• Nenhum resultado encontrado

7. Resultados e discussões

7.3. Papel do poder público

7.3.6. Plano Diretor de Drenagem Urbana

O intuito de analisar o Plano Diretor de Drenagem Urbana de Campinas seria perceber quais áreas se encontram em situação crítica no que diz respeito às inundações e as possibilidades de solucionar essa questão.

A informação da Secretaria de Infra-Estrutura e Obras da Prefeitura de Campinas é de que o município conta apenas com uma fase básica do Plano Diretor de Drenagem Urbana, disponível nas bibliotecas da UNICAMP. Na procura pelo Plano, percebeu-se que, na verdade, tratar-se de uma dissertação de Mestrado defendida na mesma Universidade por Telma Aparecida Vicentini, no ano de 1993. Assim, utilizou-se como base para esse item da pesquisa, exclusivamente a dissertação mencionada.

Segundo a autora, um Plano Diretor de Drenagem faz parte de um complexo processo de planejamento do sistema de drenagem e seu objetivo seria “orientar a ocupação das áreas não urbanizadas e a apresentação de um plano de medidas e ações para a solução dos problemas existentes nas áreas já urbanizadas.” (VICENTINI, 1993, resumo). Para tanto, ele teria um caráter preventivo (para áreas a serem urbanizadas) e corretivo (para áreas já ocupadas).

Um Plano Diretor de Drenagem é feito em 3 fases: a primeira, denominada fase básica, tem como objetivo levantar os dados físicos do município, saber quais são as fontes de informações disponíveis, as tendências de crescimento populacional e urbano, assim como diagnosticar os problemas existentes e fazer um prognóstico. A segunda etapa, chamada de fase prática, objetiva configurar as soluções, diretrizes e proposições a serem tomadas, além de executar um plano de ação. A última, denominada fase executiva, abordaria um programa de execução do plano, estudos que especificassem detalhes sobre as obras a serem feitas, normas de microdrenagem, além do cadastramento de novas obras.

157

Tendo em vista que este estudo se refere à fase básica do Plano Diretor de Drenagem e, portanto, deveria ser o ponto de partida para a execução do documento, a autora aborda uma série de fatores, como: a caracterização do município e possibilidades de crescimento, possíveis fontes de dados, os pontos críticos de inundação (assim como as prioridades relacionadas a cada um deles), questões de engenharia, como dimensões de bocas-de-lobo e bueiros e faz propostas a respeito das próximas fases a serem feitas para o Plano Diretor de Drenagem.

A caracterização do município é feita em seus aspectos climáticos, geológicos, pedológicos, geomorfológicos, hidrológicos e demográficos. Neste último item, a autora utiliza métodos estatísticos para prever quanto a população irá crescer e os eixos de expansão desse crescimento, a fim de se adequar os sistemas de drenagem às novas situações.

Cada bacia do município é caracterizada segundo sua área total, população estimada, bairros e predomínio de áreas rurais ou urbanas. O nível de detalhamento é maior nas sub-bacias35, abordando os bairros drenados, a geologia, quantidade de indústrias, hospitais e rodovias existentes nas áreas, as zonas predominantes (de acordo com o uso e ocupação do solo), relevo, predomínio de área rural ou urbana, densidade populacional, população total e declividade média.

A autora enfatiza a importância em se obter e utilizar dados confiáveis para a confecção do Plano Diretor de Drenagem, dentre eles: dados cartográficos, pluviométricos, demográficos, geológicos, pedológicos, geomorfológicos e hidrológicos. Como parte essencial para a elaboração de um Plano Diretor de Drenagem, a autora destaca a importância de se ter dados de infiltração e cadastramento das galerias, informações que não existem na Prefeitura de Campinas.

Na parte de engenharia, mostra uma série de métodos para se dimensionar as seções necessárias para escoar vazões, além de citar as bacias de detenção como forma de “capturar e armazenar temporariamente o escoamento superficial das bacias desenvolvidas. Basicamente os projetos de bacias de detenção procuram reduzir a vazão de pico das bacias desenvolvidas para valores próximos aos que seriam

35

As sub-bacias de Campinas são: córrego Piçarrão, ribeirão Anhumas, ribeirão das Cabras, córrego do Tanquinho, córrego da Onça, córrego de Viracopos, ribeirão Quilombo, córrego das Sete Quedas e ribeirão Samambaia.

158

observados caso a bacia estivesse na condição de pré-desenvolvimento.” (p. 67). Segundo a autora, problemas relacionados às inundações ocorreriam devido a um sistema de drenagem obsoleto e devido às ocupações de áreas de risco. As bacias mais problemáticas seriam as do córrego Piçarrão e ribeirão Anhumas. Essas informações foram expostas, também, nos Planos Diretores de 1996 e 2006 (no caso do primeiro plano, as palavras utilizadas foram exatamente iguais às usadas nessa pesquisa de 1993).

