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3. CAMINHO DO TOCANTINS RUMO À SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO –

3.2 PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO 1992-1995

Nos anos de 1991 a 1995, assume o governo estadual o Governador Moisés Avelino, eleito pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). O Secretário de Educação dos primeiros três anos desse governo foi o professor Ruy Rodrigues da Silva, ex-sacerdote diocesano da Igreja Católica, natural da região, que participara dos governos de tendência progressista no estado de Goiás, nos anos pré-golpe militar de 1964, no mesmo cargo (Secretário de Educação). Durante a repressão do Regime Militar aos intelectuais e movimentos

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O Tocantins congrega seis povos indígenas diferentes (Apinajé, Avá-canoeiro, Javaé, Karajá, Krahô e Xerente). Por pressão da comunidade internacional, foram implantadas políticas públicas voltadas para esses povos.

progressistas da época, Silva auto-exilou-se na França, e recebeu influência dos grupos da engenharia do desenvolvimento. Como conseqüência do aprendizado e da participação nas experiências intervencionistas e desenvolvimentistas do Governo francês nas ex-possessões da África sub-saariana, Silva tornou-se referência técnica no cenário dos comitês internacionais comprometidos com o terceiro mundo.

Ao assumir a Secretaria de Educação do Tocantins, Silva implementou uma série de medidas para agilizar o funcionamento da máquina administrativa e a formação do quadro docente da rede pública do ensino: confecção e estruturação dos currículos para os ensinos do 1º e 2º graus; reestruturação da rede física escolar e certa abertura aos aparatos tecnológicos na educação.

O PEE (1992-1995), publicado em 1992, sob a gestão do Professor Ruy Rodrigues da Silva, Governo Moisés Avelino, trazia sinalizações ou ecos da tecnologia, dos multimeios, da telemática e do ensino a distância. No item temático Sistema Básico e Tecnológico, propõe-se “estímulo à produção e utilização de recursos tecnológicos no desenvolvimento do processo ensino- aprendizagem” (TOCANTINS, 1992, p. 31). No item sobre o aperfeiçoamento e qualificação contínua dos professores habilitados é proposta a “adequada fundamentação teórica que permita aos educadores uma ação coerente com o desenvolvimento científico e tecnológico; e melhoria e expansão da instrumentalização técnica que possibilite aos educadores uma ação eficaz” (TOCANTINS, 1992, p. 37). Outra ação que se destaca é a “criação do centro de ensino tecnológico, com o objetivo de ampliar a difusão das tecnologias para todo o Estado” (TOCANTINS, 1992, p. 31). O plano traz uma oferta de expansão da formação de professores, mas com uma certa instrumentalização técnica: um saber-fazer técnico e não um pensar-refletir sobre teorias e práticas. As tecnologias são defendidas como auxiliares dos processos e não como desencadeadoras dos mesmos.

Além dessas orientações do PEE (1992-1995) e antecedendo-se a ele, a Constituição Estadual (1989, p. 94), atendendo a mandamentos da Constituição Federal, art. 143, propõe a organização do Sistema Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia: “Fica criado o Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia, órgão colegiado superior que tem como objetivo formular diretrizes da política de

ciência e tecnologia do Tocantins, a ser regulamentado através de lei”. Parte do organograma da Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Desporto, o Conselho Tecnológico, ao formular as diretrizes da política da ciência e das tecnologias para o Estado define que submeter-se-ia aos seguintes princípios:

I – a pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário, tendo em vista o bem público e o progresso da ciência;

II – a pesquisa tecnológica estará voltada preponderantemente para a solução dos problemas regionais e para o desenvolvimento produtivo do Estado;

III – a formação e o aperfeiçoamento de recursos humanos para a pesquisa científica e tecnológica serão apoiados, principalmente, com a concessão de bolsas para os que nela atuam e de condições especiais de trabalho aos que dela se ocupam;

IV – a política científica e tecnológica considera sempre o respeito à vida e à saúde; o aproveitamento racional, não predatório, dos recursos naturais; a preservação e a recuperação do meio ambiente, e a consideração dos valores culturais do povo.

