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II.4 Produtos Naturais

II.4.1 Metabólitos secundários

II.4.1.2 Plantas do gênero Combretum

Plantas medicinais têm sido utilizadas praticamente em todas as culturas, desde os primórdios como medicamentos, e são de grande importância para a saúde das comunidades (EDEOGA; OKWU; MBAEBIE, 2005). Com o passar dos anos, a medicina tradicional vem sendo usada em várias partes do mundo e está crescendo com relação a sua importância econômica, sobretudo em países desenvolvidos.

O uso de plantas da família Combretaceae na medicina popular, é bem documentado na literatura (MCGAW et al., 2001; MUTHU et al., 2006). Esta família é constituída por aproximadamente 20 gêneros onde possuem cerca de 600 espécies. Os maiores gêneros são Combretum e Terminalia, com 370 e 200 espécies catalogadas, respectivamente (PIETROVSKI et al., 2006). Os membros da família Combretaceae são distribuídos, principalmente, em regiões tropicais e subtropicais, como África e Brasil (LIMA et al., 2012).

Estudos fitoquímicos envolvendo plantas do gênero Combretum vem, proporcionalmente, aumentando nos últimos anos. Estes estudos revelaram a ocorrência de muitas classes de compostos incluindo triterpenos, flavonoides, aminoácidos não proteicos, entre outros (PIETROVSKI et al., 2006). Nesse contexto, vários trabalhos envolvendo espécies do gênero Combretum têm evidenciado várias atividades biológicas importantes, demonstrando que esses fitoconstituintes possuem potencial promissor na geração de novos fármacos. Combretum

micrathum, uma espécie endêmica da África possui atividade antimicrobiana e

antidiabética (ABREU et al., 1999; CHIKA; BELLO, 2010). Uma proantocianidina isolada do extrato hidroalcóolico de Combretum mucronatum apresentou atividade

Schinus molle Folha

Cicatrizante, anti-

inflamatório Ácido gálico

MARZOUK et

Nascimento-Neto, L. G. EFEITO PRÓ-CICATRIZANTE DO TRITERPENO 3β,6β,16β-TRIHYDROXYLUP-20(29)-ENE (CLF-1) ISOLADO DE FOLHAS DE Combretum leprosum E ATIVIDADE ANTITUMORAL DE UMA LECTINA ISOLADA DA ESPONJA MARINHA Haliclona caerulea 61

anti-helmintica (SPIEGLER et al., 2015). Uma ecacetina isolada do extrato aquoso de folhas de Combretum vendae demonstrou atividade anti-oxidante (KOMAPE et

al., 2014). Já o extrato etanólico de Combretum adenogonium induz atividade anti-

HIV-1, contudo ainda não se sabe que componente é capaz de exercer atividade anti-viral (MUSHI et al., 2012).

No Brasil, Combretum leprosum, é uma planta que vem sendo bastante estudada (Figura II.4.3, próxima página). Plantas dessa espécie são conhecidas popularmente como mofumbo, mufumbo, pente-de-macaco, carne-de-vaca ou cipoaba, e além de ser uma espécie melífera, está distribuída nos estados do Norte e Nordeste, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (CHAVES et al., 2007). C. leprosum é bastante utilizada na medicina popular, principalmente pela preparação de infusões de suas partes aéreas que proporcionam o tratamento deferidas e irritações cutâneas, ação expectorante, anti-hemorrágico, sedativo e analgésico (AGRA et al., 2007; FACUNDO et al., 2005).

Nos últimos anos, vários estudos envolvendo fitoconstituintes, principalmente isolados de extratos das partes aéreas de C. leprosum, vem demonstrando potencialidades biotecnológicas promissoras. Lopes e colaboradores (2012), isolaram o flavonoide (-) epicatecina (EPI) do extrato hidroalcoólico da casca do caule de C. leprosum. EPI demonstrou atividade antinociceptiva em camundongos, reduzindo os efeitos causados pelo glutamato. A atividade antinociceptiva foi revertida por naloxona e glibenclamida, sugerindo a participação de receptores opioides e canais de potássio dependentes de ATP. Em outro estudo, Facundo e colaboradores (2005), isolaram o composto denominado ácido arjunólico (Figura II.4.4, próxima página) do extrato etanólico de raízes de C. leprosum e observaram que o composto apresenta atividade anti-inflamatória ao reduzir edema de pata em ratos, induzido por carragenina, quando administrado por via oral . Fernandes e colaboradores (2014), constataram que o mesmo ácido arjunólico (AJ) foi capaz de reduzir os efeitos do veneno de Bothrops jararacussu e Bothrops

jararaca em modelos in vitro e in vivo, sugerindo que AJ pode ser um potencial

Nascimento-Neto, L. G. EFEITO PRÓ-CICATRIZANTE DO TRITERPENO 3β,6β,16β-TRIHYDROXYLUP-20(29)-ENE (CLF-1) ISOLADO DE FOLHAS DE Combretum leprosum E ATIVIDADE ANTITUMORAL DE UMA LECTINA ISOLADA DA ESPONJA MARINHA Haliclona caerulea 62

Figura II.4.3: Partes aéreas do Mufumbo (Combretum leprosum).

Fonte: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB6906

O triterpeno isolado do extrato etanólico de flores de C. leprosum, conhecido como lupano ou TTHL induziu atividade antinociceptiva em camundongos, reduzindo a nocicepção causada por glutamato (PIETROVSKI et al., 2006) . Outros trabalhos já descritos com TTHL (lupano), mostram que o triterpeno possui atividade antiinflamatória onde reduziu os níveis de TNF-α e IL-1β, sem alterar os níveis de IL-10. Além disso, reduziu a infiltração leucocitária induzida por ácido acético (LONGHI-BALBINOT et al., 2012). Além disso, a atividade antinociceptiva também foi descrita para o triterpeno (LONGHI-BALBINOT et al., 2011). Outro importante efeito de TTHL é a atividade antitumoral descrita por Viau e colaboradores (2014). TTHL foi capaz de induzir apoptose de células do adenocarcinoma de mama MCF 7 de modo tempo dependente. Além disso, o triterpeno é capaz de causar fragmentação do DNA de MCF 7 através da geração de espécies reativas de oxigênio (EROS) ou pela internalização e interação do triterpeno com o DNA das células tumorais. TTHL possui atividade antileishmanial, onde causa a redução da viabilidade das formas promastigotas de Leishmania

amazonensesis (TELES et al., 2011). Mais recentemente, o triterpeno isolado do

extrato etanólico das folhas de C. leprosum (CLF-1) apresentou atividade antimicrobiana sobre bactérias Gram-positivas (EVARISTO et al., 2014).

Nesse contexto, Combretum leprosum pode ser uma importante opção para a medicina tradicional e clínica, pois vem demonstrado ser fonte potencial de

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novos fármacos. Além disso, apesar das diversas atividades biológicas apresentas até o momento, por diferentes constituintes, não existem dados que comprovem sua eficácia sobre o processo cicatricial, bem como qual/quais composto(s) podem induzir de forma efetiva a cicatrização.

Figura II.4.4: Estrutura química dos triterpenos isolados de Combretum leprosum (Lupano; ácido arjunólico e ácido asiático).

Fonte: Adaptado de FACUNDO, V. A. et al. Arjunolic Acid in the Ethanolic Extract of Combretum leprosum Root and its Use as a Potential Multi-Functional Phytomedicine and Drug for Neurodegenerative Disorders: Anti-Inflammatory and Anticholinesterasic Activities. Journal of the Brazilian Chemical Society, v. 16, n. 6B, p. 1309-1312, 2005.