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2. UNIDADES DE CONSERVACÃO

2.3. Uso público em Unidades de Conservação

2.3.2. Planejamento, implantação e manejo de trilhas

O primeiro passo para o boa gestão das trilhas é entender que, para mantê-la em sua função e objetivos iniciais, sem que haja crescentes e cumulativos impactos ambientais negativos resultantes do seu uso, cada processo deve acontecer de forma integrada e não isolada (LECHNER, 2006), como é ilustrado a seguir, na figura 1.

Figura 1 - Passos para a abordagem integrada de trilhas.

Fonte: LECHNER, 2006

Como bem coloca Alcantara (2007, p.38),

o planejamento impróprio, ou às vezes a falta deste, aumentam os custos de construção e manutenção das trilhas e, na maioria das vezes, resulta em impactos ambientais indesejáveis.

Este autor ainda lembra a importância de, estimar os riscos e perigos envolvidos, dessa forma, além de planejar a trilha para a caminhada em si, deve-se pensar na possibilidade de rotas de fuga, acessos facilitados para o caso da necessidade de resgate, por exemplo.

Esta questão é relevante para a área de estudo, pois recentemente (DIÁRIO DOS CAMPOS, 2015) houve um acidente no Setor de Escalada Macarrão, uma das áreas de visitação consolidada, dentro da mesma propriedade da Furna Buraco do Padre. O acesso para o socorro mobilizou cerca de 30 pessoas e apenas depois de algumas horas foi possível levar a pessoa acidentada ao local adequado para atendimento. A chegada da equipe de socorro foi dificultada pela falta de uma trilha que facilitasse o acesso até o local do acidente.

Em uma área onde não há trilhas, deve-se inicialmente fazer o inventário que consiste no levantamento de dados biofísicos, observando as características da área (ALCANTARA, 2007). Lechner (2006) destaca como um dos passos iniciais do planejamento de trilhas, a definição dos objetivos da mesma, respondendo algumas perguntas como “por que faremos o que nos propusemos?”, “o que queremos alcançar com essa trilha em particular?”, “providenciar o acesso de visitantes a uma determinada atração?”, “permitir uma rota de saída ou de resgate?”, “criar oportunidades de interpretação?”, “fornecer alternativas para reduzir o impacto em outras trilhas?”, “reconstruir uma trilha deteriorada já existente?”. Definindo os objetivos do planejamento de uma trilha é possível definir os passos seguintes na correta implantação de um trilha ou rede de trilhas.

Dentro do contexto das UCs, o planejamento das trilhas deveria ser meticuloso, pois trata-se do uso público em áreas remanescentes, onde está protegida parte da biodiversidade que ainda opera na manutenção da vida, sob vários aspectos, porém como o quadro atual da situação das UCs não representa o objetivo da criação das mesmas, o que se almeja é que, pelo menos, os impactos ambientais negativos possam ser remediados com a recuperação das trilhas já em uso nestas áreas, levando-se em conta os aspectos biofísicos, sociais, financeiros e a demanda dos visitantes.

Algumas metodologias são utilizadas nesta etapa, como a ROS (Recreational Oportunities Spectrum – Espectro de Oportunidades de Recreação), para se ter um “zoneamento” das atividades por área, e dessa forma incrementar a experiência do visitante, dando possibilidades dentro da UC, o que consequentemente reduz a sobrecarga sobre um único atrativo.

Outra metodologia capaz de subsidiar esta etapa é a EBM (Experienced Based

Manegement – Manejo baseado na experiência), uma forma de manejo que

permite que os planejadores possam projetar e definir as trilhas e estruturas associadas (áreas de descanso, segurança, sinalização, etc.) de maneira a possibilitar que os potenciais usuários tenham suas expectativas atendidas. (LECHNER, 2007, p.22)

Ainda, visando a minimização dos impactos ambientais por sobrecarga de pessoas em uma mesma área ao mesmo tempo, há as metodologias de capacidade de carga, que serão mais bem descritas posteriormente. Essas metodologias entram em constante debate, pois, nem sempre um número resultante de contas ou análises é a chave para a conservação da UC.

A implantação de trilhas requer um trabalho sumariamente prático, em campo, e é executada com uma equipe multidisciplinar que deve analisar o terreno, as condições ambientais como Geologia, Geomorfologia, vegetação e fauna, além de características locais.

Conforme o que apresenta Alcantara (2007), algumas ferramentas são úteis para a fase de implantação de uma trilha: foice e penado†, enxada e enxadão, cavadeira, machados, pé-de-cabra, serras, chibanca‡, pá, baldes e carrinho, martelos. Esses materiais podem ser utilizados também para a fase de manejo e manutenção da trilha, pois configuram materiais que auxiliam na abertura da trilha, regularização do piso, deslocamento de obstáculos (pedras, troncos, galhos e raízes), construir degraus.

Durante a I Oficina de Planejamento e Sinalização de Trilhas do Parque Estadual da Serra do Papagaio (MG), realizada entre os dias 05 e 09 de dezembro de 2015, pela gerente desta UC em parceria com o idealizador da Trilha Transcarioca para a abertura, sinalização e manejo de trilhas. Neste momento foi possível averiguar na prática como estes processos são importantes e, sendo efetuados de forma adequada, eficientes para o bom funcionamento da UC (número de pessoas perdidas nas trilhas diminui, quando há sinalizações visíveis e claras, por exemplo) como para alcançar os objetivos

Ferramenta utilizada para abertura ou clareamento da trilha (roçada). ‡

Ferramenta utilizada para destocar os terrenos, com um lado para cavar a terra e outro para cortar as raízes e troncos das árvores.

de criação de uma UC que permite o uso público. Dessa forma, além de atrair o visitante para mais atividades, maior tempo de permanência no local, a implantação de novas trilhas tem o intuito de restringir a área onde o impacto ambiental pelo uso é inevitável, e pode conectar o visitante a uma área maior ou para outros atrativos dentro da UC. Da mesma forma, o manejo e manutenção das trilhas já existentes é um dos fatores que pode contribuir para a positiva experiência do visitante, além de ser uma forma de conservar a área como um todo e manter a qualidade dos atributos naturais que primeiramente provocaram a criação de uma área protegida e a iniciativa da visitação por parte dos usuários.

Assim sendo, primeiramente se procedeu a classificação da trilha, com levantamento de dados úteis aos gestores e aos visitantes, como é descrito a seguir.

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