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Monereo (2010a) salienta que o fator pessoal-emocional está relacionado ao ‘custo emocional’ da mudança de prática educativa em que o professor tem o controle pessoal, tem segurança no trabalho que está desenvolvendo, para optar por outras práticas incertas que o deixam em situação de vulnerabilidade. Diz que a vulnerabilidade está relacionada com a falta de segurança do professor, conforme relatam Atherton (1999) e Darby (2008), tais mudanças podem significar para o professor perda de aprendizagem, devido a estar acostumado com práticas rotineiras, confiáveis e ter que adotar outras práticas. Nesse sentido, a incerteza o acompanha no decorrer do desenvolvimento destas práticas em sala de aula. Monereo (2010a) ressalta que as competências e habilidades pessoais são consideradas relevantes para compreender e lidar com as próprias emoções.

Skovsmose e Penteado (2008), ao abordarem o tema Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) nas escolas, utilizaram os termos ‘zona de conforto’ e ‘zona de risco’. A zona de conforto representa “um alto grau de previsibilidade tanto para alunos quanto para professores” (p. 49). A zona de risco contrapõe a zona de conforto. Para os autores, “segurança e previsibilidade podem estar associadas à zona de conforto, enquanto novas oportunidades de aprendizagem podem estar associadas à zona de risco” (p. 49). Ou seja, a zona de risco é caracterizada pela imprevisibilidade dos acontecimentos, ou ainda, como afirma Penteado (2000) “a produção de novos significados para o conteúdo a ser ensinado. São mudanças que afetam a zona de conforto da prática do professor e criam uma zona de risco caracterizada por baixo índice de certeza e controle da situação de ensino” (p. 23, grifos do autor).

Salgado (1998) aborda a questão da disposição emocional dos professores ao participarem da reforma educacional chilena, que requer dos professores a mudança de compromisso e a aceitação prévia dos atores. Os professores têm como desafio mudar a sua prática, que implica em abandonar práticas pedagógicas a que estavam utilizando para assumir outras que exijam novas atitudes, estratégias e métodos a que não estavam habituados, e isso se torna um outro paradigma, pois as práticas inovadoras são incompatíveis com as anteriores. A autora relata que a reforma educacional chilena é uma boa oportunidade para os estudantes e professores. Para os estudantes, possibilita espaços educativos contemplando a formação de “pessoas reflexivas, responsáveis e abertas paras as diferentes

ideias” (p. 101, tradução nossa). Para os professores “condições necessárias para construir respostas pedagógicas novas, adequadas às demandas da escola, com o apoio das diferentes redes de ensino” (p. 103, tradução nossa). Relata que a reforma chilena espera que os professores:

passem de um estilo de transmissores de saberes para um estilo de condução, guia e apoio aos alunos; de um estilo autoritário para um estilo democrático e participativo, de um estilo que privilegia o individualismo e a competência, para um que favoreça a solidariedade e a cooperação; de um estilo de avaliação pouco flexível, de resposta única e que privilegia o produto, para um estilo de avaliação dinâmica, com respostas abertas e que considere o processo (p. 103, tradução nossa).

O fator pessoal-emocional dos professores é forte perante as mudanças de práticas educativas, pois supõe ocorrer o perigo de desmotivação, de insegurança, de falta de reconhecimento (SALGADO, 1998). A autora diz que “a aceitação de novas práticas é uma experiência que não pode ser forçada, o caminho válido é a persuasão” (p. 105, tradução nossa). Nesse sentindo, o trabalho com o fator emocional do professor é fundamental, pois a sua mudança de prática implica em mudanças de ações que ele vinha realizando. Para a autora, “priorizar a disposição emocional favorável aos professores com atividades que lhes permitem ter experiências significativas é um elemento que contribui para reflexão sobre as suas próprias práticas, sem desvalorizar suas habilidades” (p. 105, tradução nossa). Atherton (1999) aponta outro fator marcante em relação a resistências de aprendizagem ao novo, que é quando ocorre a substituição do que o professor já vem fazendo, ou a ameaça do conhecimento, ou das habilidades que já foram adquiridos por ele. Além disso, Monereo (2010a) destaca que a aceitação sócio-emocional dos colegas de trabalho é imprescindível no processo de mudanças de práticas educativas. O fato de compartilhar ideias e sentimentos e receber o apoio dos colegas de profissão são essenciais para que as mudanças e inovações tenham possibilidades reais de êxito.

Nóvoa (2013) relata que “não é possível reduzir a vida escolar às dimensões racionais, nomeadamente porque uma grande parte dos atores educativos encara a convivialidade como um valor essencial e rejeita uma centração exclusiva nas aprendizagens acadêmicas” (p. 14). A racionalidade impõe uma separação entre o pessoal e o eu profissional, ou seja, as atitudes impostas pelo plano científico para o plano institucional contribuem para intensificar o controle sobre os professores, que pode repercutir negativamente na sua profissão. Ressalta que o professor é “a pessoa, e uma parte importante da pessoa é o professor” (p. 15). Nesse sentido, explicita três fatores que sustentam a identidade do professor: adesão, ação e

autoconsciência. Destacamos os dois últimos fatores relacionados à identidade do professor, no processo de inovações ou mudanças de práticas pedagógicas, explicitando que: na ação, “na escolha das melhores maneiras de agir, se jogam decisões do foro profissional e do foro pessoal [...]” (p. 16), pois certas técnicas e métodos são melhores executados ou compreendidos pela maneira do ser pessoal do que de outros, “a maneira como cada um de nós ensina está diretamente dependente daquilo que somos como pessoa quando exercemos o ensino” (p. 17), e na autoconsciência, o processo de reflexão do professor é decisivo para a sua ação, “a mudança e a inovação pedagógica estão intimamente dependente deste pensamento reflexivo” (p. 16). O professor em sua formação, que não teve experiências com práticas pedagógicas enfatizando o pensamento reflexivo, o envolvimento com questões sociais e o desenvolvimento pessoal, terá dificuldade e indisposição à mudança, e pode se conformar com práticas conservadoras e rígidas utilizada com sucesso em suas aulas.