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Pizzicato com a mão direita

No documento O legado de Pablo de Sarasata (páginas 85-88)

4. Análise de aspectos de técnica violinística

4.4. Pizzicato

4.4.1. Pizzicato com a mão direita

Embora no seu método de violino Alard não se foque no pizzicato feito com a mão direita, talvez por ser mais comum e aparentemente poder ser efectuado por estudantes ainda em fase inicial, Sarasate mostra-nos que este efeito realizado com a mão direita não será de ignorar e, em termos de desenvolvimento da técnica violinística, tem bastante importância.

Fig. 55 – Sarasate - Jota de Pamplona, Op. 50 (cc. 111-126)

Na Fig. 55, em virtude de haver compassos seguidos em que se alternam constantemente notas que deverão ser tocadas em pizzicato com notas que deverão ser tocadas com o arco, a arcada tem que ser sempre para cima, tal como indicado nos primeiros compassos, de modo a ficar com a mão posicionada para realizar o pizzicato. Por este motivo, assim que a mão direita realiza o pizzicato, o braço direito tem que se mover com velocidade, de modo a conseguir posicionar novamente o arco para realizar a arcada para cima. Embora não seja expectável uma relação directa entre pizzicato e os benefícios que a realização do mesmo possa trazer ao desenvolvimento do braço direito, esta situação é duplamente benéfica. Por um lado obriga a uma certa velocidade de braço direito, com o arco fora da corda, o que requer um bom domínio do mesmo, pois está sem qualquer apoio. Por outro, é necessário treinar a colocação do arco na corda antes de o deslizar, ou seja, primeiro tem que ocorrer o contacto entre o arco e a corda, sem ruídos parasitas, e só depois se realiza a arcada. Pode verificar-se que, por vezes, há uma pausa entre o pizzicato e a arcada, o que permite não só uma melhor preparação dos dedos da mão esquerda para tocar os intervalos, como também o treino do movimento que os dedos da mão direita têm que fazer entre a posição necessária para efectuar o pizzicato e a posição de segurar no arco.

Na Fig. 56 está exemplificada uma passagem em que o intérprete se depara com o problema da velocidade em que a mesma tem de ser efectuada. A indicação do andamento Presto não deixa dúvidas quanto à rapidez desejada e, o facto dos acordes se sucederem, sem

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pausas ou compassos de espera, obriga a que se faça o movimento de pizzicato com alguma velocidade, não havendo tempo para voltar a colocar o dedo indicador da mão direita novamente na corda da nota mais grave do acorde para realizar o pizzicato seguinte. Em virtude da passagem se realizar em acordes e em muitos deles haver dois dedos da mão esquerda ocupados a pressionar as cordas, a realização de pizzicato com a mão esquerda também não é viável. A maneira de resolver o problema é realizando o movimento em sentidos opostos. Embora sem a indicação de e , o movimento deverá ser feito dessa maneira devido à velocidade indicada.

Fig. 56 – Sarasate - Canciones Rusas, Op. 49 (Presto cc. 1-8)

Por vezes opta-se por esta solução, até mesmo em passagens de obras escritas por compositores não violinistas e, naturalmente, sem nenhuma indicação específica nesse sentido, ou seja, a intenção é a de que o resultado final soe de determinada maneira e não que se utilize um determinado tipo de técnica. A técnica a utilizar fica ao critério do intérprete, tal como se pode verificar na passagem da Fig. 57. Nos dois grupos de tercinas não é invulgar optar-se por se efectuar o pizzicato ou, embora menos frequente, 69.

Fig. 57 – Prokofiev - Violin Concerto nº 2, Op. 63 (1º and. Tempo I cc. 3-7)

É claro que o pizzicato feito para cima não soa exactamente igual ao pizzicato feito para baixo e, no caso de um acorde (ou até mesmo de um intervalo), pode-se colocar a questão das notas soarem por uma ordem diferente consoante seja a direcção do pizzicato. No

69 O violinista Dmitry Sitkovetsky (n. 1954) nesta passagem, nas tercinas, realiza os pizzicatos , o violinista Zeyu Victor Li

(n. 1996) faz a primeira tercina e a segunda tercina como se pode ver aos 10'17'' em

https://www.youtube.com/watch?v=5P8K_rn5NtQ. (acedido a 13 de Agosto de 2017). A realização da primeira tercina com a opção implicou efectuar o acorde imediatamente antes com o pizzicato para cima, tendo deste modo que realizar a combinação .

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exemplo apresentado na Fig. 57, com o pizzicato feito para baixo, as notas das tercinas tocam- se pela ordem Sib Fá Réb enquanto que feito para cima, as notas serão tocadas pela ordem inversa. Como em tantas outras situações esta é uma questão de bom senso e de equilíbrio entre a velocidade com que se consegue efectuar o pizzicato e a destreza para o poder fazer com movimentos opostos.

Na Fig. 58 pode observar-se o ponto de contacto do dedo indicador da mão direita com a corda para iniciar um acorde em pizzicato que comece com uma nota na corda Sol, bem como a inclinação necessária do dedo para que este possa percorrer as 4 cordas para efectuar o movimento . A fig. 59 ilustra o ponto de contacto do dedo indicador com a corda Mi, para realizar o movimento inverso, ou seja, 70.

Fig. 58 – Início do movimento para Fig. 59 – Início do movimento para

efectuar pizzicato para baixo efectuar pizzicato para cima

O controlo da força com que se realiza o pizzicato é muito importante pois não se trata apenas de puxar a corda de modo a que ela vibre. Para além das dinâmicas que possam existir, por vezes é necessário fazer sobressair determinadas notas que fazem parte de um intervalo harmónico ou que estão inseridas num mesmo acorde. Eugène Ysaÿe escreveu uma parte do 2º andamento da sua Sonata nº 4, Op. 27, totalmente em pizzicato e o tema, que aparece em notas de tamanho mais pequeno, deverá sobressair no meio de todos os intervalos e acordes em que está inserido ao longo de todo o andamento.

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~ 62 ~ Fig. 60 – Ysaÿe - Sonata nº 4, Op. 27 (2º and. cc. 1-7)

No documento O legado de Pablo de Sarasata (páginas 85-88)

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