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3. METODOLOGIA

3.1. Plano metodológico da Investigação-Ação

A investigação teve como objetivo responder às interrogações relativas à implementação um sistema de gestão de informação ainda recente, sobre qual existe pouca informação quanto à sua utilização no contexto do ensino básico e secundário. O plano metodológico incluiu uma componente de reflexão e análise crítica e outra eminentemente prática, visando a intervenção e a alteração de políticas internas e de hábitos profissionais relacionados com a gestão e acesso a recursos educativos, a articulação dos serviços de informação da biblioteca e a utilização das tecnologias digitais. Para além procurar aprofundar a compreensão do problema em questão, o investigador foi também interveniente no contexto duma escola em particular, a Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades, contando com a colaboração ativa de outros elementos da respetiva comunidade escolar, também eles participantes na investigação. Assumiu-se uma visão dinâmica da realidade e da cultura da escola, valorizando-se a interatividade social e profissional, a praxis, a participação e a reflexão crítica. Em certa medida, esteve presente uma conceção valorativa sobre os resultados que, “acaba por determinar o conhecimento que daí possa advir” (Coutinho, Sousa, Dias, Bessa, Ferreira & Vieira, 2009, p. 357).

A investigação, nas suas posições essenciais, teve como referencial o “paradigma sócio crítico” (Coutinho et al., 2009) ou, segundo a designação utilizada por outros autores, a teoria crítica (Guba & Lincoln, 1994; Alarcão, 2001). Neste quadro, foi adotada como metodologia a Investigação-Ação.

De acordo com Almeida (2001, p. 176), um projeto orientado para a investigação- ação “implica entrosar metodologias de investigação com praxologias de ação”, criando “um interface entre duas atitudes/posturas”, a metodologia da investigação “pura” e as regras de ação imediata. Também Coutinho (2005, cit. por Coutinho et al, 2009, p. 362) considera a investigação-ação “uma modalidade de planos de investigação “pluri” ou “multi” metodológicos, por isso mesmo também designados por planos mistos”. Já outros autores (Dick, 2000) consideram que, na maior parte dos casos, a investigação- ação é do tipo qualitativo, embora em algumas situações possa ser do tipo misto. A menor utilização de medidas quantitativas explica-se pelo facto de estas nem sempre se

poderem aplicar às caraterísticas do estudo ou por implicarem demasiado consumo de tempo. A presente investigação incluiu a aplicação de um inquérito por questionário, com tratamento estatístico dos dados. Por essa razão, apesar do pendor essencialmente qualitativo dos restantes métodos, entendemos que esta investigação se enquadra na família dos estudos mistos.

Quanto ao propósito da investigação-ação, concordamos com Simões (1990, p. 32) ao referir que “terá sempre um triplo objetivo: produzir conhecimento, modificar a realidade e transformar os atores”. Os processos de mudança estão no cerne da investigação-ação, uma vez que se pretende “analisar condições, potencialidades, obstáculos, mecanismos, procedimentos, agentes de mudança” e “intervir em situações e processos reais, com os atores neles envolvidos” (Benavente, Costa, & Machado, 1990, p. 11). São tematizadas como importantes

as experiências de participação na produção de conhecimentos, de reflexão sobre as próprias práticas, sobre os parceiros de interação, sobre os contextos envolventes e sobre as problemáticas em causa, por parte dos atores sociais mais diretamente envolvidos na investigação-ação (Benavente et al., 1990, p. 8).

A análise de obstáculos, potencialidades e agentes de mudança diferencia investigação-ação de outras metodologias, assim como as caraterísticas de: ser participativa e colaborativa (o investigador não é um agente externo, é co investigador, em conjunto com outros participantes); ser prática e interventiva; ter um caráter cíclico (numa espiral de ciclos que se repetem continuamente, procurando nos ciclos seguintes melhorar os resultados já conseguidos nos ciclos anteriores); assumir uma postura crítica e reflexiva, em que as modificações são continuamente avaliadas, procurando a adaptação e a produção de novos conhecimentos (Coutinho et al., 2009).

O caráter cíclico é uma característica essencial, sendo cada ciclo formado por diferentes fases. Segundo Dick (2000), o ciclo provavelmente mais conhecido no contexto australiano é o de Stephen Kemmis, que se resume na sequência:

planificação --> ação --> observação --> reflexão (e novamente --> planificação etc.) Existem outros modelos, também eles inspirados no diálogo entre teoria e ação, mas este esquema está particularmente direcionado para o contexto educativo (Coutinho et al., 2009) e ajustou-se bem à investigação que desenvolvemos.

Aplicando o modelo ao contexto da investigação na Escola EB 2,3/S de Oliveira de Frades, entendemos que a primeira fase, a planificação, consistiu na elaboração de um plano de ação, com base em informação crítica recolhida. Esta foi uma etapa organizativa importante, contemplando diferentes domínios:

i. A revisão de literatura, com vista ao enquadramento teórico e à explicitação de conceitos aplicados às bibliotecas e repositórios digitais, com a análise do papel que estes últimos podem desempenhar na organização, preservação, difusão e acesso a recursos pedagógicos.

ii. O estudo sobre as conceções e práticas de utilização de recursos educativos e tecnologias digitais, incluindo repositórios, por parte dos professores e alunos da Escola, identificando expectativas e necessidade informacionais. iii. A análise da situação da biblioteca da Escola Básica e Secundária de Oliveira

de Frades no que se refere ao uso de tecnologias baseadas na Internet nos processos de organização e difusão da informação e disponibilização do catálogo em linha (OPAC), com intervenção e apresentação de propostas de melhoria.

iv. A conceção e implementação de um repositório digital, incluindo a análise das caraterísticas técnicas e funcionais do software escolhido (DSpace) e a sua parametrização, a definição de políticas de escola quanto ao depósito de conteúdos e direitos de autor e a definição de critérios de seleção e validação dos conteúdos depositados.

v. A utilização de critérios e regras para a construção de uma linguagem de indexação e elaboração de uma lista de termos controlados para utilização uniforme na inserção de metadados descritivos, tanto no repositórios como noutros serviços de informação e documentação da biblioteca.

Na segunda fase da investigação, a ação, foi importante recolher a aprovação e a colaboração das diferentes estruturas envolvidas. Para execução do plano contou-se com a participação ativa dos docentes (domínios ii. a v.) e alunos (domínio ii.). No final desta fase foi concretizado o objetivo de apresentar à comunidade escolar um protótipo de repositório digital, em funcionamento.

A observação dos efeitos da aplicação do plano constituiu a terceira fase da investigação-ação. Consistiu, fundamentalmente, na revisão e avaliação do trabalho desenvolvido. Foram descritos, num relatório de implementação, os diferentes processos

e procedimentos envolvidos na criação e implementação do repositório na escola, tendo como base a observação direta e participativa e conversas informais.

Por último, foi feita a reflexão sobre os resultados e o desenho de conclusões. O conhecimento produzido poderá servir como ponto de partida para a implementação de repositórios digitais numa outra escola ou para dar início a um novo ciclo de investigação-ação, numa espiral que envolverá uma nova sequência de planificação, ação, observação e reflexão.

A diferenciação do plano metodológico no âmbito da investigação-ação não se situa tanto nas técnicas de recolha de informação, que são as mesmas utilizadas noutras metodologias de investigação em ciências sociais — a análise documental, o inquérito por questionário e a observação direta e participante — mas antes nas forma e no modo como é assumida a relação do investigador com os atores e situações observados.