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PLANEJAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS E USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

4.3 O SISTEMA BRASILEIRO

4.3.2 PLANEJAMENTO MUNICIPAL

Nesta seção, as ações de planejamento de uso e ocupação do solo na escala local serão apresentadas pelos dispositivos legais e procedimentos adotados pelos agentes institucionais, identificando como as decisões de desenvolvimento local são influenciadas pelas diretrizes estabelecidas em diferentes níveis de governo.

O Poder Executivo Municipal no Brasil detém a competência para realizar a política urbana, possuindo um papel de grande relevo na concretização da organização do território municipal, que serão organizados segundo as Leis Orgânicas próprias, tendo por finalidade garantir a existência digna da população, bem como a condição de materializar os objetivos fundamentais do Estado, definidos no artigo 3º da Constituição Federal de 1988, reduzindo as desigualdades sociais (SILVA, 2006).

Segundo Mukai (2002), no Brasil o Plano Diretor Municipal é o instrumento técnico-legal definidor dos objetivos de cada municipalidade, mesmo com supremacia sobre os outros para orientar toda atividade da administração e dos administrados nas realizações públicas e particulares que interessem ou afetem a comunidade. Na fixação dos objetivos e na orientação do desenvolvimento do município é a lei suprema e geral que estabelece as prioridades nas realizações do governo local, conduz e ordena o crescimento da cidade, disciplina e controla as atividades urbanísticas em benefício do bem-estar social.

Segundo Silva (2006), o Estatuto da Cidade, instituído pela Lei 10.257 de 2001, estabelece diretrizes gerais da política urbana ao regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal. O Estatuto da Cidade reafirma o Plano Diretor como instrumento básico da política de uso e ocupação do solo municipal, devendo estabelecer os objetivos buscados, o prazo em que estes devem ser alcançados, as atividades a serem executadas e quem deve executá-las.

De acordo com Pires (2007), a elaboração dos Planos Diretores Municipais foi fortalecida com o estabelecimento das punições previstas no Estatuto da Cidade, entre suas disposições se destaca a que faz incidir sobre o chefe do Poder Executivo Municipal a sanção de improbidade administrativa, caso não sejam tomadas as providências para que o Plano Diretor seja aprovado em até cinco anos após a entrada em vigor da Lei (art. 52, inciso VII).

O Plano Diretor é, desse modo, um dos principais instrumentos da política de uso e ocupação do solo, nos termos do que dispõe o Estatuto da Cidade no art. 4º, inciso III, que prevê como instrumentos do planejamento municipal, entre outros, o Plano Diretor e o Zoneamento Municipal.

O zoneamento de uso e ocupação do solo municipal é destinado a definir a distribuição espacial das diretrizes estabelecidas no Plano Diretor, realizado na escala 1:10.000. O Zoneamento Municipal constitui procedimentos que tem por objetivo regular o uso da propriedade do solo e dos edifícios em áreas homogêneas, no interesse do bem-estar da população.

É por meio do zoneamento municipal que serão permitidos ou vetados a aplicação dos instrumentos de indução da política urbana, previstos no art. 4º. do Estatuto da Cidade, como áreas passíveis de desapropriação, servidão administrativa, operações urbanas consorciadas, regularização fundiária, concessão de uso especial para fins de moradia, o direito de preempção, outorga onerosa do direito de construir e alteração do uso, imposto territorial progressivo sobre a propriedade predial e territorial urbana, entre outros.

Segundo Silva & Teixeira (2009), os instrumentos de indução da política urbana foram criados pelo Estatuto da Cidade como mecanismos para direcionar as atividades econômicas e o uso e ocupação do solo municipal, com potencial para controlar a qualidade ambiental. No entanto, as práticas de zoneamento e planejamento municipal são fortemente influenciadas pela tradição do planejamento urbano, o que acaba determinando um predomínio das prioriadades para o gerenciamento das questões urbanas sobre às da dimensão rural.

Sendo assim, a Prefeitura Municipal é a responsável pelo Plano Diretor Municipal e pode optar pela contratação de serviços de consultoria para sua elaboração, que, segundo o Estatuto da Cidade, art. 40, deve ser aprovado e transformado em Lei pela Câmara Municipal. O processo de elaboração do referido plano é apresentado na Figura 9.

A Figura 9 descreve a sequência de procedimentos para o Plano Diretor Municipal - PDM. O PDM inicia com as orientações do Estatuto da Cidade, isto é, o estabelecimento e cumprimento da função social da propriedade, e todas as etapas sequenciais devem atendê-la.

FIGURA 9 – Etapas e procedimentos do Plano Diretor Municipal (fonte: elaborado pelo autor)

Primeiramente é realizado o diagnóstico atual contemplando aspectos relativos à infraestrutura existente, oferta de serviços urbanos e recursos naturais. É realizado um levantamento da oferta e demanda de infraestrutura para que sejam identificadas as condições de distribuição dos ônus e benefícios dos serviços municipais. As disparidades identificadas são utilizadas para o estabelecimento de ações prioritárias para a correção dos problemas sociais.

A partir do reconhecimento da situação atual do desenvolvimento municipal é criado um zoneamento municipal para diferenciar as áreas da cidade passíveis de controle por meio dos instrumentos de indução da política urbana. A proposta é apresentada na forma de um Projeto de Lei que deve ser discutido em audiências públicas com a população. Segundo Geneletti (2012), os planos de uso e ocupação do solo local preveem o estabelecimento de regras para o zoneamento espacial, com restrições e incentivos para viabilizar o gerenciamento ambiental.

Depois de estabelecidos e realizados os ajustes necessários que foram identificados nas audiências públicas, o projeto de Lei é encaminhado para análise para o Poder Legislativo Municipal. Uma vez aprovado, é transformado em Lei Orgânica Municipal na forma de Plano Diretor, que deve ser revisto a cada 10 anos.

O Plano Diretor Municipal limita seu conteúdo ao âmbito estratégico de decisão, podendo conter o indicativo dos planos setoriais complementares a serem realizados em função das prioridades estipuladas pelo Poder Público Municipal, como por exemplo, questões relativas aos recursos hídricos e saneamento ambiental.