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CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2. Plasma Rico em Plaquetas

2.2.1. Definições

Plasma rico em plaquetas (PRP) é um produto autólogo, preparado a partir do

Moléculas Bioativas Células Scaffolds Triângulo de Proliferação Celular Capacidade Indutiva Capacidade Condutiva Capacidade Gênica

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sangue total, composto por um concentrado de plaquetas, leucócitos e proteínas, disperso em uma pequena fração de plasma (Marx et al., 1998; Marx, 2004).

Plaquetas são fragmentos citoplasmáticos anucleados presentes no sangue e produzidos na medula óssea a partir dos megacariócitos. São os menores componentes do sangue, e apresentam formato irregular e diâmetro de 2-3 µm. As plaquetas contêm um grande número de proteínas, citocinas e outros fatores bioativos, tais como fatores de crescimento, que iniciam e regulam aspectos básicos da cicatrização de tecidos.

Leucócitos são as células brancas do sangue, compostos de linfócitos, granulócitos e agranulócitos.

Plasma é a porção fluida do sangue que contém fatores de coagulação e outras proteínas e íons.

A contagem normal de plaquetas no sangue é de 150.000 a 400.000 plaquetas/μL (Foster et al., 2009, Engebretsen et al., 2010).

O plasma rico em plaquetas (PRP) contém uma concentração de plaquetas de pelo menos 1.000.000 plaquetas/ μL em 5 mL de plasma e está associado com a cicatrização. O PRP contém de 1,5 a 7 vezes a concentração de FCs do sangue total e é normalmente obtido por centrifugação diferencial (Foster et al., 2009).

A liberação de fatores de crescimento ocorre após o processo de degranulação das plaquetas. As plaquetas são o primeiro tipo celular recrutado para o local da lesão e são responsáveis pela ativação da resposta inflamatória inicial do processo de cicatrização (Cole et al., 2010).

Fatores de crescimento (FCs) são mediadores biológicos naturais que exercem vários efeitos sobre os processos de reparo e de regeneração. São polipeptídios capazes de regular diversos eventos celulares que incluem síntese de DNA, quimiotaxia, diferenciação e síntese de matriz extracelular.

No PRP estes fatores de crescimento incluem 3 isômeros do fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF-αα, PDGF-ββ e PDGF-αβ), 2 isômeros do fator de crescimento transformador β (TGF-β1 e TGF-β2), o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF), o fator de crescimento de fibroblastos básico (bFGF) e o fator de crescimento epitelial (EGF) (Cole et al., 2010; Engebretsen et al., 2010).

Várias técnicas para a preparação do PRP têm sido utilizadas gerando diferentes produtos com diferentes propriedades biológicas e aplicações.

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de acordo com o conteúdo de leucócitos e de fibrina: plasma rico em plaquetas puro (P- PRP): plasma rico em plaquetas e leucócitos (L-PRP), fibrina rica em plaquetas pura (P- PRF) e fibrina rica em plaquetas e leucócitos (L-PRF).

Figura 3. Ilustração esquemática da arquitetura da matriz e das células das quatro

categorias de concentrados de plaquetas classificados segundo Ehrenfest et al. (2009). P-PRP=plasma rico em plaquetas puro; L-PRP=plasma rico em plaquetas e leucócitos; P-PRF=fibrina rica em plaquetas pura e L-PRF=fibrina rica em plaquetas e leucócitos.

2.2.2. PRP na regeneração de tecidos

O plasma rico em plaquetas é uma terapia simples, eficiente e minimamente invasiva para a obtenção de FCs autólogos. Sendo uma preparação autóloga, o PRP tem a vantagem de evitar a transmissão de doenças e o aparecimento de reações imunogênicas.

Mariani et al. (2014) demonstraram que o PRP pode ser utilizado na inibição do crescimento bacteriano contra diferentes patógenos, fornecendo proteção adicional contra possíveis contaminações bacterianas durante intervenções cirúrgicas.

Na regeneração de tecidos, o PRP atua como um selante do tecido e como um carreador de fatores de crescimento, onde as plaquetas iniciam a regeneração do tecido através da liberação local dos FCs via degranulação de seus α-grânulos.

