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PIET CORNELIUS MONDRIAAN O MONDRIAN

No documento Arte e matemática em Mondrian (páginas 62-69)

CAPÍTULO 2 COMO MONDRIAN UNE A ARTE E A MATEMÁTICA

2.2 PIET CORNELIUS MONDRIAAN O MONDRIAN

O pintor holândes Mondriaan, Piet Cornelius Mondrian, pois, mais tarde, em, 1911, eliminou uma letra “a” de seu nome, em 1937, no seu artigo intitulado “Arte plástica e arte plástica pura”, escreve sobre a arte abstrata13:

É lamentável que aqueles que estão preocupados com a vida social em geral não compreendam a utilidade da arte abstrata pura. Erroneamente influenciados pela arte do passado, cuja verdadeira essência lhes escapa, e da qual só veem o supérfluo, e não fazem nenhum esforço por conhecer a arte abstrata pura. Influenciados por outra concepção da palavra “abstrato” sentem certo horror por ela. Opõe-se com veemência à arte abstrata porque a consideram algo ideal e irreal.

Assinaturas de Mondrian agenda Hague

A obra de Mondrian é considerada uma das mais revolucionárias contribuições à pintura moderna14:

12 RIZOLLI, Marcos. Artista Cultura Linguagem. Campinas: Akademika, 2005, p. 90.

13

MONDRIAN, Piet. Arte plastico y arte plastico puro. Traducción: Raul R. Rivarola y Aníbal C. Goñi. Buenos Aires: Editorial Vitor Leru, 1957, p. 94. (tradução nossa)

14GÊNIOS DA PINTURA. Pintores Modernos

Tão revolucionária, que sua arte – o neoplasticismo - encontrou oposição mais longa e mais intensa de que a de um Braque ou um Picasso: só em 1942, com 70 anos de idade, é que acedeu em fazer a sua primeira exposição individual, apesar de conhecido desde a I Guerra Mundial.

Arnholdt15 descreve a biografia de Mondrian assim:

[...] nasceu em 7 de março de 1872, na vila de Amersfoort, próxima a cidade universitária de Utrecht. Possuía quatro irmãos e uma irmã, todos com vocação para o desenho. Aos oitos anos mudou-se com o pai, um professor calvinista de quem herdou o nome, e com a mãe, Johana Kok, para a aldeia de Winterswijk. Aí adquiriu dois diplomas, um deles como professor de desenho. Em 1892, enfrentando o desgosto paterno, que não via com bons olhos as inclinações artísticas do filho e que afirmava sempre que a pintura não era profissão, Mondrian parte para Amsterdam, onde se matricula na Escola de Belas Artes. Para se sustentar, dá aulas e produz desenhos bacteriológicos para livros de ciências naturais, pinta retratos e copia quadros de mestres célebres nos museus da Holanda. Não obstante a recusa do pai em aceitar sua opção pela arte, Mondrian foi influenciado por suas ideias religiosas. Nos anos que passa em Amsterdam, demonstrou marcado interesse pela Teologia. Seguiu cursos de religião e entusiasmou-se com a Teosofia, doutrina criada por Edoard Schuré, autor de os Grandes Iniciados. Esteve próximo de ingressar no seminário e tornar-se pastor. [...]

O autor continua dizendo que Mondrian vai para a Espanha esperando encontrar condições para a sua pintura clara, antibarroca e urbana16. Encontrou uma luminosidade diferente de sua terra natal, fracassando, então, em sua tentativa. Em 1900, abandona a igreja calvinista e começa a familiarizar-se com a Teosofia. Viaja em 1903 para a Bélgica. Em 1904, mora nas redondezas de Brabante, uma cidade medieval, e encanta-se com a simplicidade da região, principalmente de seus habitantes. A mística e o requinte estético eram dois ingredientes importantes da personalidade de Mondrian e foi exatamente isso que ele encontrou naquele lugar. Passa o ano seguinte morando naquela região onde produz outras obras e continua seus estudos sobre Teosofia por meio de leituras de Annie Besant, Krishinamurti, Rudolf Steiner, Madame Blavatsky e outros.

15 ARNHOLDT, Henrique. Mestres da Pintura Mondrian. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 6. 16 Ibid, p. 7.

Mondrian, Piet. Fazenda em Nisteirode. 1904. Aquarela, 44,5 x 63 cm. Coleção particular. Holanda

Retorna à cidade de Amsterdam, na qual permanece até 1911. Sua obra Farol em

Westkapelle participa de uma exposição e não desperta interesse dos críticos que não veem em

Mondrian talento.

Mondrian, Piet. Farol em Westkapelle. 1910. Óleo sobre cartão, 39 x 29cm. Galeria G. J. Nieuwenhuizen Segaar, Haia.

Posteriormente, cria, juntamente com outros artistas, o Círculo de Arte Moderna, que anualmente organiza exposições que contam com a participação de obras de Cézanne, Van Gogh, entre outros17.

Henrique Arnholdt18 enfatiza que:

Essa convivência foi vital para o desenvolvimento de sua arte. De sua produção anterior Mondrian dizia:

- O meio em que vivia obrigava-me a pintar objetos de aspecto vulgar, e até mesmo, de vez em quando, a executar retratos à semelhança de modelo. Esse o motivo por que, muitos desses trabalhos não têm valor de permanência.

Aos poucos, Mondrian vai se libertando do assunto para se fixar na elaboração final. Na procura da essência da forma e das relações formais, Mondrian produziu longas séries de desenhos (sobretudo aquarelas) e pinturas.

