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3. O BNDES

3.2. O PLANO DE METAS (1956 a 1961)

A segunda metade da década de 1950 constitui o período de maior desenvolvimento industrial promovido no país, por meio do Plano de Metas, concebido por Juscelino Kubitschek, dentro do conceito desenvolvimentista defendido por Roberto Campos. O BNDE, como formulador de política industrial, tem uma função crucial na execução e financiamento deste projeto de desenvolvimento. Durante este período, o BNDE teve como presidentes Lucas Lopes (1956 a 1958), que posteriormente viria a ser Ministro da Fazenda, e Roberto Campos (1958 a 1959)28, ambos defensores do modelo desenvolvimentista, com uma forte aceitação do capital internacional e a garantia do desenvolvimento, mantendo-se a política do desenvolvimento e industrialização mediante a busca de formas de financiamento não-inflacionárias.

O Plano de Metas foi, senão o melhor, um dos melhores planos concebidos em prol da industrialização brasileira, assim como, do ponto de vista da sua execução, seguramente foi o que melhor atingiu as metas de realização propostas, ou o que mais se aproximou delas. O Plano de Metas tinha como objetivo corrigir falhas da estrutura industrial brasileira, buscando priorizar o desenvolvimento verticalizado da pirâmide industrial brasileira, dando continuidade ao processo de substituição de importações iniciado nos períodos anteriores. (LESSA, 1981) As linhas gerais do plano passavam pela continuidade no desenvolvimento da infra- estrutura necessária para o desenvolvimento, ou seja, o desenvolvimento do binômio energia-transporte e o desenvolvimento de indústrias de base, siderurgia, refino de petróleo, cimento portland, metais não-ferrosos, álcalis, celulose e papel de imprensa, borracha e fertilizantes. A indústria naval, mecânica e de elétrica pesada também foram beneficiados pelo plano, e ainda os setores voltados para alimentação e educação, principalmente por meio da intervenção estatal.

O modelo geral do plano é dividido em três grandes linhas que eram: a) eliminação dos Pontos de Estrangulamento Interno, por meio do desenvolvimento da

28 Entre a presidência de ambos durante o mês de Agosto de 1958, Francisco Antunes Maciel esteve

infra-estrutura necessária para o desenvolvimento econômico, pela ação governamental sobre os setores de energia, transportes e alimentação, admitindo-se que estes seriam condições necessárias para que o desenvolvimento pudesse ocorrer; b) desenvolvimento dos Pontos de Germinação, que era o contraponto à eliminação dos Pontos de Estrangulamento, um vez que tratava de promover a criação de novos pólos de desenvolvimento, que viriam a ser beneficiados e atraídos pela existência das novas estruturas de transporte.29; c) eliminação do Pontos de

Estrangulamento Externo, com o intuito de desenvolver a indústria e a produção

local, em setores de oferta deficiente, e na busca da redução da dependência externa de produtos com grande peso na pauta de importação, dentre eles, o trigo, a indústria mecânica e a indústria de material elétrico pesado. (LESSA, 1993)

O modelo de investimento no desenvolvimento, poderia ser entendido como um tripé, formado por empresas multinacionais, estatais e nacionais privadas, que deveriam formar um pilar para o desenvolvimento. O Plano de Metas cria uma nova visão da industrialização brasileira, a aceitação do capital estrangeiro é distinta de períodos anteriores, principalmente com relação ao investimento direto. Anteriormente ao governo Juscelino, o interregno Café-Filho dá um grande impulso à entrada do capital estrangeiro, que vem depois a ser continuado pelo Governo Juscelino, mediante a implementação da Instrução Sumoc 113, que permitia a “Cacex emitir para empresas estrangeiras licenças de importação sem cobertura cambial para conjuntos de máquinas destinados a complementação ou aperfeiçoamento daqueles já existentes no país.” (VIANNA, 1987, p. 124).

Plano de Metas possuía como uma de suas principais preocupações a atração do capital estrangeiro privado, pois havia a necessidade contínua da utilização da poupança externa para alavancar o desenvolvimento nacional. A necessidade da estabilidade política e de políticas cambiais e monetárias sólidas para a atração do capital estrangeiro sempre esteve no discurso do Governo Juscelino. A necessidade da interferência do Estado como agente promotor do desenvolvimento é continuamente notada durante o período do Plano de Metas. A

29 A criação de Brasília, como uma das metas do plano, auxilia o desenvolvimento dos Pontos de

Germinação.A mudança da capital para o interior do país, e a criação de estruturas de acesso, seja ferroviário ou rodoviário teria como uma das virtudes geral o fluxo entre o interior do país e as área costeiras, criando assim a possibilidade do desenvolvimento nestes vazios geográficos.

busca pela correção das falhas de mercado, seja na oferta de bens públicos, principalmente infra-estrutura, seja nas formas de obtenção de recursos de longo prazo, faz-se sentir ao longo do desenvolvimento econômico brasileiro.

