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2. CONTEXTUALIZAÇÃO

2.3.1 ACB NO PLANEJAMENTO PÚBLICO EM ADAPTAÇÃO

Uma análise custo-benefício tem como objetivo comparar diferentes cursos de ação, seus custos de implementação, operação e manutenção e seus benefícios, a partir de uma mesma base (geralmente, unidades monetárias) e com enfoque primordialmente econômico. Tal comparação oferece subsídios aos processos de tomada de decisão tanto de gestores privados quanto públicos29 (vide Quadro 2-13).

Quando aplicada junto a processos de escolha pública, a ACB assinala maior relevância à eficiência e à maximização do bem-estar da sociedade ao comparar todos os custos e benefícios de diferentes opções de atuação do setor público, em particular na realização de investimentos em obras de infraestrutura.

A adoção de uma base comum, expressa em termos monetários, é um recurso operacional que permite a uma ACB realizar comparações inclusive entre medidas associadas à provisão de bens e serviços ambientais com outros bens econômicos e oferece ranqueamento da atratividade de cada medida com relação às outras (Adler & Posner, 1999; GVces, 2014). Ainda que dotada de limitações e incertezas, a ACB é método frequentemente adotado também para a análise de medidas de adaptação às MC.

29 Historicamente, a condução de uma ACB estava mais associada à avaliação de investimentos na esfera privada. Com o passar do tempo o método passou também a ser parte do ferramental á disposição de gestores públicos (Pearce, 1998).

Quadro 2-13: Como comparar medidas em uma ACB

Uma ACB busca permitir a comparação entre diferentes medidas/ações disponíveis aos tomadores de decisão. Entretanto, para que essa comparação seja apropriada, é necessário estabelecer uma base comum entre essas medidas e seguir métodos e parâmetros similares para todas elas.

Em primeiro lugar, deve se levar em consideração qual o problema que se busca responder, entender como as medidas eliminam (ou reduzem) seus impactos, para então observar seus custos e benefícios com relação a esse objetivo comum30. Esses custos e benefícios são observados ao comparar um cenário sem a aplicação

de cada medida e outro com a adoção bem-sucedida da medida em questão.

Em análises conduzidas em caráter ex-ante e para períodos distantes no futuro é, então, necessário observar e agregar os resultados para todos os instantes entre o início e o término do período de análise. Tal prática é feita ao utilizar uma taxa de desconto e trazer todos os custos e benefícios a valor presente. Assim, é possível observar e comparar as medidas de adaptação a partir de três métricas:

- Valor Presente Líquido (VPL): diferença entre os benefícios (B) e os custos trazidos (C), ambos, a valor

presente (B - C). Essa métrica compara as medidas em termos absolutos.

- Relação Custo-Benefício (RCB): razão entre o valor presente dos custos e benefícios (C/B). As medidas

com razão positiva e inferior a 1 são tidas como custo-benéficas (B > C). Essa métrica permite um ranqueamento relativo entre as medidas.

- Taxa Interna de Retorno (TIR): taxa de desconto para a qual os valores dos benefícios de determinada

medida trazidos a valor presente sejam iguais aos custos (também trazidos a valor presente)31. Quanto maior

a TIR de uma medida, mais desejável ela é.

Fonte: retirado de GVces (2017a).

Entre os limites de uma ACB, por exemplo, é possível mencionar que tal análise não leva considerações de caráter distributivo em seu ranqueamento de medidas. Ou seja, a comparação das relações de custos e benefícios de cada medida não incorpora diagnóstico sobre quais indivíduos arcarão com esses custos ou serão recebedores desses benefícios (GVces, 2014). Outra limitação refere-se à sua dificuldade em tratar aspectos qualitativos e distributivos ou mesmo considerar valores morais.

Cabe, contudo, notar que toda medida que apresente benefícios superiores a seus custos (benefícios líquidos positivos) pode ser alvo de esquema de compensação que assegure uma melhor distribuição dos seus resultados32. Isto é, tal medida poderia, ao menos teoricamente, levar a um ganho de bem-estar de alguns indivíduos sem que nenhum indivíduo se encontre em situação pior após a adoção da medida.

30 A consideração de custos e/ou benefícios indiretos de determinada medida, embora possível no âmbito de uma ACB, é recomendado para análises multicritério.

31 A TIR é comumente utilizada para avaliação de investimentos, em que custos tendem a ocorrer majoritariamente no presente e benefícios estão dispersos no futuro.

32 Em economia, tal critério para julgamento de ações que resultam na realocação de recursos é conhecido como critério de Kaldor- Hicks.

O caráter prático de uma ACB também tende a restringir a análise somente àquelas medidas cuja adoção seja factível já no momento da condução da comparação, sendo menos adequada para a contemplação de possíveis inovações tecnológicas futuras. Isto é, o principal objetivo da ACB é o de subsidiar a tomada de decisão no presente (GVces, 2014).

De fato, uma ACB configura uma etapa de um processo de decisão para atingir determinado objetivo, representa ponto de partida para discussões posteriores sobre como responder, por exemplo, aos efeitos esperados das MC. Essas discussões podem contar com tantas outras considerações, conforme os desejos do analista, embora surjam questões sobre como acomodar múltiplos objetivos em uma única análise, bem como dúvidas sobre a superioridade de abordagens alternativas frente a uma ACB (Pearce, 1998).

Adicionalmente, é importante distinguir as limitações do método com as restrições de dados acerca dos custos e benefícios de medidas de adaptação (no presente e no futuro). Críticas aos dados, logo, não devem ser consideradas como base para o questionamento e abandono do método (Pearce, 1998). Realmente, uma das vantagens da ACB é a de evidenciar as necessidades de levantamento e construção de novas bases de dados ao “requerer” uma abordagem quantitativa.

Em resumo, a priorização e seleção de medidas de adaptação, num contexto de planejamento sujeito a restrições orçamentárias e que deve buscar maior eficiência nos gastos públicos, deve se beneficiar do uso de ACB como ferramenta de assistência à decisão, inclusive estando próxima à função dessa técnica desde seu surgimento e disseminação, marcadamente nos EUA a partir dos anos 1950.