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3 A PESSOA IDOSA E AS NOVAS PRÁTICAS CULTURAIS

3.4 PESSOA IDOSA, INFORMAÇÃO E DIREITOS

Foi visto anteriormente, a importância do acesso à informação no que diz respeitos aos direitos de todo cidadão e que a busca pela consolidação dos direitos é algo que não se restringe a população idosa. Entende-se que a informação, constituída como um direito social é fundamental para que os idosos se apropriem dos conteúdos voltados para as leis que asseguram a sua cidadania e participação em sociedade.

As questões voltadas para os direitos sociais do segmento dos idosos no Brasil são intensificadas à mediada do aumento desse segmento no país. Embora atualmente, existem várias ações direcionadas a essas demandas, o marco legal do direito da pessoa idosa foi instituído na Constituição de 1988, que estabelece, nos artigos 229 e 230, como obrigação a inclusão dos direitos e das necessidades do idoso na pauta da agenda política.

A população idosa, cada vez mais presente na sociedade brasileira, deve ter garantida a acessibilidade aos seus direitos, e deste modo, a informação, torna-se um instrumento para que o idoso possa exercer a sua cidadania. Contudo, sabe-se que o direito para esse grupo representa um desafio para profissionais, pesquisadores, e, sobretudo, para as pessoas idosas, desde quando o acesso a informação nem sempre é possível.

Compreende-se que um dos principais motivos para a falta do conhecimento dos direitos do idoso, está na ausência de ações voltadas para a educação dessa parcela populacional, que historicamente, tem os menores índices de escolaridade (INEP, 2013). Em razão da dificuldade de acesso, acredita-se que se faz necessário a intensificação das políticas públicas direcionadas a essas questões.

Ainda se tratando desse aspecto, vale ressaltar que o cidadão precisa ser participativo, e ser conhecedor dos seus direitos e deveres. No Brasil, o direito do idoso está assegurado pela PNI (1994) e pelo Estatuto do Idoso (2003), que dispõe

sobre os direitos da pessoa idosa, na perspectiva da inclusão e a proteção social desses sujeitos, que descreve:

1º direito à vida: viver com dignidade, com acesso aos bens e serviços socialmente produzidos;

2º direito à informação: ter conhecimento, trocar ideias, perguntar, questionar, compreender. A informação caminha por dois níveis que se complementam: o primeiro refere-se à vida cotidiana – ter acesso à tecnologia, à informática, à senha bancária, aos eletroeletrônicos, as notícias, entre outras; o segundo refere-se à garantia dos direitos – como funcionam os serviços prestados por meio da política social, como funciona a rede de atendimento social, os conselhos, a gestão pública, como o poder público emprega o dinheiro na área do envelhecimento; 3º direito à vida familiar, à convivência social e comunitária: receber apoio e apoiar a família, preservar laços e vínculos familiares, trocar experiência de vida; receber suporte social, psicológico e emocional; 4º direito ao respeito: às diferenças, às limitações, ao modo de entender o mundo, ao modo de viver neste mundo;

5º direito à preservação da autonomia: ter preservada a capacidade de realizar algumas tarefas sozinho ou com o auxílio; ter preservada a privacidade; ter preservada a capacidade de realizar as atividades de vida diária e de vida prática;

6º direito de acessar serviços que garantam condições de vida: acesso aos serviços de saúde, educação, moradia, lazer, entre outros.

7º direito de participar, opinar e decidir sobre sua própria vida: conhecer e participar dos conselhos, de atividades recreativas e de convivência. (BRASIL, 2003, grifo nosso).

Nesse sentido, pode se afirmar que o acesso às informações se estabelece como um direito social da pessoa idosa, que está respaldado nos Artigos 2º e 6º, que trata da inclusão e proteção social. Tendo em vista, o fato de que esse segmento etário precisa estar na agenda das políticas públicas do país, é válido destacar que esse grupo populacional deve buscar uma postura ativa diante das questões sobre a garantia dos seus direitos, em todos os âmbitos, pois, o conhecimento destes torna-se importante para possibilitar o pleno exercício da cidadania.

Aprofundando o tratamento da questão, Vieira (1998, p. 59) considera que

Dessa maneira, as políticas públicas nas sociedades democráticas têm de ser responsáveis pelas questões sociais, pelo bem-estar dos cidadãos e por seu desenvolvimento, principalmente dos grupos minoritários. No caso dos idosos, devem garantir boas condições de

saúde, com autonomia física, mental e econômica, a excelência na perspectiva de vida e a assunção de papéis relevantes em seu meio social.

Corroborando com a autora supracitada, salienta-se que esses grupos minoritários nem sempre são incluídos no que tange às ações relacionadas com as questões, nos âmbitos individual e social do envelhecimento. Desse modo, a participação social do idoso contribui significativamente para que essa parcela da população tenha visibilidade e assim, seja reconhecida por toda a sociedade civil, e ao mesmo tempo faça valer os seus direitos.

Considerando-se a necessidade da efetiva participação da pessoa idosa para a consolidação dos seus direitos, o acesso a informação é visto como um instrumento de inserção dos idosos nas discussões à respeitos da sua própria realidade. Vale advertir que estar bem informado torna-se necessário para o protagonismo social e para a tomada de decisões relacionadas aos interesses desse grupo populacional.

Faleiros (2012) assevera que o engajamento dos idosos com perfil intelectual e emocional como agentes nas discussões, no planejamento e na tomada de decisões nos âmbitos individuais e coletivo, é importante para o protagonismo desses sujeitos, sobretudo, para a participação social do idoso na elaboração das políticas voltadas para essa população.