A dissertação mostra uma série de pontos críticos de inundação em Campinas, identificados por meio de pedidos feitos pela população a órgãos municipais, em jornais e junto ao Departamento de Urbanização de Favelas. Grande parte dos pontos levantados no Plano de Drenagem foi também abordada nos Planos Diretores de 1996 e 200636, assim como as propostas de soluções para os casos. Todavia, alguns pontos da cidade foram abordados no Plano de Drenagem e não foram citados nos outros dois documentos. São eles: Jardim Miranda, Jardim do Trevo e Jardim Satélite Iris (com problemas relacionados ao sistema de drenagem) e Nova Paulicéia e Vila Aeroporto (com populações habitando áreas de inundação). O Plano aponta os bairros Jardim Miranda e Satélite Iris como áreas prioritárias, enfocando a importância em se fazer obras para adequar os sistemas de drenagem às novas necessidades.

Após apresentar as áreas com problemas relacionados às inundações no município, a autora propõe algumas ações a serem tomadas pela Prefeitura para solucionar as questões. A primeira proposta diz respeito à importância da atualização das fontes de dados, principalmente no que se refere ao material cartográfico. A segunda aponta a necessidade de se fazer estudos relacionados à delimitação de áreas de inundação para os principais cursos d’água da cidade. A terceira se refere à importância em implantar um programa de conscientização relacionado ao lixo, como forma de evitar o acúmulo de sujeira nos rios, a fim de não comprometer o escoamento das águas.

36 As áreas críticas que aparecem no Plano de Drenagem e nos Planos de 1996 e 2006 são: Centro, Jardim

Campineiro, Jardim Conceição, Jardim Florence, Jardim Garcia, Jardim Ipaussurama, Jardim Paraíso, Jardim Okita, Jardim Proença, Jardim Rossim, Jardim Santa Mônica, Jardim São Marcos, Joaquim Egídio, Nova Campinas, Parque das Indústrias, Jardim das Palmeiras, Parque Imperador, Recanto Fortuna, São Quirino, Sousas, Taquaral, Vale das Garças, Vila Industrial, Vila Lemos, Vila Nogueira (vide Tabelas 11 e 12).

159

Embora a dissertação não aborde as fases prática e executiva de um Plano Diretor de Drenagem, a autora propõe alguns caminhos a serem trilhados nessas próximas etapas. No caso da fase prática, sugerem-se ações de caráter corretivo (em áreas já urbanizadas) e de caráter preventivo (em áreas em fase de urbanização). As ações de caráter corretivo englobam, entre outros pontos, a discussão de possíveis soluções propostas na primeira fase do Plano, a definição de áreas a serem desocupadas, a implantação de um programa de incentivo para que essas famílias saiam das áreas de risco, e a definição de um programa de preservação de áreas sujeitas a inundações. Já as ações de natureza preventiva abordam a implantação de faixas de preservação nas margens de cursos d’água, a definição de áreas que serão destinadas à detenção de cheias e a proposta de uma Lei para a preservação de áreas sujeitas à inundação. A fase executiva, a última no processo de confecção do Plano Diretor de Drenagem, seria, como o próprio nome já diz, um programa de execução do Plano. Para tanto, a autora sugere alguns pontos importantes, incluindo a elaboração de um cronograma físico-financeiro, de uma metodologia para manutenção e observação relacionada ao funcionamento de galerias e canais e estudos de normas de micro e macrodrenagem.

A análise dessa fase básica do Plano Diretor de Drenagem Urbana parece completa: aborda questões físicas, sociais, econômicas e técnicas associadas à drenagem do município.

No que diz respeito às análises dos pontos críticos na cidade, percebeu-se uma série de semelhanças com os Planos Diretores de Campinas, principalmente com o Plano de 1996, incluindo, em alguns casos, citações exatamente iguais às desse Plano. Tendo em vista que esta dissertação foi publicada antes do Plano de 1996, aventa-se que o documento oficial da Prefeitura tenha se baseado nesta dissertação.

Porém, o que mais se destaca é o fato de Campinas - cidade com mais de 1 milhão de habitantes, com um processo de urbanização acelerado e que conta com inúmeros problemas relacionados à chuva - ter apenas a primeira fase de um Plano de Drenagem, que nem mesmo foi feito com iniciativa da Prefeitura. Ainda mais preocupante é saber que apenas a fase básica foi feita: as outras duas etapas, essenciais para se implantar uma política de prevenção e correção das questões

160

associadas às inundações, não existem. O fato de a fase básica ser de 1993 e nunca ter sido atualizada também mostra um descaso do poder público frente ao problema, mesmo com a enorme quantidade de registros relacionados às chuvas na cidade nos últimos anos.

161

Documentos relacionados