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PLANO DE 1999: O AUTÊNTICO PLANO TECNOCRÁTICO

Fonte: Adaptado de Vieira (2010)

3.6 PLANO DE 1999: O AUTÊNTICO PLANO TECNOCRÁTICO

Passados mais quinze anos foi criado o Plano Diretor de 1999, formado por uma junção de Leis como os de 1973 e 1984. Foi elaborado pela equipe da prefeitura com o apoio de consultores externos, sendo sancionado pelo prefeito Paulo Meller, engenheiro e filiado ao PMDB, sendo composto pelas seguintes leis:

 Lei nº 3.900 de 28 de Outubro de 1999 tratando do zoneamento e do uso e ocupação do solo;

 Lei nº 3.901 de 28 de Outubro de 1999 tratando do parcelamento do solo;

 Lei nº 2.847 de 27 de Maio 1993 tratando do código de obras vigente, incorporando-o às leis supracitadas, para formar o Plano Diretor.

O Plano de 1999 tinha como objetivos, de acordo com Artigo 2°:

I - Buscar a melhoria da qualidade de vida da população, mediante a reestruturação urbana e rural adequada ao crescimento econômico e demográfico do município;

II - Ordenar o espaço físico territorial do município, orientando a expansão dos núcleos urbanos e preservando áreas não apropriadas para usos urbanos;

III – garantir condições adequadas de infra-estrutura e equipamentos de uso coletivo, para os terrenos destinados a receber atividades urbanas;

IV – Preservar e valorizar o patrimônio cultural e natural do município e proteger o meio ambiente através do controle do uso do solo;

V – Explicitar os critérios para que se cumpra a função social da propriedade, especialmente através da regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda, bem como o adequado aproveitamento dos vazios terrenos subutilizados. (CRICIÚMA, 1999, p.1).

Com apoio do governo do estado através do PROJESC - Programa de Informações Básicas para a Gestão Territorial de Santa Catarina, da UNESC, da FATMA e do CPRM, a CODEPLA obtém mais de 30 mapas temáticos e dados socioespaciais do município para realizar uma revisão do Plano Diretor. Esta primeira tentativa inicia em 1992, no final do governo de Eduardo Moreira, médico filiado ao PMDB, sendo retomada e finalizada em 1999. Segundo Porto (2008), apesar deste plano ter incentivado a produção imobiliária com taxas e índices muito permissivos, contem instrumentos que passariam a compor posteriormente o Estatuto da Cidade, como as ZEIS e o imposto progressivo.

O artigo 51 da referida Lei cria o Conselho Superior Municipal do Plano Diretor, que tem a função e revisar a cada dois anos a Lei e opinar nas alterações propostas à mesma. O conselho seria constituído por representantes das seguintes entidades:

a) I.A.B - Instituto de Arquitetos do Brasil

b) ASCEA – Associação Criciumense de Engenheiros e Arquitetos

c) SINDISCON – Sindicato da Indústria da Construção Civil

d) CODEPLA - Companhia de Desenvolvimento Econômico e Planejamento Urbano

e) SECOVI – Sindicato da Habitação; f) CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas

g) ACIC – Associação Comercial e Industrial de Criciúma h) PMC – Prefeitura Municipal de Criciúma

i) Associação dos Loteadores j) Câmara de Vereadores.

A lista de entidades engloba dois entes do executivo municipal (PMC e CODEPLA), um do legislativo (Câmara), duas entidades técnicas (IAB e ASCEA) e cinco entidades ligadas aos grupos econômicos. Não há nenhuma representação de entidades que representem moradores, sindicatos e outros setores de representação social para ampliar o debate.

Diferente do Plano de 1973, no qual a lei que trata do zoneamento é denominada de Plano Diretor, o Plano Diretor é que está inserido na lei do zoneamento de 1999, sendo que o termo “Plano Diretor” aparece nos objetivos e diretrizes encontrados na primeira página do documento. A partir daí o termo é usado para se referir as regras definidas pelo zoneamento, como se percebe no trecho que trata das atribuições do Conselho de Desenvolvimento Urbano, o qual poderia “opinar sobre os projetos de lei e decretos necessários à atualização e complementação da Lei do Plano Diretor, da Lei de Parcelamento do Solo e do Código de Obras, Código de Postura, Lei do Perímetro Urbano, bem como a Planta Genérica de Valores do Município.” (Fonte: Lei 3900/1999)

Considerando que o parcelamento (Lei 3901/99), código de obras (Lei 2847/93) e posturas, bem como perímetro urbano e planta de valores são leis específicas, o zoneamento, não citado no trecho transcrito, acaba sendo usado como sinônimo de Plano Diretor. Isso retrata o valor que a discussão da cidade tinha em relação à definição de regras para uso do solo que eram definidas sem conhecimento público. O Plano de 1999 redefine o macro zoneamento rural e urbano, cria treze zonas subdivididas em: preservação, residencial, mista, industrial, central e de recuperação urbana (para áreas degradadas), além de definir os usos, índices urbanísticos e criar o conselho responsável pela validação de alterações do Plano. Ocorreram várias alterações na lei original não tendo sido atuante o referido Conselho.

Sua revisão foi iniciada em função da Lei Federal 10.257/2001, sendo ainda o plano de atual vigência no município devido à indefinição do Plano Diretor Participativo. O plano de 1999 pode ser considerado altamente permissivo em relação aos sues índices e zoneamento, havendo pelo menos dois pontos emblemáticos:

 Zonas Mistas: nestas áreas são permitidas atividades variadas, inclusive industriais, o que gera transtornos para a população do entorno e já causou embates judiciais para remoção de fábricas. Em alguns casos as indústrias já estavam instaladas e o zoneamento viria a validar sua presença.

 Zonas Mista e Central com até 16 pavimentos promovendo um adensamento não acompanhado pela infraestrutura existente.

Este plano apresenta mais uma vez a tentativa do governo em se promover no fim de mandato com um Plano Diretor, que mais uma vez fica emperrado. Novamente aparece um conselho sem representação popular que visa validar as decisões tomadas em conjunto entre governo e agentes econômicos. Num dos depoimentos coletados por Porto (2008) e anexados a sua pesquisa, um técnico da prefeitura relata que as construtoras acompanhavam as propostas em discussão no plano e pediam informações sobre sues ganhos e prejuízos no caso de sua implantação. Talvez o mesmo tenha acontecido com os comerciantes, os industriais, mas certamente não aconteceu com representantes da sociedade civil.

3.7 PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO: PROCESSO POLÍTICO