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Principalmente em razão do aumento da competição por terras, água, recursos biológicos e energéticos, surge o planejamento ambiental, com a função de organizar o uso da terra, para a melhoria de vida de populações e aumentar a proteção de ambientes ameaçados (SANTOS, 2004). Com o ideário do desenvolvimento sustentável, o planejamento ambiental é entendido como forma de integrar

informações, diagnosticar o ambiente e normatizar o seu uso dentro de uma linha ética de desenvolvimento.

Mudanças nas políticas agrícolas levaram ao declínio da população rural, acompanhada de significativas mudanças na paisagem. Paradoxalmente, muitas áreas rurais têm tido expressivo crescimento demográfico. Dada a extensão das áreas que têm experimentado essas mudanças, pouca atenção tem sido dada para a correlação entre os processos de migração rural e os de desenvolvimento da paisagem. Assim, esses processos devem ser explorados na escala em que são mais evidentes, mediante uma abordagem em multi-escala no seu contexto doméstico, local e regional. Numa escala local as mudanças revelam novo padrão de assentamento residencial induzido pelo fluxo de migração. Características específicas da paisagem parecem ser a força determinante desse fluxo. Ao mesmo tempo, esses movimentos populacionais têm influências nas dinâmicas da paisagem. A migração parece não afetar em escala local o uso da terra. Entretanto, está significativamente associado a práticas domésticas individuais, as quais são indicadoras da identidade dos migrantes com sua paisagem rural, sugerindo valores qualitativos específicos para tal cenário. Interesses urbanos pelas paisagens rurais, que não partem de agricultores, desafiam as políticas de planejamento para guiar a evolução da paisagem em benefício de seus produtores e consumidores (PAQUETTE & DOMON, 2003).

Observa-se que as paisagens, física e social, estão em constante mudança, frequentemente vindas de fatores externos. Dessa forma, as comunidades desenvolvem uma “tradição de mudança” conseguindo a sua reprodução social ao longo do tempo (PINEDO-VASQUEZ, 2002).

Para Ross (2006), a questão ambiental deve ser tratada com base em um sistema conceitual com três vertentes, e interativo, que é definido pelo geossistema, território e paisagem, isto é, em três espaços e três tempos. O tempo do geossistema é o da natureza antropizada. É um conceito naturalista, dos funcionamentos bio-físico- químicos, considerando a dimensão geográfica do ambiente natural e sendo mais completo que o ecossistema. O tempo do território é o do social e do econômico, o tempo do desenvolvimento durável da pesquisa, da gestão, não envolve a dimensão natural e é a interpretação socioeconômica do geossistema. O tempo da paisagem é

aquele do cultural, do patrimônio, da identidade e das representações, do mito e do rito. Considera a paisagem mais que um conceito, permite ao geógrafo o acesso do mundo das representações sociais e da natureza, inteirando o natural e o social.

Para Monteiro (2000), a integração antrópica nos geossistemas deve ser considerada em função:

- da extensão do território focalizado (espaço)

- da duração histórica da ocupação humana e sua importância processual (tempo)

- do grau de intensidade sob o qual se manifestam as ações antropogênicas em suas relações com as partes dos geossistemas (estrutura interna e dinamismo funcional)

O território é o espaço onde se expressa o produzido, o vivido e o percebido (SANTOS, 2002).

A elaboração do projeto de território visa atribuir aos atores locais e às instituições associadas capacidades de valorizar o seu ambiente, agir em conjunto, criar elos intersetoriais em busca de uma capacidade máxima de gerar valor agregado e iniciar processos que buscam relações com outros territórios (PETTER, 2007).

A Geografia tem representado um valioso suporte para o planejamento governamental embasando as políticas públicas para os planos, programas e projetos relativos ao desenvolvimento social, econômico e ambiental, devendo o desenvolvimento ambiental estar atrelado a uma política pública de planejamento ambiental que envolva aspectos educacionais, de saúde pública, de infraestrutura, ordenamento territorial em função de potencialidades e fragilidades naturais, com a gestão territorial (ROSS, 2006).

O planejamento ambiental consiste na implementação metodológica para análise e diagnóstico do meio com identificação de impactos, riscos e eficiência de uso, elaboração de modelo de organização territorial e proposição de mecanismos de gestão. A escolha de um determinado instrumento de planejamento deve ser adequado ao espaço político territorial, tais como: Estudos de Impacto Ambiental, Planos de Bacias Hidrográficas, Planos Diretores Ambientais, Áreas de Proteção Ambiental, Zoneamentos (SANTOS, 2004; RODRIGUEZ, 1991).

