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Plano de análise e interpretação das informações

Na análise, predominou a dimensão qualitativa, na qual nem as hipóteses

nem os esquemas de investigação estão, a priori, estabelecidos, a complexidade

do exame aumenta à medida que se aprofunda no assunto. Assim, por meio das

práticas discursivas, considerou-se a produção de sentidos como uma produção

dialógica, servindo, assim, de base para compreender os sentidos produzidos em

torno da morte do fundador.

O plano de análise consiste na metodologia proposta por Spink & Lima

(2004) para a análise da produção de sentidos: análise das práticas discursivas.

As práticas discursivas como a linguagem em ação, isto é, as maneiras a partir

das quais as pessoas produzem sentidos e se posicionam em relações sociais

cotidianas:

(...) Remete aos momentos de ressignificações, de rupturas, de

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uso da linguagem, nos quais convive, tanto a ordem como a

diversidade” (Spink, 2004, p. 45).

A autora propõe a análise da produção de sentidos por meio das práticas

discursivas (discurso), tendo em conta as seguintes etapas: a) identificação dos

repertórios interpretativos e b) definição de categorias, por meio do mapa e da

árvore de associação de idéias.

Segundo Spink & Medrado (2004), os repertórios interpretativos são, em

linhas gerais, as unidades de construção das práticas discursivas – o conjunto de

termos, descrições, lugares e figuras de linguagem que demarcam o rol de

possibilidades de construção discursivas, tendo por parâmetro o contexto em que

essas práticas são produzidas ou speech genres. Portanto, não se tratam de

termos explícitos nos discursos, expressões ditas; trata-se de analisar o não dito e

identificar como os atores organizacionais (membros da família e empregados)

interpretam a realidade. A realidade pode ser interpretada de várias formas,

portanto, podem-se identificar vários repertórios interpretativos e construir

várias categorias:

(...) As categorias constituem importantes estratégias lingüísticas,

estando presentes na própria organização da linguagem (verbal,

escrita, gestual, icônica). Utilizando categorias para organizar,

classificar e explicar o mundo. Falamos por categorias” (Spink, 2004,

p.78),

A autora ressalta que o pesquisador deve recorrer ao recurso dos

repertórios interpretativos para identificar termos, palavras ou expressões que

possam remeter a uma forma de ver o mundo por parte dos sujeitos da pesquisa.

Esses termos são denominados de categorias, considerando os repertórios

interpretativos como estratégias lingüísticas presentes na própria organização da

linguagem para classificar e explicar o fenômeno em estudo (sentido da morte).

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Para a análise das práticas discursivas por meio dos repertórios

interpretativos, Spink (2004) propõe a construção dos mapas de associação de

idéias, por meio dos quais tem-se o objetivo de sistematizar o processo de

análise em busca dos aspectos formais da construção lingüística. Por meio dos

mapas de associação de idéias, o investigador pode dispor os repertórios

interpretativos identificados nos discursos e “organizar” os discursos segundo os

próprios repertórios. Essa disposição, que pode ser feita em forma de quadros,

permite a visualização das categorias de análise e de suas inter-relações.

A autora também sugere a construção da árvore da associação de idéias,

uma representação gráfica ou geral de relação entre categorias de análise para a

compreensão dos sentidos produzidos.

A descrição de cada etapa da análise compõem-se de trechos das práticas

discursivas dos atores organizacionais e de ilustrações gráficas do mapa e da

árvore de associação de idéias.

Etapa 1: identificação dos repertórios interpretativos. Realizou-se a

análise qualitativa das práticas discursivas, destacando-se aspectos importantes

na formação discursiva dos entrevistados, o qual retrata a percepção do

indivíduo sobre o fenômeno – morte do fundador.

(...) senti muito entristecido, aborrecido, porque a gente perdeu uma

pessoa que a gente amava muito! (...)” (E4).

Etapa 2: construção das categorias de análise. Os repertórios

interpretativos foram organizados em mapas (Spink, 2004). Esses mapas

possibilitaram a disposição dos repertórios interpretativos identificados nas

práticas discursivas e a organização dessas práticas segundo os próprios

repertórios (Quadro 4) A disposição foi realizada por meio de Quadros,

permitindo a construção das categorias de análise. A partir da construção desses

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mapas, foi possível identificar, em cada repertório interpretativo, as categorias

de análise.

QUADRO 4 Exemplo da organização de um mapa de associação de idéias

Repertório

interpretativo Fragmento ilustrativo Categorias Ausência

“(...) Ele tinha uma coisa que ninguém vai ter nenhum de nós (...) era como se o jornal estivesse vivo nele (...)” (E12)

“(...) ele era a imagem do jornal (...)” (E14)

Perda do herói Fonte: elaborado com base nos dados da pesquisa

Etapa 3: Construção da árvore de associação de idéias. De posse das

categorias de análise, iniciou-se a disposição destas em um gráfico, o que

possibilitou a compreensão dos sentidos atribuídos pelo atores organizacionais

(membros da família e empregados). Exemplifica-se esse processo na Figura 1.

FIGURA 1 - Exemplo da árvore de associação de idéias

Fonte: elaborado com base nos dados da pesquisa

Ausência Vazio na história da cidade Mudanças no realcionamento interpesssoal Perda do “herói” Incerteza na continuidade da obra do fundador

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4 A TRAJETÓRIA DA EMPRESA ALFA E O PAPEL DO FUNDADOR

O universo em que se realizou a pesquisa foi uma empresa familiar no

setor de gráfica e editoração, com 39 anos de existência, localizada no sudoeste

de Minas Gerais. A mesma foi escolhida devido à morte recente do seu

fundador.

A compreensão dos diversos sentidos atribuídos à morte do fundador

requer uma passagem pela história da empresa, pois, o enfoque histórico de uma

organização é importante para compreender a sua trajetória, seus princípios,

objetivos e cultura.

Neste capítulo serão apresentadas as fases históricas, particularizando o

papel do seu fundador na formação da cultura organizacional e na construção do

mito de fundação. Para tanto, primeiramente, faz-se uma rápida contextualização

da evolução da imprensa no Brasil. Na seqüência, apresenta-se uma breve

narração sobre a vida do fundador, visto que a história do mesmo encontra-se

imbricada com a da empresa. Em seguida, descreve-se a trajetória da empresa

ALFA, conforme a delimitação histográfica (1967 a 2006), desenvolvida em três

fases. E por fim, o papel do fundador na formação da cultura e na construção do

mito de fundação.