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Plantio de cana em terra arrendada no assentamento Gleba XV de Novembro

Fonte: Pesquisa de campo – 2005 A Fonte: Sergio Pereira de Souza

O arrendamento é realizado para a Destilaria Alcídia que cultiva cana-de-açúcar; para outros assentados que retiram semente de Brachiaria Brizantha43 e vendem para a empresa de produção de sementes Facholli S/A localizada em Santo Anastácio-SP ou ainda utilizam para a pastagem.

Segundo o assentado G. M. (46, morador da Gleba XV de Novembro) “O arrendamento da terra para pastagem de gado, é realizado de duas formas: por cabeça de gado ou por alqueire. Na primeira modalidade, o arrendatário recebe em média R$ 5,00 a R$ 10,00 por cabeça/gado (bezerro ou vaca) e, na segunda forma, em 2005, o valor do alqueire estava, em média, a R$ 50,00”.

O restante da terra, que não é utilizada pelos responsáveis pelo lote para o arrendamento, serve para cultivar a mandioca, o milho, o algodão, o feijão e produzir o leite que tem como finalidade tanto a comercialização como o autoconsumo familiar (Tabela 20).

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A Brachiaria Brizantha é uma gramínea originária da África tropical muito cultivada na região do Pontal do Paranapanema, que se desenvolve bem em regiões tropicais desde o nível do mar até 1.800 metros de altura e precipitação de 1.000 a 3.500 mm ao ano. De hábito rizotoma se desenvolve bem em solos de mediana/alta fertilidade, com boa drenagem, sem ter enharcamento prolongados, tolera bem as secas prolongadas e se recupera bem depois de queimadas, além de possuir uma boa palatabilidade aceita inclusive por eqüinos.

Tabela 20

Produtos agropecuários destinados à comercialização de acordo com os responsáveis pelo lote

Produtos Gleba XV de Novembro N0 de entrevistados % Vale Verde N0 de entrevistados % Mandioca 26 32 05 38 Leite 25 31 03 23 Mandioca/grama/leite 07 09 Cana 04 05 - - Algodão 02 03 02 15 Bezerro 02 03 - - Verdura 02 03 - - Legume/verdura 01 01 - - Semente de grama 01 01 Algodão/mandioca/feijão - - 02 15 Mandioca/café - - 01 08 Não tem 10 12 - - Total 80 100 13 100

Fonte: Pesquisa de campo – 2005 Org: Sergio Pereira de Souza

Pela tabela 20 podemos perceber que os produtos agropecuários mais destinados à comercialização são: a mandioca, declarada por 32% dos responsáveis pelo lote da Gleba XV de Novembro e por 38% do Vale Verde, e a produção de leite, realizada por 31% e 23%, respectivamente.

Cabe ressaltar que 12% dos entrevistados na Gleba XV de Novembro responderam “não ter cultivo”. Isso ocorreu em virtude do fato de que no momento de realizaç ão da pesquisa de campo dez assentados não estavam cultivando nenhum produto agrícola destinado à comercialização.

As cidades de Euclides da Cunha Paulista, Teodoro Sampaio e Rosana no Estado de São Paulo e Terra Rica e Nova Londrina no Estado do Paraná destacam-se como sendo os locais em que os assentados comercializam seus produtos agropecuários. Isto ocorre porque nesses núcleos urbanos localizam-se farinheiras (Euclides da Cunha Paulista em São Paulo e Nova Londrina no Paraná) e Laticínios (Teodoro Sampaio em São Paulo; Terra Rica e Nova Londrina no Paraná).

No caso dos três municípios pesquisados foram implantados agroindústrias44 nas cidades de Teodoro Sampaio e Euclides da Cunha Paulista, conforme tabela 21.

44 No município de Rosana também houve a implantação de um laticínio, todavia no momento de realização da

Tabela 21

Tipo e ano de implantação de agroindústrias nos municípios pesquisados

Município Tipo Ano de implantação N0 de funcionários

Teodoro Sampaio Laticínio 1990 113

Euclides da Cunha Pta Farinheira 1994 30

Fonte: Pesquisa de campo – 2005 Org: Sergio Pereira de Souza

Pela tabela 21 podemos perceber que a implantação do laticínio e da farinheira coincide com a década de implantação de um maior número de assentamentos nos municípios de Teodoro e Euclides da Cunha Paulista, ou seja, a década de 1990. Estas agroindústrias propiciaram a criação de empregos diretos (113 no laticínio e 30 na farinheira), e geraram empregos indiretos nos assentamentos como coletores de leite e nas cidades como de motoristas (transporte do leite e da mandioca do campo até a cidade).

Em 2005 a “Farinheira da Gente” localizada em Euclides da Cunha Paulista comprava mandioca dos assentamentos Rancho Grande, Rancho Alto, Santa Rosa e Gleba XV de Novembro a R$ 30,00 a tonelada. Depois de transformada a mandioca em farinha a mesma estava sendo vendida a R$ 0,60 para a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), em São Paulo que a distribuía para os revendedores no varejo e também para os comerciantes (mercados, supermercados) de Euclides da Cunha Paulista.