As plaquetas no PRP são transportadas através de um coágulo, que contém moléculas de adesão celular incluindo fibronectina, fibrina e vitronectina. Na cicatrização de feridas, este coágulo age como uma matriz condutora ou scaffold natural sobre o qual as células aderem e iniciam o processo de cicatrização.

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As plaquetas atuam no processo de hemostasia, cicatrização de feridas e re- epitelização. Elas liberam diversos FCs que estimulam a angiogênese, promovendo crescimento vascular e proliferação de fibroblastos, que por sua vez proporcionam um aumento na síntese de colágeno (Marx, 2004). Além disso, os FCs promovem a proliferação celular e influenciam a diferenciação atuando diretamente na reparação e regeneração de tecidos (Nguyen et al., 2011)

Nos estágios iniciais do processo de cicatrização (Figura 4), as plaquetas são ativadas na cascata de coagulação via colágeno endógeno, e os fatores de crescimento e as citocinas são liberados por estas plaquetas ativadas para auxiliar na cicatrização. A sequência de eventos que conduz à formação do novo tecido (quimiotaxia, migração, proliferação e diferenciação celular) é regulada pelos fatores de crescimento, muitos dos quais estão presentes no PRP (Tsay et al., 2005).

Figura 4. Mecanismo de ação do PRP (Mishra et al., 2012).

O processo de cicatrização, na qual os fatores de crescimento participam,

Restauração e regeneração do tecido Aplicação do PRP in vivo Ativação do PRP via colágeno endógeno Liberação de fatores de crescimento e citocinas Recrutamento de células reparativas Estimulação de células-tronco locais e genes de matrix extracelular Inibição da inflamação, apoptose e metaloproteinase

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envolve três fases interpostas: (1) a fase inflamatória, (2) a fase de proliferação e (3) a fase de maturação e/ ou de remodelação.

A fase inicial ocorre imediatamente após a lesão e envolve hemostasia e recrutamento de mediadores inflamatórios com duração de aproximadamente 1 semana. A lesão tecidual ativa a ciclooxigenase-2 e leva à vasodilatação. Os FCs atraem os macrófagos e fibroblastos. A fase de proliferação permanece durante as 2 semanas seguintes com formação de matriz extracelular, granulação, contração e reepitelização. A fase de remodelagem continua até que a produção de colágeno e do tecido de cicatrização seja finalizada. Esta fase pode durar até 1 ano e nela o colágeno tipo I substitui os proteoglicanos e a fibronectina para formar uma matriz mais forte com maior resistência à tração (Nguyen et al., 2011).

Embora os mecanismos envolvidos na utilização do PRP ainda não estejam completamente elucidados, sua fácil aplicação na prática clínica e seu possível resultado benéfico tornam o PRP uma promissora ferramenta para a área médica (Alsousou et al., 2009).

O plasma rico em plaquetas foi utilizado pela primeira vez por Ferrari et al. (1987) em cirurgia cardíaca com coração aberto como um componente de transfusão autólogo. Inicialmente, o PRP foi utilizado principalmente em cirurgias orais para promover a cicatrização do tecido e integração do implante, e controlar hemorragias (Anitua, 1999; Marx et al., 1998). Subsequentemente, também foi empregado em outras cirurgias incluindo cirurgias nos ombros (Everts et al., 2008), quadris (Everts et al., 2007), procedimentos nas articulações dos joelhos (Sánchez et al., 2008; Ishida et al., 2007), reconstrução de ligamentos (Radice et al., 2010) e cicatrização óssea (Kawasumi et al., 2008).

Mais recentemente, o PRP com suas variantes tem sido empregado na forma injetável visando a cicatrização de diversos tecidos incluindo pele (Judith et al., 2010; Judith et al., 2012), músculos (van Ark et al., 2013), tendões (de Vos et al., 2010; Kaux & Crielaard, 2013), cartilagem (Kon et al., 2010; Kon et al., 2011) e osso (Jia et al., 2011; Jiang et al., 2012).

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