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CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.5 Certificação Ambiental

2.5.1 Requisitos do Sistema de Gestão Ambiental na Norma ISO 14001

2.5.1.2 Planejamento

Exige uma avaliação ambiental inicial, assegurando sua elaboração a partir dos impactos ambientais existentes (BARBIERI, 2007). De acordo com a Norma ISO 14001, a etapa de planejamento constitui-se em: levantamento dos aspectos ambientais; identificação de requisitos legais e outros; estabelecimento de objetivos, metas e programa(s).

Aspectos Ambientais

Viterbo Júnior (1998, p.76) considera ser “o requisito mais importante de toda a norma, pois todos os demais têm relação de interdependência com ele”.

A subetapa da análise ambiental é onde estarão presentes os estudos dos aspectos ambientais e dos impactos. Sanchez (2008) vai comentar sobre a relação entre ações humanas, aspectos ambientais e impactos ambientais, como sendo três expressões presentes na realidade do SGA. Os aspectos ambientais são conceituados como elementos/componentes das atividades, produtos e serviços de uma organização que

podem interagir com o meio ambiente (ISO 14001, 2004; SANCHEZ, 2008). De acordo com Sanchez:

A norma ISO 14001 introduziu o termo aspecto ambiental. Tal termo era desconhecido dos profissionais envolvidos em avaliação de impacto ambiental, ou era utilizado com outra conotação. No entanto, devido às normas da série ISO 14.000, passou lentamente a ser incorporado ao vocabulário de profissionais da indústria e de consultores, e chegou também aos órgãos governamentais (SÁNCHEZ, 2008, p.33).

Exemplificando, aspecto ambiental20 seria a geração de resíduos e a emissão de poluentes, por exemplo. Portanto, surgem como elementos inseparáveis dos processos produtivos. Relacionado a tal conceito, encontra-se o de impacto ambiental como qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização (NBR ISO 14001, 2004).

Segundo Valle (2006), cabe a cada organização avaliar e determinar os seus próprios aspectos ambientais com um procedimento formal (documentado), de como a empresa realiza essa identificação. Esse diagnóstico, segundo as idéias de Viterbo Júnior (1998), torna-se mais fácil e rápido, se a empresa possuir um histórico de auditorias ambientais, EIAs/RIMAs (quando existentes) e as restrições constantes nas licenças de operação, o que inevitavelmente irá possibilitar a existência de uma identificação prévia dos aspectos, propiciando a sua utilização como referência.

Para Cajazeira (1997, p.20), “o levantamento dos aspectos/impactos ambientais deve contemplar as atividades normais de operação, atividades anormais (paradas gerais de manutenção e repartidas operacionais, por exemplo) e atividades de risco ambiental”. O momento da avaliação inicial de impactos visa permitir o levantamento e identificar situações que porventura afetem ou venham a afetar o desempenho e os resultados no ambiente. Esse procedimento pode ter como prática a realização de visitas, entrevistas internas (representantes de diversos setores) e externas (comunidades, ONGs, Universidades), aplicação de questionários e análises de conformidade legal quanto aos processos e atividades que estejam inadequados.

20 Áreas a serem consideradas na abrangência dos aspectos ambientais, seriam: emissões atmosféricas, lançamentos de efluentes líquidos em corpos d’água, gerenciamento de resíduos, contaminação do solo, uso de matérias-primas e recursos naturais e outras questões relativas ao meio ambiente e a população local.

Portanto, Viterbo Jr. (1998, p.77) esclarece que “a avaliação de aspectos deve ser específica para cada localidade, ou seja, levar em conta as características geográficas da região onde as instalações estão inseridas”. Esses aspectos diferenciam-se ainda de acordo com a existência ou não de regulamentação21.

Como citado anteriormente, a norma considera impacto ambiental como a modificação (benéfica ou adversa) que se origine parcial ou totalmente dos aspectos ambientais (contaminação das águas superficiais e subterrâneas, contaminação do solo, poluição do ar etc.). Ou seja, aspecto ambiental não é sinônimo da existência de impacto ambiental. Logo, a emissão de um poluente não é um impacto ambiental. O impacto materializa-se a partir da mudança da qualidade ambiental de um determinado componente, seja do meio físico, biológico ou antrópico. E Sanchez (2008) considera que “uma mesma ação pode levar a vários aspectos ambientais e, por conseguinte, causar diversos impactos ambientais. Da mesma forma, um determinado impacto ambiental pode ter várias causas”.