O fato desses municípios possuírem agroindústrias que estão processando os produtos agropecuários dos assentados cria uma rede de relações de comercialização mais intensa dos assentados com as cidades.

No caso do leite e da mandioca ocorre também a comercialização com laticínios e fecularias do Estado do Paraná que extrapola as fronteiras do Estado de São Paulo aumentando o circuito de relação dos assentados com outro estados/regiões.

A maior dificuldade quanto a comercialização dos produtos, segundo todos os entrevistados, é o baixo preço recebido e a pouca garantia de venda dos produtos como foi o caso da mandioca, que na safra de 2002/2003 estava custando R$ 140,00 a tonelada e na safra de 2004/2005 teve seu preço reduzido para R$ 30,00 a R$ 42,00 a tonelada.

A falta de garantia em termos de preço mínimo fez com que os assentados que haviam plantado mandioca não a arrancassem, deixando para vender sua produção futuramente (2006) na expectativa de aumento do preço.

O mesmo problema ocorreu com a produção de leite, que no ano de 2005 estava sendo comercializado a R$ 0,38 o litro, sendo considerado um valor muito baixo pelos assentados.

Além dos produtos que os assentados comercializam, eles plantam também para a subsistência da família.

A produção para o autoconsumo tem se caracterizado como uma importante fonte de manutenção do assentado no lote. Entendemos como produção para a subsistência, os produtos agropecuários que a família assentada obtém no seu próprio lote e utiliza na sua dieta alimentar.

Conforme Weid (1991) apud Santos & Ferrante (2003, p. 22)

O autoconsumo tem papel essencial no sistema de produção, pois ele é que garante a estabilidade do produtor frente aos resultados oscilantes das culturas comerciais. Tem um papel de reserva de segurança para os momentos difíceis, além de produzir eventuais excedentes, às vezes bastante significativos para o mercado local.

Ainda, de acordo com esses autores,

Essa segurança é fundamental para a fixação do agricultor no campo, pois garante a alimentação da sua família. Além disso, a criação de pequenos animais, a pecuária leiteira e a produção de olerícolas e frutíferas são exigentes em mão-de- obra, o que permite o envolvimento de mulheres e jovens no trabalho do lote. (SANTOS & FERRANTE, 2003, P.100)

Em pesquisa realizada por Santos & Ferrante (2003) com 42 famílias em assentamentos no Pontal do Paranapanema, estas autoras quantificaram a média per capita de consumo e constataram que o feijão, a mandioca, o milho, a carne de frango, os ovos e o leite são os principais produtos provenientes do lote que compõem a alimentação das famílias assentadas45.

Como ressaltam Santos & Ferrante (2003, p.55/56/57)

Entre os produtos classificados como lavoura, o feijão, com 21,98 kg/ano, é o produto que mais se destaca. A mandioca e o milho verde também têm grande importância nesse item, com 20,95 e 14,12 kg/ano, respectivamente. Da mandioca os assentados produzem a farinha e a tapioca, sendo que em alguns

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Na pesquisa de campo realizada nos assentamentos Gleba XV de Novembro e Vale Verde não foi priorizada a coleta de dados referentes ao valor médio “per capita” do consumo das famílias e, portanto, estamos utilizando dados da pesquisa realizada por Santos & Ferrante (2003), em assentamentos do Pontal do Paranapanema, região em que estão localizados os referidos assentamentos para exemplificar a importância do autoconsumo na renda familiar.

lotes podem-se encontrar pequenas farinheiras para a produção comercial. Uma parte da produção é retirada para o autoconsumo. O milho é consumido como milho verde e também é utilizado na forma de derivados/processados como fubá e pamonha. A pecuária de corte não tem grande representatividade no consumo geral dos assentados. Esta é substituída pela produção de animais de pequeno porte, que exigem menor área para a criação, advindo dessa fonte a proteína animal. Destacam-se aqui a carne de frango (37,46 kg/ano), o ovo (12,33 kg/ano), carne de porco (11,87 kg/ano) e o leite (123,39 kg/ano). Com um consumo médio de 61,18 kg/ano, as hortaliças têm papel fundamental na produção de subsistência, pois são alimentos responsáveis pelo fornecimento de vitaminas e sais minerais. Destacam-se neste item as culturas de cultivo menos exigente quanto aos insumos e/ou de mais fácil conservação. Figuram entre elas: abobrinha (10,22 kg/ano), abóbora (4,04 kg/ano), batata doce (7,49 kg/ano), alface (8,59kg/ano), maxixe (3,87 kg/ano), e quiabo (3,35 kg/ano). Entre as frutas destacam-se a banana (20,30 kg/ano), a laranja (15,83kg/ano), e mamão (10,99 kg/ano), que juntas perfazem 52.89 kg/ano do consumo médio de frutas das famílias no Pontal.