Santos (2004) procurou mostrar que o planejamento ambiental é um caminho de desenvolvimento sem preocupações sobre seu enquadramento como ciência ou técnica, mas com enfoque sobre o processo educativo que ele representa, garantindo participação e educação para todos. A autora enfatiza que não se tem sempre uma verdadeira compreensão da realidade de uma área planejada, das alterações naturais ou antrópicas, sendo o diagnóstico parcial, sujeito a erros e de seleção de indicadores. Assim, o planejamento deve ser constantemente revisto e adequado para a construção de soluções cada vez mais próximas da realidade. Todo planejamento que visa definir políticas e embasar tomadas de decisão necessita de conhecimento sobre os componentes que formam o espaço. Para tanto, é necessário fazer uma coleta de dados e uma estratégia é atribuir valores em uma escala fixa para todos os dados obtidos, transformando-os em valores numéricos (Figura 4.7).

O território pode ser entendido como um espaço geográfico de tamanho variável, socialmente organizado, com seus recursos e capacidades para materializar inovações e gerar sinergias positivas entre os responsáveis pelas atividades produtivas (tecido empresarial) e a comunidade (tecido cidadão). O território é visto como “o modo de estabelecimento de um grupo, no meio ambiente natural, que na organização das atividades, instaura e faz prevalecer as condições da comunidade-linguagem e da aprendizagem coletiva” conforme descreve Pires (2007) .

A criação de um território depende de como a comunidade se organiza em termos políticos e societários, de como constrói as instituições democráticas, em forma de projeto comum. Desta forma o território é o agente coletivo do desenvolvimento. O conceito de território socialmente construído ajuda a compreender as características culturais, ambientais e seus atores sociais em busca de desenvolvimento produtivo e social. Assim, a construção do território voltada para o desenvolvimento é a constituição de um espaço abstrato com diferentes atores próximos, com uma ancoragem geográfica estabelecida, com objetivos de resolver problemas com seus recursos particulares. Assim, o território é um espaço de coordenação de ações entre os atores sociais (PIRES, 2007).

Figura 4.7. Fluxograma da Estrutura Organizacional de Planejamento elaborada para uma área rural de produção.

Fonte: Adaptado de Santos (2004).

Geração de produtos - geologia - geomorfologia - solos

- hidrografia superficial e sub-superficial - vegetação - uso da terra - principais acessos - clima - espeleologia - fauna

- aspectos culturais e históricos - atividades antrópicas e legislação

- caracterização socioeconômica e organização social da zona de amortecimento

- aspectos institucionais da propriedade e situação fundiária - ocorrência de fogo e fenômenos excepcionais

Fase 2

Elaboração do diagnóstico (integração espacial dos dados e zoneamento)

Reestruturação dos objetivos - reuniões técnicas - oficinas de planejamento

Detalhamento temático e espacialização dos dados - avaliação de paisagens

- entrevistas direcionadas

Integração dos dados

- avaliação das potencialidades e aptidões de produção

- caracterização dos cenários passada e atual em relação à apropriação do espaço pelo homem sob enfoque da sustentabilidade - avaliação das conformidades, impactos e conflitos com a sustentabilidade Tratamento dos dados

- compilação e tratamento de dados bibliográficos e cartográficos

- interpretação de imagens de satélite e fotos aéreas com trabalhos

- reinterpretação

- digitalização da base cartográfica e mapas temáticos

- entrevistas com lideranças locais e representantes de órgãos públicos Compilação e tratamento de dados Fase 1

Caracterização geral e avaliação de impactos na área rural produtiva

Definição de objetivos - Reuniões técnicas - Oficinas de planejamento

Levantamento dos dados

- Físicos, biológicos e histórico-culturais - Levantamento de dados bibliográficos - Avaliação ecológica rápida - Diagnóstico rápido participativo Integração dos dados temáticos

Geração de produtos

Caracterização de: fatores abióticos - ambientes naturais

- aspectos culturais e históricos

- ocorrências de fogo e fenômenos naturais e excepcionais - atividades da propriedade e seus impactos evidentes - aspectos institucionais

Fase 3

Zoneamento e recomendações

Fase 4

Ações gerenciais gerais internas e externas Áreas estratégicas de ação