Logo, a relação entre aspectos e impactos é uma relação de causa e efeito (NBR ISO 14001, 2004). Portanto, no caso de haver muitos aspectos e impactos ambientais associados, a empresa deve estabelecer critérios e um método visando a determinação daqueles impactos que serão considerados mais significativos (NBR ISO 14001, 2004).

Requisitos Legais e Outros

A norma considera que a empresa deve atentar para a identificação e o estabelecimento formal da acessibilidade aos requisitos legais aplicáveis aos seus aspectos ambientais, que basicamente tratem dos:

o Requisitos legais nacionais e internacionais;

o Requisitos legais estaduais/municipais/departamentais; o Requisitos legais do governo local.

Segundo Cerqueira (2010), o termo “outros” refere-se a outros requisitos que a organização subscreva (normas técnicas, licenças de operação, termos de ajuste de conduta e outros aplicáveis).

21 Regulamentados (parâmetros de uso e consumo estabelecidos em lei) Não regulamentados (não há parâmetros legais limitantes para seu uso)

Cajazeira (1997) considera fundamental conhecer e montar um arquivo de toda legislação relacionada às atividades da empresa. Essa tarefa pode ser realizada pelo setor jurídico da empresa (desde que os advogados possuam uma iniciação em legislação ambiental22) ou através da contratação de uma consultoria na área ambiental e jurídica para realizar tal levantamento e estipular suas aplicações.

Dessa maneira, a norma ISO 14001 exige o cumprimento mínimo do que estabelece a legislação, no entanto enfatiza a intenção de que a organização alcance desempenho acima do que foi estabelecido legalmente. Essa fase, portanto, tem a política ambiental como referência para cumprimento, a partir da observância dos aspectos ambientais, impactos ambientais, requisitos legais envolvidos, critérios internos de desempenho, estabelecimento de metas e objetivos ambientais e de um Programa de Gestão Ambiental (PGA), de acordo com Seiffert (2008). Todas as ações descritas acima vão permitir fazer um apanhado da situação atual na organização, estruturar a Política Ambiental e consequentemente estabelecer os objetivos e metas ambientais.

Objetivos, Metas e Programa(s)

A norma considera que a organização estabeleça, implemente e mantenha objetivos e metas ambientais documentados, em funções e níveis relevantes da sua estrutura. Nesse momento deve-se atentar para que:

o Objetivos e metas sejam mensuráveis (quando exequíveis) e coerentes com a

política ambiental (considerando a prevenção à poluição, atendimento à legislação e ao princípio da melhoria contínua);

o O estabelecimento dos objetivos e metas deve considerar os seus aspectos

ambientais significativos;

o Objetivos devem considerar questões de curto e de longo prazo;

Cajazeira (1997) considera que esse item da norma ISO 14001 é o que leva à melhoria contínua e que se deve estabelecer critérios claros e bem definidos, a fim de que os objetivos propostos acarretem na minimização de impactos significativos ou atenda a um requisito das partes interessadas.

22 É útil colocar um alerta [...] – “direito ambiental é uma especialidade com características totalmente particulares”. Não é uma boa ideia passar esta responsabilidade a um advogado da organização que não tenha a especialização e experiência no tema (VITERBO JR, 1998, p.89).

Ao mesmo tempo, a norma declara ser fundamental para a implementação bem- sucedida de um SGA, a criação e uso de programa(s). Viterbo Jr (1998, p.96) define programas de gestão ambiental como “planos de ação para atingir metas estabelecidas”, pois neles devem constar os caminhos para atingir objetivos e metas da organização através da inserção de cronogramas, recursos necessários e pessoal incumbido de sua implementação, além de considerações relevantes sobre planejamento, projeto, produção, comercialização e estágio de disposição final.

Viterbo Jr. (1998, p.95) considera que “as metas de melhoria devem visar a satisfação das partes interessadas e que devem ser monitoradas através de indicadores corretamente definidos”. E completa que “a organização poderá fixar metas de satisfação das partes interessadas ou de ‘confiabilidade ambiental’ demonstrada pela comunidade vizinha, recorrendo a questionários de pesquisa de opinião para obter os dados necessários” (VITERBO JR., 1998, p.96).

Por fim, Cerqueira (2010, p.114) afirma que “todos os objetivos devem ser desdobrados em metas. Para todas as metas devem ser detalhados programas ou planos de ação que devem se estender aos níveis julgados necessários”.