Do ponto de vista das indústrias de bens de consumo durável, vale uma menção especial à indústria automobilística. Segundo Lessa (1981), a criação da indústria automobilística foi um dos pontos mais importantes do Plano de Metas, tanto que o Governo criou o GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), que tinha como objetivo definir e criar as estruturas para o crescimento desta indústria30. Ao mesmo tempo que o desenvolvimento da indústria automobilística seguia crescendo, a ênfase no desenvolvimento do transporte ferroviário ia sendo reduzida, ainda que inicialmente tivesse sido um dos principais focos de investimento, demonstrando uma falta de alinhamento político entre o discurso e a prática nas decisões de desenvolvimento.

“Nesse processo, o BNDES cumpria seu papel financiando usinas hidrelétricas, linhas de transmissão e siderúrgicas, para produzir o aço com que se fabricavam os eletrodomésticos e automóveis. Novas estradas faziam circular mais facilmente pessoas, produtos e idéias. Os números resultantes dos investimentos governamentais feitos no período JK (inclusive por meio do Banco) tinham sido expressivos. De 6,5 milhões de toneladas de petróleo refinadas em 1957, fomos para 16,5 milhões em 1960-1. De 90 mil toneladas anuais de celulose (também em 1957), passou-se quatro anos depois para 500 mil toneladas.” (BNDES , 2002).

No tocante a recursos externos, o BNDE foi atuante durante o período Juscelino. A garantia de que o investidor internacional seria beneficiado pelo investimento no Brasil era uma das metas do desenvolvimento previsto no Plano de Metas. O Estado seria responsável pelo investimento na infra-estrutura e nas indústrias de base, enquanto o capital privado estrangeiro seria o investidor direto no

30 O desenvolvimento da indústria automobilística sobrepujou todos os outros pontos do Plano de

Metas, não somente pela sua característica e significado econômico, mas muito pela sua conotação política. Afinal, o crescimento desta indústria tornava palpável e facilmente visível as realizações da política econômica para as populações urbanas (IANNI, 1971)

setor de bens de consumo duráveis. Para que isto ocorresse, havia a necessidade de se restabelecer a confiança nos organismos de fomento internacional e em investidores estrangeiros. Em 1956, o Governo brasileiro envia uma missão aos Estados Unidos, sob a chefia de Lucas Lopes, para apresentar aos diretores do

Export-Import Bank Norte-americano que o governo brasileiro estava comprometido

com um programa de desenvolvimento econômico, e que buscaria as medidas para “garantir as condições econômicas, financeiras, cambiais, e políticas da confiança dos empresários, financistas e governos interessados na economia brasileira” (IANNI, 1971, p. 167).

O papel do BNDE neste contexto de necessidade de oferecer segurança ao investidor externo é o de assegurar o acesso ao crédito externo por parte de empresários, como garantidor solidário das operações de empréstimos tomadas no exterior. Ele se torna responsável pela liquidação da dívida junto à instituição de crédito externa, no caso do não pagamento por parte do devedor principal; com isto, o BNDE se investia de poder para orientar o investimento privado. (LESSA, 1981). Ao mesmo tempo, passava a absorver o risco da ineficiência do empresário no caso da inadimplência, transferindo assim, para o setor público, parte dos riscos do setor privado, seja do ponto de vista de performance, seja do ponto de vista de risco cambial.

Segundo Lessa (1981), durante este período, o BNDE, teve em suas mãos dois dos instrumentos mais importantes para o desenvolvimento industrial e para o sucesso do Plano de Metas: a) o poder de conceder financiamento de longo prazo com baixas taxas de juros, que em um ambiente inflacionário e na ausência de mercado de capitais era peça fundamental para o processo de industrialização; e b) a habilidade de conceder avais e decidir sobre a utilização dos financiamentos externos. Deste ponto de vista, o BNDE é considerado por Lessa (1981) a peça básica da filosofia do Plano de Metas.