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Plano de pagamentos VS Plano de insolvência

2. INSOLVÊNCIA DE PESSOAS SINGULARES

2.2. Plano de pagamentos VS Plano de insolvência

Quando esteja em causa um plano de pagamento, a este não são aplicáveis as disposições estatuídas na lei referidas ao plano de insolvência (arts.192.º a 229º)84. Embora ambos os planos visem a satisfação dos credores, com o respetivo pagamento das dívidas cada um segue a sua própria tramitação.

84A este respeito consultar o AC.n.º570/10.5TBMGR-A.C1, cujo relator foi Virgílio Mateus, onde

sumariamente escreve a esse respeito: “Tratando-se de pessoas singulares declaradas insolventes, que não sejam

2.2.1. Requisito de legitimidade

Segue-se então as diferenças fundamentais: o primeiro requisito consiste na legitimidade para a apresentação de cada um dos planos. No plano de insolvência tem legitimidade para apresentar o pedido: o administrador da insolvência; o devedor; qualquer terceiro responsável pelas dívidas da insolvência; qualquer credor, ou grupo de credores, cujos créditos representem, pelo menos, um quinto do total dos créditos não subordinados, reconhecidos na sentença de verificação e graduação de créditos; ou na estimativa do juiz, se tal sentença ainda não tiver sido proferida (art.193.º). No que respeita ao plano de pagamentos, a legitimidade cabe unicamente ao devedor (art.251.º), ficando assim excluídos por falta de legitimidade, os credores e o administrador de insolvência da apresentação de um plano em Assembleia de credores; e esta de ordenar a sua feitura ao administrador, como se processa no plano de insolvência (art.156.º).

2.2.2. Forma de apresentação e aprovação

Respeitante à forma de apresentação, o plano de insolvência não exige qualquer forma específica, porém o seu conteúdo deve obedecer ao previsto no art.195.º, com possibilidade do mesmo derrogar as normas tipificadas no CIRE. Já o plano de pagamento é o oposto, pois segue uma forma escrita, resultante de um modelo aprovado por portaria do Ministro da Justiça (Portaria n.º 1039/2004 de 13 de agosto) e um conteúdo (art.252.º) para expor. Por último, fica o plano impossibilitado de derrogar o preceituado no CIRE.

Quanto à forma da respetiva aprovação, o primeiro plano destaca a Assembleia de credores como órgão supremo que procede à deliberação e aprovação. Por sua vez, no plano de pagamentos, quando existam credores que se oponham à aprovação do mesmo, pode o juiz suprir os votos contra, a requerimento de algum credor ou credores, que detenham dois terços do valor total dos créditos relacionados pelo devedor (art.258.º).

O plano de insolvência é dirigido às empresas, pertencendo a respetiva votação e o poder decisório aos credores, sem qualquer intervenção do devedor, pertencendo aos credores a tarefa de manutenção da massa insolvente. Diferente é o que acontece com o plano de pagamentos, uma vez que parte da iniciativa do devedor apresentar uma proposta razoável de satisfação dos credores e do seu próprio sustento, ficando a cargo dos credores o poder decisório da sua aprovação, alteração ou rejeição; com possibilidade de existir supressão por parte do juiz de votos desfavoráveis, mas cabendo sempre ao juiz a respetiva homologação (art.259.º).

2.2.3. Jurisprudência

Sobre esta matéria, veja-se o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa n.º 2843/11.0TBTVD-B.L1-7 de 3-07-2012, cujo relator foi Conceição Saavedra, onde sumariamente clarifica a distinção entre o plano de insolvência e o plano de pagamentos.

Começando pelo plano de insolvência que “se encontra previsto nos arts.192.º e ss. do CIRE, decorre da própria declaração judicial de insolvência, operando sempre após esta, e constitui um expediente alternativo de satisfação dos credores, que pode ser usado independentemente da natureza do devedor”. Ao nosso interesse, o plano de pagamentos, cujo regime decorre dos arts.249.º e ss. do CIRE, apenas detém a legitimidade “pessoas singulares não empresários e titulares de pequenas empresas, excluindo o regime particular da insolvência nestas condições e dirigido a estes concretos devedores a possibilidade de um plano de insolvência nos termos acima referidos”;

No que diz respeito ao “incidente de aprovação do plano de pagamentos é processado por apenso ao processo de insolvência e o seu oferecimento pelo devedor – seja com a petição inicial (apresentando-se o devedor à insolvência junta o plano de pagamentos à petição inicial, sendo a apresentação à insolvência requerida por terceiros, o pedido será efetuado como oposição (art.30.º), em alternativa à contestação (art.253.º). – determina a suspensão do processo de insolvência até à decisão do incidente, necessariamente antes da declaração judicial de insolvência”.

“ Tendo-se os requerentes, marido e mulher, pessoas singulares e não empresários, apresentado à insolvência, competia-lhes oferecer logo plano de pagamentos aos credores, nos termos do art. 251.º do CIRE., dando início ao respetivo incidente e obtendo a suspensão do processo principal sem qualquer declaração de insolvência, não podendo beneficiar do plano de insolvência previsto no art. 192 do CIRE”.

2.2.4. Caráter subsidiário

Importa lembrar que o plano de pagamentos pode ser apresentado conjuntamente com o pedido de exoneração do passivo restante, embora não tendo caráter cumulativo e não sendo apresentado neste momento, ficará mais tarde impedido de beneficiar desse direito (art.254.º). Conclui-se assim que o plano de pagamentos é um pedido subsidiário, ou seja, não sendo aprovado um, o outro é chamado à colação. Caso o plano de pagamentos mereça

aprovação do juiz, por reunir os requisitos essenciais85e se mostre adequado a satisfazer os direitos dos credores, o juiz procede à suspensão do processo de insolvência em curso (art.255, n.º1).

Seguidamente necessita o plano de pagamentos de ser homologado pelo juiz, através de sentença de declaração de insolvência. Caso se verifique a revogação desta sentença, o plano de pagamentos torna-se ineficaz (art.259, n.º3).

Após o trânsito em julgado das duas sentenças em causa, o processo dá-se por encerrado86. Outra das hipóteses disponíveis para o encerramento é realizada quando o juiz analisa o plano e o acha inadequado para satisfação dos credores, de tal forma que se traduz na não aprovação por parte dos credores, assim profere sentença de insolvência e segue para a análise a possibilidade da exoneração do passivo restante, caso se encontre anteriormente pedido, não tem lugar recurso da decisão que provoca este encerramento.