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Plataforma Nacional de Eletromobilidade: composição e funcionalidade (PNE)

CAPÍTULO 5 — AGENDA PARA A ELETROMOBILIDADE NO BRASIL: A

5.1 Plataforma Nacional de Eletromobilidade: composição e funcionalidade (PNE)

O objetivo da Plataforma Nacional da Eletromobilidade (PNE) é ser um instrumento de articulação de atores governamentais, mercado e ICTs, coordenando suas ações em prol de uma estratégia nacional da eletromobilidade em termos da inserção local nas atividades produtivas e adensamento e criação de novas competências em P&D no Brasil a partir de um espaço de geração, difusão de conhecimento e aprendizado para todas as frentes participantes e para a sociedade em geral.

Conforme apresentado no capítulo 2, o Brasil apresenta algumas iniciativas de articulações entre atores e a presença de associações que passaram a observar o tema, como a ABVE e ABRAVEI. Contudo, são associações que não contemplam os tomadores de decisão do Estado e que ainda se encontram definindo seus papéis em termos de atuações no Brasil. A proposta que se apresenta aqui é mais ampla e tem foco, sobretudo, na maior integração das esferas público-privadas e no suporte das ICTs em prol da geração de conhecimento local.

Argumentamos que é necessária a criação de uma estrutura não imposta “de cima para baixo” (top-down), mas que se busca uma organização viva, que seja alimentada tanto por informações top-down como botton-up, onde o feedback e a retroalimentação entre os atores assumam o protagonismo em prol de questões de ordem coletiva. É com essa missão que a nova estrutura de governança deve estar comprometida.

O ponto de chegada desta plataforma é apoiar a construção da Política Nacional de Eletromobilidade e implementá-la por meio da articulação dos órgãos e entidades governamentais e não governamentais. Para isso, devem se basear nos mecanismos do tipo regulatório, focado nas políticas públicas explícitas por decretos e leis e regulação de produtos.

Quanto à sua composição, a figura na sequência demonstra a estrutura e os atores que são indicados para compor esta plataforma. Baseamo-nos aqui nos estudos que consideram necessário o balanço entre as esferas públicas e privadas, que compartilham objetivos e também dividem responsabilidades na estrutura (HILLMAN ET AL., 2011; MOULAERT; SEKIA, 2003; NILSSON; HILLMAN; MAGNUSSON, 2012; STOKER, 1998; TREIB; BÄHR; FALKNER, 2007).

Para definirmos os atores do quadro de governança partimos do Grupo de Trabalho 7, apresentado de forma esquemática no Capítulo 2. Trata-se do coletivo representativo das reflexões e entendimentos acerca dos veículos elétricos e híbridos no Brasil gestado dentro do programa Rota 2030 (GT 7). No âmbito deste grupo, ao longo do ano de 2018, criou-se um espaço de discussões e aprendizagem junto ao tema, o qual resultou nas principais reflexões e entendimentos de como o Brasil pode se posicionar ante a eletromobilidade.

Figura 5.1: Estrutura da Plataforma Nacional de Eletromobilidade.

Fonte: elaboração própria.

Recomenda-se que a liderança e o planejamento estratégico da plataforma fiquem a cargo de um comitê ministerial com poderes deliberativos e executivos para a proposição, avaliação, acompanhamento e revisão de políticas públicas. Este comitê teria sua liderança a

cargo da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (SEPEC/ME) e da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (SETEC/MCTIC). Justificam-se estas opções, pois a SEPEC é a secretaria responsável por cuidar das ações pró-eletromobilidade dentro do ME, e a SETEC por ser a instituição responsável por apoiar o desenvolvimento tecnológico e a criação de competências no âmbito do MCTIC.

Estas recomendações, apoiadas na centralidade governamental no planejamento, são oriundas da experiência vivida dentro do GT7. No referido coletivo, o Governo, representado na época pelo MDIC, assumiu a liderança de coordenar as atividades e seu caráter institucional foi seguido pelos diversos atores que compuseram o grupo. Esta chancela governamental tinha respaldo na então sinalização da política industrial que estava sendo concebida para o setor automotivo, o programa ROTA 2030. Ter o respaldo da regulação via força de lei, neste caso, figurou-se como mandatório para mobilizar todos os atores, empresas e outros interessados.

Outras centralidades nos espaços dentro dessa estrutura referem-se aos atores da indústria, no desenho da estratégia para o alcance das metas estipuladas e às ICTs, com o suporte da pesquisa para apoio à tomada de decisão. Nesta pluralidade de atores é que reside o esforço de propor um arranjo entre estas organizações plurais, que se somam aos atores do setor público, da indústria e das ICTs. Cada um destes atores presenta um papel relevante para a eletromobilidade, cada qual em sua diferente esfera de atuação, mas que juntos permitem entender de uma maneira sistemática e abrangente os diferentes olhares para a eletromobilidade no Brasil. O Quadro 5.1 apresenta alguns pontos que justificam o papel e a participação de cada um dos membros por categoria de tomadores de decisões.

