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PLANTAS MEDICINAIS: CONTEXTO HISTÓRICO

1 INTRODUÇÃO

1.8 PLANTAS MEDICINAIS: CONTEXTO HISTÓRICO

As plantas medicinais são utilizadas em comunidades tradicionais, como remédios caseiros, e são utilizadas como matéria-prima para fabricação de fitoterápicos e outros medicamentos (LEÃO; FERREIRA; JARDIM, 2007). A planta medicinal é toda planta que quando administrada ao homem ou animal, por qualquer via ou forma, exerce alguma ação terapêutica (LOPES et al, 2005).

A utilização de produtos naturais, com fins medicinais, nasceu com a humanidade. Nas civilizações mais antigas, já se encontravam indícios do uso de plantas medicinais sendo considerada uma das práticas mais remotas utilizadas pelo homem para cura, prevenção e tratamento de doenças, servindo como importante fonte de compostos biologicamente ativos (ANDRADE; CARDOSO; BASTOS, 2007).

É possível que o registro mais antigo do uso de plantas medicinais tenha sido na China há cerca de 5000 anos a.C. (MARTINS et al, 1995). Já nas antigas civilizações ocidentais o manuscrito egípcio “Papiro de Ebers” registrava em 1500 a.C. diversas espécies vegetais utilizadas na medicina egípicia (ALMEIDA, 2000).

Até o século XIX os recursos terapêuticos eram constituídos basicamente por plantas e extratos vegetais, ilustrado em diversas farmacopeias da época (SCHENKEL; GOSMAN; PETROVICK, 2000). Apesar da medicina já ter avançado bastante a partir do século XX, as plantas ainda são de grande contribuição para a manutenção da saúde e alívio de algumas enfermidades em países em desenvolvimento (SOUZA; FELFILI, 2006), sobretudo, pelas condições de pobreza e a falta de acesso aos medicamentos, associados à fácil obtenção e tradição do uso de plantas com fins medicinais (VEIGA JUNIOR; PINTO, 2005). Atualmente, a nova tendência da ciência é isolar os princípios ativos de diversas plantas para entender sua funcionalidade e seu mecanismo de ação (BRASIL, 2005).

1.8.1 Óleos de plantas com atividade antinociceptiva

As plantas medicinais têm sido utilizadas para o tratamento de diferentes doenças na maioria das culturas. Em um estudo paquistanês de Shah et al (2012) foi realizada uma análise dos constituintes químicos e do potencial antinociceptivo do óleo essencial de Teucrium Stocksianum bioss. O óleo essencial foi extraído de partes aéreas de Teucrium stocksianum por processo de hidrodestilação e a composição qualitativa e quantitativa de óleo essencial foi determinada com cromatografia gasosa / espectrometria de massa. A atividade antinociceptiva foi determinada pela contorção induzida por ácido acético, no qual 80 mg / kg diminuiu em 93% as contorções abdominais (p <0,001 ), mostrando excelente atividade antinociceptiva. Os principais componentes encontrados foram δ-cadineno (12,92%), α- pineno (10,3%), mirceno (8,64%), β-cariofileno (8,23%), germacreno D (5,18%) e limoneno (2,36%). Este estudo sugere que a elevada potencia do óleo, inclusive maior que o diclofenaco

de sódio, pode ser devido ao efeito sinergístico dos vários componentes presentes no óleo essencial, mas que sua composição química e, portanto, seus efeitos podem variar na mesma espécie quando cultivadas em regiões e estações diferentes.

No estudo de Lima et al (2012), verificou-se o efeito antinociceptivo da administração por via oral de Piper aleyreanum (Eopa) em roedores submetidos aos modelos de formalina. Neste óleo foram identificados 35 compostos, como o Óxido de cariofileno (11,5%), β-pineno (9%), espatulenol (6,7%), canfeno (5,2%), β-elemeno (4,7%), myrtenal (4,2%), verbenona (3,3%) e pinocarvone (3,1 %). A antinocicepção causado por Eopa (100 mg / kg, po) não foi revertida pela naloxona (1 ou 5 mg / kg, ip) no teste de formalina, sugerindo potencial terapeutico antinociceptivo.