A produção de autoconsumo ajuda a construir a segurança econômica que é fundamental para a fixação do assentado no lote, pois garante a alimentação da sua família (SANTOS & FERRANTE, 2003).

Com a produção para o autoconsumo, os assentados economizam para investir na aquisição de outros produtos ou alimentos que não são produzidos por eles.

Segundo Santos & Ferrante (2003, p. 99)

De uma maneira geral, observa-se uma grande inter-relação entre a produção comercial, a produção para o autoconsumo e o desempenho econômico dos assentados. Parte significativa da alimentação é retirada, ou depende diretamente da produção comercial do lote e esse consumo é tanto maior quanto melhor o desempenho econômico do assentado. Nota-se que fatores como o clima, solo, tamanho do lote, mercado consumidor, determinantes em certo grau do tipo de exploração agropecuária nas diferentes regiões do Estado e, conseqüentemente, nos assentamentos, também vão refletir na diversidade e na quantidade de produtos consumidos pelas famílias.

Com relação à quantidade de dinheiro que os assentados pesquisados economizam com o consumo de produtos que são produzidos no lote, 48% do entrevistados na Gleba XV de Novembro e 46% no assentamento Vale Verde declararam que economizam de R$ 1,00 a R$ 100,00 por mês; 14% e 15% economizam entre R$ 101,00 e R$ 200,00 respectivamente; e, 32% e 39% não responderam sobre quanto economizam por mês, conforme podemos verificar na tabela 22.

Tabela 22

Quanto os responsáveis pelo lote entrevistados economizam por mês

Valor (R$) Gleba XV de Novembro

N0 de entrevistados % N0 de entrevistados Vale Verde %

De R$ 1,00 a R$ 100,00 38 48 06 46 De R$ 101,00 a R$ 200,00 11 14 02 15 De R$ 201,00 a R$ 300,00 04 05 - - De R$ 401,00 a R$ R$ 500,00 01 01 - - Não respondeu 26 32 04 39 Total 80 100 13 100

Fonte: Pesquisa de campo – 2005 Org: Sergio Pereira de Souza

Na tabela 22 podemos perceber que é grande a quantidade de responsáveis pelo lote entrevistados que não souberam responder quanto economizam com os produtos adquiridos no lote e consumidos pela família. Ou seja, 32% e 39%, respectivamente, não têm a noção de que se o alimento produzido e consumido pela família tivesse que ser obtido no comércio da cidade haveria o aumento do gasto com alimentação.

Os produtos agropecuários destinados tanto para a comercialização como para a subsistência estão estritamente ligados à trajetória de vida das famílias assentadas, que procuram conciliar a produção destinada para a comercialização (milho, algodão, mandioca, leite, cana etc) com a produção destinada à subsistência (arroz, feijão, mandioca, frutas, leite, verduras etc). Esta forma de conciliação da produção funciona como uma estratégia para a sobrevivência da família que, nos momentos de crise financeira, retira os alimentos necessários para sua manutenção alimentar ou para a obtenção de algum dinheiro com a venda de bezerros.

No que diz respeito à produção agropecuária para a subsistência familiar ocorre uma diversificação no tipo de produtos, pois as famílias produzem vários produtos no lote como, por exemplo, mandioca/feijão/milho ou leite/verdura/mandioca como pode se observar na tabela 23.

Os assentados ainda cultivam pequenas áreas com hortas para a subsistência (com produção de couve, cebolinha, alface etc) e também um pequeno pomar, com cultivo de espécies frutíferas tais como a banana, o maracujá, o mamão, a manga, a goiaba etc.

Tabela 23

Principais produtos agropecuários destinados à subsistência

Produtos Gleba XV de Novembro N0 de entrevistados % Vale Verde N0 de entrevistados % Mandioca 18 23 09 08 Leite 16 20 - - Verdura 14 17 - Verdura/mandioca 09 11 - - Leite/verdura/mandioca 04 05 - Mandioca/feijão/milho 03 04 01 08 Milho/mandioca 03 04 - - Verdura/galinha 02 03 - - Leite/mandioca 02 03 - - Frutas 02 03 - - Leite/frango/ovo/carne 01 01 - Verdura/feijão/mandioca 01 01 - Arroz/feijão/milho - 01 08 Abóbora - - 01 08 Verdura/banana - 01 08 Não tem 07 08 - - Total 80 100 13 100

Fonte: Pesquisa de campo – 2005 Org: Sergio Pereira de Souza

Com relação ao tipo de criação, a maior parte dos responsáveis pelo lote pesquisados, ou seja, 96% na Gleba XV de Novembro e 92% do Vale Verde possuem criação de gado bovino mestiço destinado à produção de leite/carne para a subsistência e comercialização

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