Caberá a todos estes grupos a criação ou a reorientação de um conjunto amplo de processos, regulamentos, decisões, leis, costumes e ideias que moldam as ações práticas dos atores nesta nova rota tecnológica.

Pois, foi possível verificar que o STI da eletromobilidade no Brasil é composto por atores de diferentes setores industriais, tais como a indústria automobilística, o setor eletroeletrônico e o segmento da geração e distribuição de energia elétrica. De tal modo, esta diversidade é o ponto de partida para a proposta de reconfiguração da mobilidade com novos elementos, principalmente, do setor elétrico e eletrônico, baseado em tecnologias e aplicações transversais como as baterias e diversos componentes elétricos.

Quadro 5.1: Atores do Governo e sua relevância.

ATORES PÚBLICOS (MINISTÉRIOS E AUTARQUIAS)

RELEVÂNCIA E ÁREAS DE

DISCUSSÃO/ATUAÇÃO/ACOMPANHAMENTO

Ministério da Economia (ME) Discussão de aspectos relacionados a indústria, competitividade industrial e capacidade produtiva da eletromobilidade.

Ministério de Minas e Energia (MME) Auxiliar no planejamento energético e abastecimento para frota veicular elétrica. Apoiar a regulação da venda de serviços e energia elétrica.

Ministério da Infraestrutura (MI) e Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR)

Representar o papel das cidades na eletromobilidade e o seu planejamento necessário.

Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)

Contribuição em desenhar o apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico da eletromobilidade no Brasil. Ministério do Meio Ambiente (MMA) Participação ante a discussão dos níveis de emissões

veiculares.

Ministério da Saúde (MS) Discussão de temas relacionadas a poluição do ar e seus impactos na saúde pública.

Ministério da Educação (ME) Colaboração ante a estruturação dos cursos de formação e capacitação profissional na eletromobilidade.

Fonte: elaboração própria.

Somam-se aos atores públicos os privados, equilibrando a estrutura de governança, nos termos de Treib et al. (2007), ao dar peso e importância aos atores de mercados responsáveis pela geração e difusão de tecnologias que irão gerar as referenciadas competências necessárias na ponta da cadeia.

Quadro 5.2: Atores privados e ICTs.

CATEGORIA DE ATORES DETALHAMENTO

Montadoras de automóveis São responsáveis pelas atividades dos blocos de competências, integração e montagem, e representam as montadoras

tradicionais do setor automotivo no Brasil, com tradição na manufatura de veículos convencionais (MCI), mas que estão apresentando atividades que tocam o VE no país ou estão demonstrando interesse em prospectar esta nova trajetória tecnológica localmente.

Componentes e autopeças Fornecem os componentes necessários para o Powertrain e tecnologias dos acumuladores, e são habilitadoras tecnológicas da eletromobilidade.

Setor elétrico e componentes dos carregadores

Responsáveis pelo bloco de competência da infraestrutura, são empresas do setor elétrico atentas à trajetória da mobilidade elétrica, dispensando esforços e recursos para entender seus papéis e funções no que tange ao recarregamento de veículos. Contempla-se nesta categoria também as empresas de

Quadro 5.2 – continuação...

CATEGORIA DE ATORES DETALHAMENTO

Associações de classe É o papel das organizações e sociedade civil, com a habilidade em engajar-se em torno da mudança tecnológica pró-

eletromobilidade. Correspondem aos interesses de suas organizações que se encontram aglutinadas em torno de um interesse comum, seja pela promoção de um determinado mercado ou da coalização em prol da petição de políticas públicas e outros incentivos.

Universidades e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs)

Representam as unidades de ensino e pesquisa que atuam com o tema. Apoiarão a realização de estudos e pesquisas adereçadas as demandas dos fóruns permanentes. Também, participarão do sistema nacional de informações da eletromobilidade,

fornecendo os dados necessários para a divulgação de estudos setoriais, como o anuário nacional da eletromobilidade, por exemplo.

Startups São empresas de base tecnológica que estão desenvolvendo

algum nicho específico e aproveitando as fendas que se abriram para introdução de novos produtos e modelos de negócios no campo dos VEs. Figuram-se majoritariamente como

desenvolvedoras de plataformas digitais de serviços e sistemas como BMS, eletrônica de potências e aspectos de conectividade. Acrescentam ao grupo da eletromobilidade perspectivas de novos modelos de negócios e apoiam-se em novas propostas de serviços, auxiliando no crescimento deste sistema de inovação e representando a inclusão de novos atores.

