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A análise de conteúdo é uma técnica muito utilizada nas ciências humanas e sociais, particularmente no tratamento de dados qualitativos. Para Bardin (1979), é uma análise que abrange as iniciativas de explicitação, sistematização e expressão do conteúdo de mensagens, com a finalidade de se efetuarem deduções lógicas e justificadas a respeito da origem dessas mensagens

(seus autores, contexto e efeitos que se pretende causar por meio delas). Mais especificamente, a análise de conteúdo constitui.

“Um conjunto de técnicas de comunicação visando a obter, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo de mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens” (Bardin, 1979:42).

No objetivo de atingir um nível de interpretação profundo, a análise de conteúdo relaciona as estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significados) dos enunciados, e articula a superfície dos textos com os fatores que determinam suas características (variáveis psicossociais, contexto cultural, contexto e processo de produção da mensagem (Minayo, 2000).

Neste sentido, Marshak (1998: 16-17) considera esta interpretação de significados como um silogismo construído no estudo dos discursos em instâncias institucionais: “Falar é tempo; tempo é dinheiro. Falar é perda de dinheiro; concluindo, o silêncio é ouro”.

3.4.2 Organização dos dados e das análises

Esta etapa mostra como foi analisado todo o material obtido durante o trabalho de campo. Os resultados foram confrontados com outros já obtidos em estudos anteriores. Por meio de triangulação das técnicas, procedeu-se a uma reconstrução da história da empresa e dos traços culturais que vêm sendo socialmente construídos em torno da certificação. Esses elementos serviram de base para a compreensão do processo da mudança na cultura organizacional e, ao mesmo tempo, detectar os movimentos de adesão e de resistência por parte dos seus membros.

Identificados os novos valores norteadores do processo gerencial, apresentar-se-á uma descrição detalhada dos diferentes processos administrativos que foram postos em prática pela alta administração, na tentativa de institucionalizar as novas práticas que legitimem a implantação do certificado ISO 14001 e, conseqüentemente, a sua sustentabilidade. Partindo do pressuposto de que, ao serem introduzidas na organização pesquisada, as normas exigidas pela certificação assumiriam e/ou provocariam diferentes significados, segundo os padrões culturais compartilhados pelos membros da organização, procurou-se desvendar o universo simbólico socialmente construído em torno da certificação ISO 14001.

Depois da análise dos significados atribuídos ao processo de certificação, foram analisados os comportamentos em relação à adesão e à resistência à implementação do certificado ISO 14001. Tais reações foram, por sua vez, analisadas tomando-se como referências os valores e os significados atribuídos pelos membros da organização às normas que orientam a certificação.

Portanto, julga-se oportuno mencionar que este trabalho, como recomendam os pressupostos da pesquisa de natureza qualitativa, não tem a pretensão de testar hipóteses (Folwer; Miles & Huberman; Bryman & Burguess, Godoy; Triviños e Masson, apud Brito (2000)).

Logo em seguida, justificar-se-ão os limites da abordagem metodológica utilizada nesta dissertação.

3.4.3 Limites da démarche6 analítica

Os métodos qualitativos e os estudos de casos têm sido muito criticados por causa da imprecisão no tratamento dos dados e da falta de rigor na

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Terminologia derivada do Francês e pode ser traduzida por percurso, caminho escolhido para se chegar a um resultado.

démarche, notadamente pela subjetividade do pesquisador (Yin, 2001: 21). Como existe, a priori, uma pluralidade de causas para os problemas de resistência à mudança engendrados pela implantação de novos programas empresariais, uma gama considerável de informações deve ser reunida e classificada em vez de ser explicitada e/ou ficar no nível do descritivo, sem chegar no analítico. Outros riscos existem. Notadamente, o de não fazer a diferença entre aquilo que é acidental e essencial (De Bruyne et al., 1974). Entretanto, o principal limite do estudo reside no seu baixo poder de generalização, na medida em que a validade das conclusões continua contingenciada.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

“A way of seeing is a way of not seeing” Pettigrew (1987)

O universo em que se realizou a investigação foi a sede de uma empresa filial de uma multinacional estrangeira de autopeças situada no sudoeste do estado de Minas Gerais, tida como uma das maiores geradoras de empregos da região e fornecedora de várias marcas de automóveis. Relembramos que a empresa tem uma grande parte de sua produção destinada à exportação. Esta organização, aqui denominada de TECNICO (nome fictício para conservar a neutralidade do trabalho), foi escolhida como objeto de estudo deste trabalho pelo fato de pertencer a um setor que conheceu, desde alguns anos (advento do Plano Real em 1994), arranjos institucionais maiores, rápidos e profundos. Como exportadora de sua produção, a TECNICO não poderia deixar de acompanhar as exigências do mercado internacional em termos de qualidade nos seus produtos.

Nesta parte do trabalho, dissertou-se sobre as principais características dos ambientes técnico e institucional onde evoluiu a empresa estudada, retraçando brevemente sua história. Uma passagem pela história da organização estudada é importante para compreender o seu presente, tendo em vista as influências dos ambientes que compõem a estrutura. Em seguida, analisaram-se os diferentes significados atribuídos pelos membros organizacionais (dirigentes e operários) ao processo de certificação, particularizando assim o universo simbólico decorrente da institucionalização das normas e, por fim, discutiram-se os movimentos de adesões e resistências ao processo de certificação ISO 14001 na TECNICO.

4.1 O ambiente técnico e institucional e uma breve história da TECNICO