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5.1. Planos

Uma vez que este estudo culmina o trabalho de William Forsythe, pensando sempre nas componentes do movimento elaboradas por Laban, é importante também falar sobre os planos do movimento, visto que o presente estudo incide sobre a compreensão da forma mecânica do movimento. De acordo com os três planos do movimento, em parceria com a forma deste, Laban discorria um olhar à construção da sua própria coreografia. Para a compreensão e observação do movimento, surgem como caraterísticas principais associadas a esta prática a forma e a intenção do movimento. Compreender a forma implica analisar e perceber a forma arquitetónica e a sua estrutura, enquanto o esforço abrange o conteúdo do movimento, determinando a dinâmica e amplitude deste.

Tendo em conta os planos do movimento, estes são horizontal, vertical e o sagital. Dentro de cada um destes planos existe sempre uma diferenciação relativamente exploração do movimento que é realizado. Ou seja, o corpo movimenta-se tendo em atenção ao plano.

•   Plano horizontal: neste plano, reconhecido como plano da mesa, os movimentos executados pelo corpo privilegiam acima de tudo os movimentos que ocupam e se movimentam tendo em conta a largura. Aqui são destacados movimentos expandidos no espaço ou contidos, assim como torções da coluna vertebral. Outra caraterística deste plano é a capacidade de distinguir o movimento que é executado acima do plano ou abaixo deste.

•   Plano vertical: o movimento pode ser aumentado, pela parte superior do corpo, podendo mesmo chegar a movimentar-se para a lateral, ou diminuir. Para melhor compreensão deste plano, é possível imaginar que o bailarino se encontra no meio de dois planos de vidro. Tal como Brasil (s.d.) refere, “Nele ficam evidenciadas as propriedades de simetria do corpo humano e a habilidade de movimentos laterais da coluna vertebral.” (p.12).

•   Plano Sagital: este plano implica que o corpo se incline para a frente com o torso de forma a criar uma forma convexa, ou incline para trás para criar uma forma côncava. Os movimentos realizados com base neste plano, fazem o corpo avançar ou recuar, envolvendo igualmente a coluna, relacionando o movimento à dimensão

profundidade. Igualmente importante é o plano que divide o espaço à direita e à esquerda.

A forma e a intenção do movimento têm sempre algo em comum em cada momento que o corpo executa uma ação. Estão sempre a par, preocupando-se com a direção e com a

qualidade do movimento, nunca pensando em posições fixas, mas sim em motion1.

Laban criou e utilizou os planos como modelo de auxílio na organização do corpo no espaço, dando a possibilidade ao corpo mexer de uma maneira mais organizada e consciente. Quando o movimento é realizado conscientemente, tendo em conta a sua qualidade, dinâmica, ritmo, forma e espaço, originam-se movimentos bidimensionais. Desta forma, citando Brasil (s.d.),

As diversas partes do corpo, como unidades pontuais cumprem trajetórias no espaço pessoal ao unir dois, três, quatro ou mais pontos, construindo retas, linhas (…), ou descrevendo linhas levemente curvas quando passam pelo centro, deixando em seu rastro o valor da expressão de cada gesto, de cada mudança de posição do corpo no espaço. No seu deslocamento também pode avançar no espaço geral e ao levar consigo sua esfera pessoal estabelecer com este, novas relações. (p.16).

5.2. Qualidades do movimento

De acordo com Laban existem três qualidades de movimento: força, espaço, peso e tempo. Dentro do espaço, o movimento pode ser explorado de acordo com dois tipos de movimento, o direto e o flexível. O peso, é o tipo de pressão/energia que se coloca numa ação. Este pode variar de acordo com o tipo de movimento que se pretende fazer, podendo variar entre movimentos delicados e fortes. O tempo consiste no ritmo contido no movimento, variando entre tipos de movimento suspensos ou rápidos, tendo sido mencionado anteriormente no capítulo um.

No geral, os bailarinos pensam de forma inconsciente, contudo, no momento que estes termos são evidenciados e chamados à atenção, o movimento tornar-se-á mais consciente. Na realidade, este tipo de trabalho deve ser iniciado desde cedo com os alunos de dança, e quando este não é realizado, possivelmente os alunos aprendem a movimentar-se apenas pensando no corpo, e não na relação corpo-mente.

                                                                                                                         

Para além destas qualidades, existe ainda outra que tem sido recentemente estudada e desenvolvida em várias técnicas. Segundo Davies (2006), outra qualidade de movimento identificada por Laban, embora assumida e tendo ganho maior definição por Warren Lamb (1923-2014), é o flow. Este é visto como uma dinâmica do movimento, trazendo flexibilidade através da originalidade, assim como faz o link entre todo o corpo em movimento e gestos. Para além disso, similarmente é uma qualidade que proporciona equilíbrio no movimento. Pode-se dizer que, a própria consciência da forma do movimento pode levar mais tarde a este

flow, executando ações contínuas e controladas. Tal como nos explica Davies (2006), “If you

allow yourself to be along the wind so that your legs go faster and faster, then you resist the wind and control your running, you have gone from Freening to Binding flow” (p. 48).

5.3. Espaço

Falado mais propriamente de uma sequência de movimentos, de acordo com o que Laban foi desenvolvendo ao longo de toda a sua carreira, é possível dizer-se que esta lida constantemente com o princípio da forma do movimento, construída a partir de elementos direcionais. Ou seja, é uma estrutura baseada nas leis do movimento. A noção de espaço está agregada à noção da forma, sendo que Laban observa “(…) spatial direction as the most significant elemento of bodily movement. The whole complexity of movement and dance can be deduced to basic directions which derive from our basic orientation in space related to the vertical and the horizontals of the three dimensions.” (Maletic, 1987, p.58). Relativamente ao tema base deste estágio, a consciência da forma do movimento, é um tema já há muito tempo estudado, sobretudo por Rudolf von Laban. O mesmo é aqui mencionado pois, este defende que a forma e o caminho do movimento na prática é visto

(…) as one of the most salient strucutural aspects of movement in dance. The essential is whether the directions are dimensionally or diagonally emphasized, then the path into which these directions fuse, such as round, spiral, straight, and perhaps also the way in which the body holds its equilibrium, for which the limbs are used. (Maletic, 1987, p. 64).

Portanto, a forma do movimento é um elemento intrínseco na composição coreográfica, assim como em todas as aulas de técnica existentes. Laban, nas suas pesquisas incidiu sobre os

padrões da forma e o tamanho do movimento. A exploração do movimento tendo em conta o seu tamanho, é sempre realizada com base no aspeto da extensão e contração do corpo, mantendo em foco a capacidade de observação do próprio centro do corpo, bem como do ambiente que rodeia o bailarino.

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