inclusive porque em sua maioria eram recém-formados e, portanto, não tinham se desgastado com gestões e mais gestões onde o setor estava num processo de degradação e que se mantinha no ideário dos professores estatutários, sendo que a maioria tinha mais de 20 anos de prefeitura.

atuação destes, bem como que lhes garantisse direitos funcionais equivalentes aos professores vinculados à escola.

Os professores prestadores de serviço problematizavam as questões de ordem trabalhistas, mas também consideravam como problemas a dificuldade de relação teoria/prática num trabalho deste porte, realizado no âmbito do Esporte e Lazer enquanto educação no e para o tempo livre. Portanto, demonstravam uma certa abertura à construção do projeto.

A crença dos professores estatutários que mais interferiu no processo, e que chegou a inviabilizá-lo, inclusive, na verdade é uma descrença no serviço público, na possibilidade de realização de uma política que fosse capaz de superar todos os problemas que eles mesmos são capazes de detectar, ou outros que eles não são capazes de detectar.

A crença dos professores prestadores de serviço estava relacionada também a uma descrença em relação a experiências, só que em menor grau do que a dos professores estatutários, mas eram constantemente afetados pelas condições de trabalho, e por isso tinham como principal crença, que interferiu sobremaneira, de que a Política Municipal primeiro tinha que construir todas as condições de trabalho para que depois se realizasse a ação.

Os professores estatutários tinham muitas resistências para participar, primeiro porque não tinham disponibilidade de fato para tal (pois a carga horária de trabalho era totalmente descumprida), segundo porque não estavam dispostos a assumir um projeto, que exigia um nível de envolvimento grande com a comunidade (muito superior ao que estavam acostumados).

Os professores prestadores de serviço em sua maioria participaram bem do planejamento, execução, avaliação e sistematização das experiências, com limites decorrentes da acumulação de empregos e da distância de alguns lócus de discussão. As condições de participação materiais como já foi dito, eram limitadas em relação aos direitos trabalhistas, e as condições políticas quando bem aproveitadas, possibilitaram aos professores acumularem uma experiência ímpar, pois puderam atuar de maneira protagonista no planejamento, execução e avaliação de todas as ações e projetos realizados.

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