A pesquisa científica básica está voltada ao bem público e ao progresso da ciência; a pesquisa tecnológica funda-se na preocupação predominante da solução dos problemas regionais e no desenvolvimento produtivo do Estado. Se, no primeiro princípio, “bem público” e “progresso da ciência” aparecem sugerindo universalidade, no segundo, ocorre uma delimitação por meio dos termos “problemas regionais” e “desenvolvimento produtivo”, sinalizando o campo de atuação precípuo das tecnologias: agricultura e pecuária, atividades próprias da ‘vocação natural’ do Tocantins. A relação educação e tecnologia aparece, neste documento, de maneira abstrata e tímida, voltada para a formação de professores e para a educação fundamental e média.

Não se pode negar a preocupação deste plano com as tecnologias. Nele, estão pulverizadas expressões que, pelo menos teoricamente, revelam consciência da necessidade da inserção da educação tocantinense no universo tecnológico. “Sistema Básico e Tecnológico”; “recursos tecnológicos no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem”; “instrumentalização técnica”; “criação do centro de ensino tecnológico” e “difusão das tecnologias para todo o Estado” são alguns exemplos. Podemos, entretanto, fazer uma consideração: as categorias tomadas do contexto das tecnologias da informação e comunicação dependem de uma necessária fundamentação teórica, para que

sua utilidade e seu emprego sejam devidamente clarificados. Os atores da educação no Estado necessitariam conhecer a concepção de tecnologia que está sendo tratada no Plano.

O PEE (1992-1995) aproxima educação e tecnologia, mas não garante maiores avanços relativamente ao Plano Estratégico de Desenvolvimento do Estado do Tocantins: este fala de tecnologia para o desenvolvimento sustentável do Estado, cuja base seria a agropecuária; aquele relaciona tecnologia e educação de forma mais objetiva, na busca de ampliar a difusão da primeira para todo o Tocantins. Um e outro, no entanto, não entabulam uma discussão teórica adequada à compreensão desse novo universo no qual se pretendia inserir produção econômica e educação naquele momento.

Tecnologia, multimeios, telemática e ensino a distância ecoam no PEE (1992-1995), por meio das expressões “recursos tecnológicos”, “desenvolvimento científico e tecnológico”, “centro de ensino tecnológico” e “difusão das tecnologias”, que sinalizam a preocupação com um saber fazer técnico e não com um pensar e refletir sobre teorias e práticas, configurando uma visão sobre as tecnologias como auxiliares dos processos e não como desencadeadoras deles. O PEE (1992-1995) considera a “pesquisa tecnológica” como solução dos problemas regionais capaz de promover o desenvolvimento produtivo do Estado. Delimita a aplicação das tecnologias ao campo da agricultura e da pecuária. Tímida e abstrata é a maneira como aparece a relação da educação com a tecnologia.

Não se pode negar, portanto, que o PEE (1992-1995) se preocupe com as tecnologias. Mas um problema se repete: as categorias originárias do contexto das tecnologias da informação e comunicação emanam de uma fundamentação teórica desconhecida pelos atores da educação no Tocantins. As marcas da sociedade da informação, em que a tecnologia, supervalorizada, impacta o desenvolvimento, na medida em que requer trabalhadores tecnicamente qualificados, seja no aspecto profissional, seja no acadêmico, para fazer frente à desestruturalização do tempo e do espaço, não passam de meras referências. Essas referências, por sua vez, porque abstratas e superficiais, não tratam o conceito de tecnologia, explicitando-o em seus aspectos definidores: simbiose da

técnica com a ciência moderna ou conjunto de conhecimentos, informações e habilidades resultantes de uma inovação tecnológica ou invenção científica.

3.3 PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DO