Propriedades antinociceptivas também foram encontradas no óleo essencial de Ocimum micranthum (EOOM). Em camundongos, EOOM (15-100 mg kg (-1), p.o.) reduziu ambas as respostas contorções induzidas por ácido acético e o tempo de lamber induzido pela formalina, sendo inerte no teste da placa quente. Assim, EOOM exerce analgesia periférica na nocicepção de origem inflamatória (Pinho et al, 2012). O óleo essencial extraído de sementes de Satureja hortensis também demonstrou efeito antinociceptivo. A actividade analgésica foi avaliada em ratos machos (25-35 g), utilizando métodos padrão (ácido acético e os testes de formalina). O pré-tratamento dos ratos com 50, 100 ou 200mg /kg, reduziu significativamente contorções abdominais induzidas por ácido acético (p <0,001), demonstrando claramente a actividade analgésica das sementes de S. Hortensis (HAJHASHEMI; ZOLFAGHARI; YOUSEFI, 2012).

Em estudo realizado na China, verificou-se que o óleo essencial das raízes de I. lanceolatum, obtido por hidrodestilação, demonstrou efeitos significativamente antinociceptivos após o teste com ácido acético. Os componentes principais foram miristicina (17,63%), α-asarona (17,23%), metil isoeugenol (11,19%), apiol (8,82%) e isolongifolol (5,94%). Os resultados indicam que o óleo essencial pode conter os componentes bioactivos do I. Lanceolatum (LIANG; HUANG; WANG, 2012). No Irã, o óleo essencial de Nepeta crispa teve sua atividade antinociceptiva comprovada após estudo com ratos wistar machos. O óleo essencial dependentemente da dose produziu analgesia em modelos de dor aguda, incluindo a retirada da cauda (p <0,001), e a primeira fase do teste de formalina (p <0,01). Na fase final do teste de formalina, como um modelo de dor crónica, o óleo essencial reduziu significativamente o comportamento da dor induzida por (p <0,01) (ALI et al, 2012).

Recentemente, um grupo de pesquisa de Sergipe demonstrou que o óleo essencial de Lippia gracilis possui ações antinociceptiva e anti-inflamatória e seu principal componente

identificado foi o timol (RIELLA et al, 2012). Já no Pará, uma planta conhecida popularmente como “carrapatinho” (Peperomia serpens) bastante vendida no mercado do Ver-o-Peso também apresentou eficácia analgésica após pré-tratamento oral (62,5-500 mg / kg) de óleo essencial, reduzindo significativamente o número de contorções evocada por injecção de ácido acético, com um valor ED (50), de 188,8mg/kg que foi utilizada posteriormente em todos os testes. Não houve nenhum efeito significativo no teste de placa quente, mas reduziu o tempo a lamber, em ambas as fases do teste da formalina, um efeito que não foi significativamente alterada pela naloxona (0,4 mg / kg, sc). Estes dados demonstram pela primeira vez que o óleo essencial desta planta tem um efeito significativo e periférico antinociceptivo que parece não relacionado com a interação com o sistema opióide (PINHEIRO et al, 2011).

Na última década, dezenas de óleos essenciais de plantas foram pesquisadas em diferentes países com o objetivo de avaliar sua atividade analgésica e antiinflamatória. No Brasil, entre as plantas analisadas com publicação de resultados de nível internacional estão a família Labiatae (DE SOUSA et al, 2011), o limão citrus (CAMPÊLO et al, 2011), a citronellal (QUINTANS-JÚNIOR et al, 2011), a Hyptis fruticosa (FRANCO et al, 2011), o alecrim-da-chapada ou Lippia gracilis (GUILHON et al , 2011), o canudinho ou Hyptis pectinata Poit (RAYMUNDO et al, 2011), a Ocimum basilicum L. (VENÂNCIO et al, 2011), a (-)-α-bisabolol (BISA) (LEITE et al, 2011), a Cymbopogon winterianus Jowitt (Poaceae) (LEITE ET AL, 2010), o (-)-linalool (BATISTA et al, 2010), na Malásia, a Zingiber zerumbet (KHALID ET AL, 2011), na Sérvia, a Choisya ternata Kunth (RADULOVIĆ et al, 2011), no Irã, a Bunium persicum (HAJHASHEMI; SAJJADI; ZOMORODKIA, 2011), no México, a Hofmeisteria schaffneri (Asteraceae) (ANGELES-LÓPEZ ET AL, 2010), além de muitos outros países.

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