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2.2. Matérias-primas

2.2.4. Pigmentos

Os pigmentos são adjuvantes que se integram na pasta para a obtenção de revestimentos coloridos e têm como objectivo conferir às argamassas cor diferente daquela que se obteria pela mistura simples dos seus outros constituintes. Os pigmentos podem fornecer informações importantes sobre a história, bem como ajudar ao processo de conservação de um elemento construtivo ou ao restauro de uma obra. Quando identificados os pigmentos, estes levam o historiador ou o conservador a tomar decisões e a entender as limitações quando se está perante um elemento ou obra.

Nesta dissertação, foram usados pigmentos minerais do grupo dos ocres, o ocre amarelo e o ocre vermelho. Os pigmentos de origem mineral, em ambientes altamente alcalinos (como o caso das soluções aquosas de cal) são os que apresentam melhor resistência e durabilidade (PASCOAL et al., 2012).

2.2.4.1. Caracterização dos pigmentos

Entende-se por pigmento uma substância sólida, presente na natureza ou produzida quimicamente, orgânica ou inorgânica, branca, preta ou colorida, que absorve, refracta e reflecte os raios luminosos que sobre ela incidem, que seja insolúvel em água e no substrato no qual venha a ser incorporado e que não reaja quimicamente ou fisicamente com ele (ROCHA-GOMES e ALVAREZ, 2007).

Os pigmentos devem apresentar certas características de modo a poderem ser utilizados, sendo exemplos disso: i) estabilidade de cor à luz e à cal; ii) compatibilidade química com os constituintes da argamassa; iii) facilidade de incorporação; iv) elevada pureza e finura; v) poder corante e vi) opacidade. Por outro lado, não devem aplicar-se em percentagens superiores a 10% da massa do ligante, para evitar que afectem a resistência da argamassa (VEIGA e FARIA, 1990; PASCOAL, 2012).

De acordo com Cruz (2007) e Rocha-Gomes e Alvarez (2007), os pigmentos podem ser classificados em função do modo de obtenção e pela natureza química que apresentam.

Os pigmentos podem ser classificados, de acordo com o modo de obtenção como:

Pigmentos naturais – encontrados na natureza, unicamente submetidos a processos de purificação, que permitem separar o material de que se aproveita a cor das impurezas, e de natureza física, como a moagem. Apresentam alta capacidade de coloração, baixo custo e são pouco homogéneos (depende do local de extracção).

Pigmentos sintéticos – produzidos através de reacções químicas, a partir de materiais mais simples ou por decomposição de materiais mais complexos. Apresentam um elevado grau de pureza e uniformidade, maior estabilidade térmica e química e são mais caros que os naturais.

Por outro lado, os pigmentos podem ser classificados, de acordo com a natureza química como:

Orgânicos – extraídos de substâncias vegetais e animais, que requerem manipulação antes de serem utilizados.

Inorgânicos – facilmente encontrados, extraídos de minerais, moídos e retiradas as impurezas ou, se sintetizados artificialmente, são geralmente simples.

São exemplos de pigmentos naturais e inorgânicos a malaquite, os ocres (amarelo, castanho e vermelho), o negro de osso, o negro de videira, a terra de siena e o vermelhão. Em relação aos pigmentos sintéticos e inorgânicos, são exemplo o branco de titânio, o branco de chumbo e o azul egípcio. Quimicamente correspondem sobretudo a óxidos, carbonatos ou sulfuretos de alguns metais de transição,

designadamente cobre, ferro, crómio e cobalto, ou de outros metais dos grupos principais da Tabela periódica, como o chumbo (CRUZ, 2000).

2.2.4.2. Breve história da utilização dos pigmentos

A utilização constante de pigmentos remonta há mais de 4 mil anos. No entanto, foram descobertos em cavernas com cerca de 30 mil anos, como na gruta de Chauvet, arte rupestre executada com pigmentos, na altura obtidos por fontes naturais. Foi utilizado um pigmento preto, sendo o primeiro pigmento conhecido pelo Homem. Era formado essencialmente por carbono e foi utilizado em muitas outras pinturas pré-históricas. Presentemente é conhecido como Negro de Carvão ou Negro-de-Fumo (ROCHA- GOMES e ALVAREZ, 2007; CRUZ, 2007). Igualmente, existem estudos que provam que alguns ocres vermelhos foram usados nas pinturas pré-históricas e preparados artificialmente através da calcinação de ocres amarelos (CRUZ, 2007).

Também é conhecida a utilização de pigmentos sintéticos na antiguidade. Pensa-se que o primeiro pigmento sintético utilizado foi o azul egípcio, conseguido através de processos mais complexos que a calcinação e obtido por união do cobre, sílica e calcário. Foi o principal pigmento azul do Egipto antigo e da civilização romana, apesar de ter caído em desuso a partir do século IX. Por outro lado, existem pigmentos naturais, como por exemplo os ocres, que ainda hoje continuam a ter grande utilização. Outros pigmentos naturais que tiveram também importância foram o azul ultramarino, o cinábrio, a azurite, a malaquite e a terra verde, sendo os dois primeiros considerados materiais de luxo e de prestígio na Idade Média e na época romana, respectivamente; actualmente já não são utilizados,tendo sido substituídos, já há alguns séculos, por outros pigmentos mais económicos (CRUZ, 2007).

Apesar do número de pigmentos ao longo da história não ter parado de aumentar, foi nos séculos XIX e XX que ocorreu a maior expansão de pigmentos, devido ao grande desenvolvimento da química que ocorreu desde o final do século XVIII (CRUZ, 2000). Um exemplo disso foi a experiência realizada por um químico inglês, William Henry Perkin, que em 1856 sintetizou a mauveina, o primeiro corante orgânico produzido. Foi a partir desta experiência que muitos outros pigmentos foram descobertos, sendo que actualmente mais de 90% dos pigmentos utilizados são sintéticos (ROCHA-GOMES e ALVAREZ, 2007).

2.2.4.3. Ocres

Como referido anteriormente, os ocres têm sido bastante utilizados desde antiguidade porque, para além de serem pigmentos provenientes de terras naturais de grande abundância e de fácil extracção, não necessitam de preparação elaborada e apresentam um baixo custo comercial; também são pigmentos que apresentam grande capacidade de coloração, estabilidade às condições meteorológicas (luz, oxidação e corrosão). São considerados os pigmentos mais abundantes (CASAL et al., 2007).

Além da terra verde, a maior parte das terras apresentam cores como o amarelo, o vermelho e o castanho. Estes pigmentos são fundamentalmente materiais de origem argilosa cuja cor é devida a alguns minerais de ferro. Os ocres vermelhos contêm predominantemente hematite (Fe2O3), enquanto os ocres amarelos

são mais ricos em óxido de ferro hidratado, a goetite (Fe2O3.H2O ou FeO.OH. A cor do ocre castanho é

conseguida pela mistura de goetite com hematite. Tal como a terra verde, estes pigmentos são quimicamente muito estáveis (CRUZ, 2007).

Portugal é muito rico geologicamente em pigmentos ocre amarelo e vermelho, no entanto a tradição de extracção destes pigmentos está praticamente extinta (FARIA et al., 2010; CASAL et al., 2007).