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O presente estudo visa investigar a escolha do curso de Enfermagem de uma determinada instituição de Ensino Superior, (re)construindo e problematizando a identidade masculina presente na história da Enfermagem, em especial do homem durante a graduação na EEUSP, levando-se em consideração o relacionamento com as professoras, familiares, grupo de amigos, bem como a inserção profissional, e relacionamento entre médicos e enfermeiros no ambiente de trabalho. Optou-se em utilizar o referencial teórico de Pierre Bourdieu.

Bourdieu nasceu em 1930, em Denguin, França. Apesar de suas origens humildes, graduou-se em Filosofia e desenvolveu diversos trabalhos de etnologia sobre a Argélia. No entanto, é como sociólogo que o autor obteve destaque no mundo intelectual. Foi homenageado pelo Collège de France e recebeu a medalha de ouro do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Pierre Bourdieu criou uma obra original e complexa acrescentando à reflexão teórica uma imensa variedade de instrumentos de investigação (estatísticas, entrevistas, observações etnográficas, matérias históricas, etc.). (Araújo, 2006)

Segundo Moraes (2007), Pierre Bourdieu foi um dos principais intelectuais do século XX. Professor de Sociologia no Colége de France, diretor da Escola de Altos Estudos em

Ciências Sociais e diretor da revista Actes de a Recherche en Sciences Sociales, suas contribuições para o pensamento contemporâneo foram inúmeras, sempre com enfoque para questões de educação, cultura, arte e, em seus últimos anos de vida, também para os estudos de comunicação e política.

Bourdieu marcou o pensamento sociológico das últimas décadas tendo como inspiração teórica os clássicos Durkheim, Max Weber e Marx, entre outros pensadores contemporâneos, no que se refere à integração entre teoria e pesquisa empírica. Os estudos produzidos por ele são hoje referenciais, dada a fertilidade de instrumentos conceituais para a compreensão das estratégias de reprodução da sociedade, das lutas simbólicas travadas pela apropriação de bens que, no plano cultural, são realizadas por agentes sociais que visam ao monopólio da competência e do poder. (Miceli, 2013)

Bourdieu mostra que existe, tanto no sujeito, como no grupo, um “sistema de disposições duráveis”, que compreende toda a formação que o indivíduo teve em sua história de vida, podendo ser interpretada pelo capital simbólico que adquiriu e pelo conhecimento de regras e normas sociais pelas quais procura conformar sua ação. Essa mediação entre o indivíduo, que age segundo estruturas definidas, mas com margens que precisam ser fechadas pessoalmente, e a realidade social que se estabiliza, é proporcionada pelo habitus. (Bonnewitz, 2003)

O estudo do habitus de um indivíduo ou grupo permite uma análise sobre as suas práticas e representações, na medida em que estas são objetivamente regulamentadas e reguladas, ocasionando a reprodução das relações direcionada por escolhas de valores, como descreve Bourdieu:

"[...] Os habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas [...]; mas são também esquemas classificatórios, princípios de classificação, princípios de visão e divisão, gostos diferentes. Fazem diferenças entre o que é bom e o que é mau, entre o que é bem e o que é mal, entre o que é distinto e o que é vulgar, etc., mas não são os mesmos." (Bourdieu, 1994 apud Bonnewitz, 2003, p. 83).

Assim, o conceito de habitus que ele desenvolveu em suas obras corresponde a uma matriz determinada pela posição social do indivíduo que lhe permite pensar, ver e agir nas mais variadas situações. O habitus traduz, dessa forma, estilos de vida, julgamentos políticos, morais e estéticos. Ele é também um meio de ação que permite criar ou desenvolver estratégias individuais ou coletivas. (Miceli, 2013)

O conceito de campo, seja de qualquer especificidade, supõe a presença de hierarquias entre os agentes de um mesmo campo e entre campos diferentes. Nesta disposição hierárquica entre os agentes, perpassam aspectos relacionados à origem de classe, trajetória escolar,

acúmulo de bens expresso em capital simbólico acumulado, conjunto de habitus, estilo de vida e grau de legitimidade de um campo em relação a outros.

A noção de campo desenvolvida por Bourdieu constitui-se em uma referência metodológica que visa orientar o modo de construção do objeto no processo de organização da pesquisa e indica a necessidade de pensar o mundo social de maneira relacional.

Os campos se caracterizam por espaços sociais, mais ou menos restritos, onde as ações individuais e coletivas se dão dentro de uma normatização, criada e transformada constantemente por essas próprias ações. Dialeticamente, esses espaços, ou estruturas, trazem em seu bojo uma dinâmica determinada e determinante, na mesma medida em que sofrem influências – e, portanto, modificações – de seus atores. Devendo ser entendidos relacionalmente no conjunto social; diferentes campos relacionam-se entre si originando espaços sociais mais abrangentes, conexos, influenciadores e influenciados ao mesmo tempo. (Araújo, 2006)

Há também o capital cultural, que pode ser percebido em três formas: (Nogueira, Catani, 2015)

O estado incorporado sob a forma de disposições duráveis do organismo. Sua acumulação está ligada ao corpo, exigindo incorporação¸ demanda de tempo, pressupõe um trabalho de inculcação e assimilação. Esse tempo necessário deve ser investido pessoalmente. O estado objetivado é constituído na forma de bens culturais, como livros, quadros, dicionários, computadores; transmissíveis de maneira relativamente instantânea. Todavia, as condições de sua apropriação específica submetem-se às mesmas leis de transmissão do capital cultural em estado incorporado.

O estado institucionalizado refere-se aos títulos e certificados escolares que, da mesma forma que dinheiro, guardam relativa independência ao portador do título. Essa certidão de competência, é possível colocar a questão das funções sociais, do sistema de ensino e de entender as relações que mantém o sistema econômico.

O capital social é um conjunto de recursos (atuais e potenciais) que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas, em que os agentes se reconhecem como pares ou vinculados a determinados grupos. Esses agentes são dotados de propriedades comuns, e também encontram-se unidos através de ligações permanentes e úteis. Assim, o volume de capital social que uma pessoa possui, depende da extensão da rede de relações que pode ou consegue mobilizar e do volume de capital (econômico, cultural ou simbólico), que é posse exclusiva de cada um daqueles a quem está ligado. (Nogueira, Catani, 2015)

O capital econômico é encontrado em diferentes formas como fatores de produção (terras, fábricas, trabalho) e do conjunto de bens econômicos (dinheiro, patrimônio, bens materiais). Pode ser acumulado, reproduzido e ampliado por meio de estratégias específicas de investimento econômico ou de investimentos culturais e à obtenção ou manutenção de relações sociais que podem possibilitar o estabelecimento de vínculos economicamente úteis a curto e longo prazo. (Bonamino et al., 2010)

Portanto, optou-se pelos conceitos de Pierre Bourdieu, por acreditar que este possibilitou a problematização acerca da identidade do ser homem no contexto cultural, levando-se em conta os valores (habitus) e capitais (cultural, simbólico, econômico, social, inseridos no campo dos saberes e das práticas da Enfermagem, mais especificamente no campo da formação profissional, conforme se pretende apropriar e trazer na discussão dos dados.

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