Mas foi na representação de árvores que ele encontrou assunto para extremos de simplificação, perseguindo uma árvore arquétipo, abstrata, geométrica. Como afirma Maria Leandra Alves19:

Mondrian deu início a um outro tipo de Arte Abstrata, uma Arte que, segundo ele, apresentava a forma essencial da natureza, tornando o subjetivo envolto e tudo que vemos tangível. Aparentemente, ele queria atingir uma Arte de relações puras na criação de suas obras. Assim como os grandes matemáticos gregos que acreditavam aproximar-se da perfeição dos deuses se compreendessem a matemática da natureza, Mondrian considerava a Pintura como uma atividade filosófica e espiritual, sendo “este um meio para a revelação de uma realidade oculta atrás das formas da natureza”20.Ele acreditava que as relações puras da

natureza haviam sido mascaradas pela pintura figurativa, afastando o observador do “verdadeiro fundamento da harmonia estética”21.

Mondrian transformou sua pintura figurativa (imagem A e B) em formas retilíneas, horizontais e verticais, definidas e simples (imagem C). Essa ideia surgiu a partir da observação das árvores. Ele percebeu que a forma vertical e retilínea da árvore, ou de outras estruturas apresentadas pela natureza, se opunha à linha do horizonte. A partir de então, passou a simplificar as figuras de sua

17 ARNHOLDT, Henrique. Mestres da Pintura Mondrian. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 18 Ibid, p. 10.

19ALVES, Maria Leandra. Muito além do olhar: um enlace da Matemática com a Arte. 2007. Dissertação (Mestrado

em Educação em Ciências e Matemática) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 40, 2007. Disponível em: <http://tede.pucrs.brtde_busca/arquivo.php?codArquivo=963>. Acesso em: 6 jun. 2008.

20Ibid. p.40, Apud GOODIN, Mel. Arte abstrata. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, p. 25.

21Ibid. p.40, Apud SCHAPIRO, Meyer. A dimensão humana na pintura abstrata. São Paulo: Cosac & Naify, 2001,

pintura mostrando apenas os traços horizontais e verticais exibidos sutilmente pela natureza.[...]

Mondrian delineava linhas horizontais e verticais, pretas e firmes, em fundo branco, formando retângulos de proporções áureas, colorindo apenas com cores primárias. Tornara-se, nas décadas de vinte e trinta, rígido e dogmático e não admitia diagonais em seu trabalho. Com o passar do tempo, começou a usar as barras horizontais e verticais inseridas em telas com forma de losango.[...]

Imagem A – Mondrian, Piet. A árvore vermelha . 1909/10.

Óleo sobre Tela, 70 x 99 cm. Gemeentemuseum, Haia.

Imagem B- MONDRIAN, Piet. Gray Tree, 1911. Óleo sobre tela, 78.5 x 107.5 cm. Gemeentemuseum, Haia.

Imagem C - MONDRIAN, Piet. Árvore em flor, 1912. Óleo sobre tela. 65 x 75 cm.

Ainda de acordo com Leandra Alves, após o contato com o cubismo, Mondrian volta à Holanda em 1914, para visitar seu pai que adoecera. Com a eclosão da I Guerra Mundial, permanece em seu país até 1919, e continua a buscar a “abstração pura” e a interessar-se pela Teosofia. Nessa época, pintou o mar, fachadas de igrejas, moinhos e faróis. Sobre as pinturas marinhas, afirmou:22

- Ao observar o mar, o céu e as estrelas, procurei indicar sua função plástica por intermédio de linhas horizontais e verticais cruzadas. Impressionado pela vastidão da natureza, tentei expressar sua amplitude, calma e unidade.

O que levou Mondrian a atingir um estilo tão conciso e econômico? Será que aí aparecem as ligações com as formas geométricas mais simples: o ponto, a reta, o plano e as cores primárias?

Muitos críticos acreditavam que o termo Neoplasticismo, criado por Mondrian para designar sua pintura, tenha sido inspirado na concepção místico-religiosa dos teosofistas que admirava.

Em outubro de 1917, Mondrian participa da fundação, junto com Van der Leck e Theo van Doesburg, da revista De Stijl (O estilo), que, em seu primeiro número, trazia artigos de renomados artistas e críticos. Os participantes da revista defendiam que a obra de arte devia definir-se no próprio ato da criação.

A revista homenageia Mondrian desde o início dedicando-lhe o primeiro editorial. Nos seus artigos nessa revista, Mondrian inicia o embasamento teórico do movimento que viria a criar, o neoplasticismo.

O crítico Michel Seuphor afirmou que, nessa fase, Mondrian retomou o fio da grande tradição, a tradição do “homem total”, que pensava não apenas com as mãos, mas também com a cabeça, e que olhava em torno de si não só com os olhos da carne, mas também com os olhos da mente; do homem que não só produzia obras de arte, mas também criava utopias. A Pintura II, de 1921 (página 87), marca essa transformação radical, fruto do período da revista De Stijl, que acompanha o neoplasticismo levado ao extremo. O quadro possui completa autonomia: linhas

22 ARNHOLDT, Henrique. Mestres da Pintura Mondrian. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 15.

negras dividem áreas geometricamente delimitadas, cobertas de tonalidades primárias. Um vigoroso dinamismo resulta da soma de formas e cores.

Foi por meio da revista De Stijl que Mondrian apresentou os fundamentos do neoplasticismo. Entre eles, defende que o meio plástico deve ser a superfície plana ou o prisma retangular em cores primárias (vermelho, azul e amarelo) e em “não cores” (branco, preto e cinza). Em Arquitetura, este último elemento é substituído pelo espaço livre e a cor é o material utilizado.

No documento Arte e matemática em Mondrian (páginas 62-69)