Fonte: elaboração própria.

A participação destes atores na estrutura de governança é imperativa, pois pode demonstrar para a coordenação da plataforma onde os esforços na eletromobilidade são necessários e de que maneira eles podem entrar nas agendas prioritárias (foco da seção 5.3).

Sugere-se também a participação do legislativo por meio da frente parlamentar mista em defesa da eletromobilidade no Brasil. Criado em 2018, este ambiente congrega parlamentares e também especialistas de outras esferas para discutir este tema no âmbito legislativo. O foco em inserir estes atores na governança é muni-los de informações técnicas acerca da eletromobilidade e suas especificidades do caso brasileiro, de modo que embase os debates do legislativo junto às possibilidades de criações de projetos de lei, bem como dos encaminhamentos dos projetos já existentes.

Para o caso da plataforma, pontua-se a necessidade de elaboração de uma portaria ministerial específica, neste caso executada pelo ME, que estabeleça a plataforma nacional e lance a base para o seu funcionamento.

Na base da estrutura, o apoio científico e investigativo será imprescindível para munir a plataforma de informações acerca das tecnologias abordadas para auxílio à proposição de políticas e ações pelos fóruns. Ademais, as experiências internacionais apontam que os papéis dos estudos setoriais têm sido decisivos para orientar países/estados/regiões que queiram entrar nesta trajetória, como atesta o relatório da IEA (2018).

No seio desta iniciativa de produção e divulgação de conhecimento, indica-se a criação de um Núcleo de Pesquisa da Eletromobilidade no Brasil. Trata-se de uma plataforma que seja responsável por executar e contratar estudos e pesquisas aplicadas sobre a Eletromobilidade. Ainda, dentro desta estrutura, aponta-se a criação do Sistema de informações da eletromobilidade, figurando-se como um canal aberto para ampla divulgação destas informações, não só para os membros da plataforma, como também, para propagação à sociedade em geral. Nesta direção, sugere-se a redação de um anuário da eletromobilidade no Brasil, vis-à-vis ao exemplo dos principais países que se colocam nesta trajetória e que apresentam documento similar, como no caso da IEA, a publicação Global EV Outlook (IEA, 2018).

Quanto à gestão deste núcleo aponta-se a participação ativa da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) como articuladora dos pesquisadores e gestora das pesquisas. A escolha por esta instituição vem de encontro com sua tradição em estimular os painéis acadêmicos no periódico Salão Latino-americano de Veículos Elétricos que acontece anualmente e tem forte aglutinação de pesquisadores dentro de sua associação.

Este núcleo alimentaria fóruns com informações estratégicas, coordenando e divulgando estudos de apoio para a tomada de decisão no âmbito da eletromobilidade e dando feedback às demandas do planejamento.

Toda esta estrutura apontada sustentaria a atuação do que é caracterizado aqui o eixo- chave dentro da plataforma para o desenho das ações necessárias em torno de uma estratégia nacional pró-eletromobilidade: trata-se dos Fóruns Permanentes da Eletromobilidade.

Caberão aos fóruns permanentes os olhares direcionados às estratégias para os componentes do SPE, onde as proposições são fundamentais para o avanço brasileiro nesta trajetória, figurando-se como pontos habilitadores. A partir destas informações de caráter essencial, serão obtidos os insumos necessários para o apoio à tomada de decisão no nível do planejamento estratégico a cargos da liderança maior, no âmbito do ME e MCTIC. O material elaborado por este conjunto de atores será a base para uma ulterior proposição de uma política nacional de eletromobilidade, que seja mais incisiva em termos de metas claras de mercado para o segmento e das atividades produtivas e de formação de competências.

Na prática, aponta-se que o funcionamento desta estrutura poderia ser organizado por meio de encontros periódicos. Recomenda-se, por exemplo, uma vez ao semestre uma reunião de alinhamento geral entre todos os membros da plataforma, tendo em vista a apresentação das atividades desempenhadas pelos fóruns, bem como do acompanhamento das metas estabelecidas. Quanto aos fóruns sugere-se uma mesma organização baseada em encontros, porém de forma mais intensa a partir de reuniões mensais ou quinzenais, como forma de dinamizar os trabalhos entre seus entes.

A próxima seção apresenta as situações problema que originam os fóruns permanentes, bem como a definição de suas frentes de atividades e detalhamento, apontando onde as barreiras e oportunidades mapeadas podem ser adereçadas dentro desses fóruns.

5.2 Alvos da governança da eletromobilidade: a construção dos fóruns permanentes e