Compartilhando da visão do autor referenciado, afirma-se que para a população idosa ter seus direitos assegurados é necessário o interesse do Estado, sociedade civil e principalmente a participação desses sujeitos. Ainda segundo Faleiros (2012) o direito do idoso, está pautado na Constituição Federal, sendo este enfatizado em vários capítulos, levando em consideração a mudança no papel da pessoa idosa considerada como um sujeito passivo para participante e ativo.

Neste sentido, espera-se que as necessidades informacionais dessa população sejam de fato atendidas de maneira proporcionar o idoso ter o conhecimento necessário para se sentir ativo diante das questões relacionadas aos seus direitos. No tocante à necessidade de se manter informados sobre os direitos, Silveira (2009) pontua que o idoso deve ter acesso e conhecer o Estatuto do Idoso e as políticas públicas que os protegem. A autora salienta ainda que a leitura e apropriação desses documentos devem fazer parte das atividades educativas da pessoa idosa. Deve-se ressaltar que o acesso à informação, deve ser

complementado com a participação desse grupo populacional em espaços de diálogos em conjunto com a sociedade.

Neste contexto, como incentivadora da inserção dos idosos na sociedade, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), foi a primeira instituição a desenvolver o debate em torno dos direitos do idoso no país. Hoje, atuando com diversas atividades e parceiros, visa contribuir para melhores condições de vida, seguridade dos direitos da pessoa idosa, sobretudo, democratização de informação objetivando o envelhecimento ativo. Iniciativas como esta tem um papel relevante nas questões que envolvem o envelhecimento e os direitos do idoso.

Os serviços informacionais de natureza utilitária, foram intensificados no Brasil nos anos de 1990, com a implementação de alguns espaços para este fim, a exemplo: do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) no estado da Bahia, implantado em 1995, foi o pioneiro, com esse tipo de atendimento ao cidadão. Esses postos de atendimento aos cidadãos visam contemplar as demandas informacionais em diversas áreas do cotidiano da população, inclusive referente aos direitos.

Na mesma vertente, órgãos governamentais também estão se mobilizando para suprir essas demandas informacionais e também para a democratização do acesso, disponibilizando informações úteis para a resolução de problemas de diversas naturezas. O Ministério da Previdência Social e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) publicam no ano de 2008 o Guia “Idoso – Cidadão Brasileiro” que apresenta as principais ações e programas com o apoio do Governo Federal voltados para informar sobre as questões dos direitos da pessoa idosa.

Para ampliar as demandas da população, a Previdência Social, presta atendimento a comunidade com um serviço de Call Center no qual as pessoas são informadas sobre benefícios, aposentadoria, pensão, entre outras demandas de interesse da população no âmbito da seguridade social, com agendamento para a resolução de problemas nas agências, além desse serviço, a previdência disponibiliza informações em meio eletrônico através de um site.

No contexto estadual, foi criada em 02 de junho de 2015, a Associação Nacional de Gerontologia do Estado da Bahia (ANG-BA), formada por uma equipe interdisciplinar de natureza científica, que tem como principais objetivos: defender a concretização da Política Nacional do Idoso e do Estatuto do Idoso em âmbito estadual e municipal, entre outros objetivos destaca-se a promoção de seminários, debates, encontros, propor medidas relacionadas à defesa da pessoa idosa, bem

como a capacitação de recursos humanos nas áreas da Gerontologia. A ANG-BA promoveu no dia 1 de outubro de 2015, a Ação Gerontológica, que tratou entre outros objetivos, dar visibilidade as demandas desse grupo populacional, sobretudo, desenvolvendo atividades educativas e serviços de informação para a população idosa. Essas ações contribuem significativamente para aproximar esse segmento da população para as questões do seu cotidiano.

No que tange os espaços destinados ao acesso de serviços informacionais, a biblioteca pública, definida pela UNESCO (2001) como uma “força em prol da educação, da cultura, da informação” pode representar um ambiente de democratização de informação para a cidadania, em razão da sua natureza social e prestadora de serviços à comunidade. Acredita-se que outras instituições podem estar contribuindo para que apessoa idosa possa estar informada dos seus direitos, o que certamente irá contribuir para definir os avanços das políticas públicas desse segmento.

Salienta-se que por se tratar de conteúdo informacional tão necessário para a vida cotidiana da pessoa idosa, os serviços de informação utilitária devem estar ao alcance de todos, de maneira a potencializar o atendimento das necessidades desses usuários. Para reforçar essa ideia, Sousa, Nascimento e Alkimim (2013, p.142) afirmam que “a informação quanto às políticas sociais e à acessibilidade aos direitos tutelados aos idosos é de vital importância para reivindicar os seus direitos junto aos órgãos jurídicos e públicos”. Neste sentido, infere-se que os órgãos públicos de todas as estâncias precisam intensificar ações para a democratização dos conteúdos informacionais.

Contudo, quando se fala em informação na perspectiva do direito, não se pode deixar de mencionar que se trata de uma questão política e educativa, pois, a falta do conhecimento torna o cidadão excluído. Torna-se importante a atuação dos profissionais gerontólogos, assistentes sociais, educadores, bibliotecários, dentre outros, no sentido de democratizar o acesso à informação e facilitar o uso de informação para o cidadão idoso. Por sua vez, os órgãos e instituições governamentais devem disponibilizar serviços informacionais que possa oportunizar à população idosa, a participação em espaços de discussão, conselhos, associações, fóruns, efetivando assim, a sua cidadania.