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Os últimos anos foram marcados por inúmeros acontecimentos que renderam engajamento nas Redes Sociais Digitais. Para Henn (2018) com o uso e apropriações das Redes Digitais, os cidadãos estão deixando de ser apenas receptores das informações, e passando a assumir o papel de criar e pensar em novos movimentos sociais.

Trata-se de acontecimentos que, na condição de expressões contemporâneas da cibercultura, constituem-se em redes digitais e geram narrativas de natureza convergente e transmidiática: sua potência vincula-se ao nível de afetação que propulsiona, intensificada pela experiência desse acontecer em rede. (HENN, 2018, p.6)

Os atuais processos de recepção estão passando por transformações para dar conta das diversas realidades existentes e é nas práticas jornalísticas que as etapas dos processos podem ser entendidas como atividade interpretante: a pauta para apuração de uma notícia é um signo que será ampliado na atividade interpretante do repórter, do editor e depois do usuário no contato com a notícia, produzindo repercussão social (HENN; HÖEHR; BERWANGER, 2012).

Conforme citado no primeiro capítulo, a rede abrigou o debate sobre as motivações para o assassinato da parlamentar que se tornaram objetos de disputas de sentidos, especialmente entre os usuários que acreditavam que Marielle fora vítima da violência local e os que deduziam ser perseguição política a uma ativista dos direitos humanos.

A disputa de sentidos advinda dos comentários foi analisada via Análise de Construção de Sentidos em Redes Digitais, metodologia do grupo LIC – Laboratório de Investigação do Ciberacontecimento, cadastrado no CNPq e pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos. Com inspiração na cartografia, essa metodologia tem como objetivo entender sentidos inaugurados em torno de algum processo empírico que se constituem em redes digitais e refletir, por meio de teorias especificas, sobre o corpus constituído em nível exploratório e qualitativo. A metodologia também é utilizada para análise de ciberacontecimentos, que apresenta pressupostos semióticos, como os conceitos de semiose e semiosfera (HENN, 2015).

Após a morte da vereadora, além do Rio de Janeiro, manifestantes começaram a organizar, pelas redes digitais, protestos em outras cidades do país como: São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Manaus e Natal.

Em Porto Alegre, na descrição do evento que aconteceu no dia 15 de março de 2018, na Esquina Democrática, dizia “POA - SOMOS TODOS Marielle! Não nos calarão.” O convite na rede social contava com a confirmação de 4.600 pessoas. “A vida de Marielle não foi em vão. Ela viverá nas nossas lutas e lembranças. Marielle Franco, presente!!! Não nos calaremos! Chega de genocídio negro!”, dizia a descrição do evento no Facebook.

Figura 13– Ato em homenagem a Marielle Franco

No dia do evento o site do jornal Sul 2114 anunciava “Esquina Democrática tem ato por Marielle.”

Figura 14 – Ato em homenagem a Marielle Franco

Fonte: Jornal Sul 21

A partir da profusão de informações, uma disputa de sentido referente à morte da vereadora começou a circular. No dia 15 de março, o site do jornal El País Brasil noticiava “Marielle Franco, vereadora do PSOL, é assassinada no centro do Rio após evento com ativistas negras.” No mesmo dia o site da Revista Fórum noticiava “Marielle Franco, vereadora do PSOL, é executada no Rio de Janeiro.”

É importante ressaltar que as ações concretas, que deram origem as mobilizações sociais, motivadas por determinadas articulações, geraram signos. Henn; Höehr; Berwanger (2012) explicam que

[...] a semiose é a ação do signo em todos os seus desdobramentos, não apenas o que se estabelece na fruição de um signo qualquer com um provável intérprete, mas também o conjunto de atividades semióticas anteriores à sua produção específica com todos os potenciais sentidos produzidos numa perspectiva muito ampla de tempo.” (HENN; HÖEHR; BERWANGER, 2012, p.105).

Para Henn (1996) as notícias concentram em si a força propulsora da semiose. O autor explica que o irromper da sua existência desdobra-se em infinitas possibilidades de desvendamento do objeto em que encarna. Peirce, entre as diversas interpretações sobre o signo, explica que existe uma relação

14O Sul21 é um jornal veiculado exclusivamente na internet, dedicado prioritariamente ao noticiário político. Disponível em: <https://www.sul21.com.br/institucional/> Acessado em: 08 junh. 2019.

triádica de um objeto que se traduz em signo e que, a partir dessa tradução, gera novo signo, um interpretante que, por sua vez, gera outros de forma potencialmente infinita. No caso em tela, o acontecimento já se desdobra em semioses multiplatafórmicas que envolvem portais jornalísticos e redes sociais.

4.2 PROCESSOS METODOLÓGICOS

O processo de construção de uma pesquisa implica em trabalhar com a utilização de métodos para o desenvolvimento de um estudo, o qual deve apresentar algum significado para a sociedade. É preciso ter um objeto, desenvolver uma problematização, realizar investigações e tencionar os objetos analisados durante o processo.

Fazer ciência não é apenas cruzar dados e teorias. É necessário explorar novas formas de apresentar o que já está pronto. Investigar, pensar, testar, discutir e, revistar tantas vezes forem necessárias as teorias, afinal, tudo pode mudar a qualquer momento. Pesquisar nem sempre é tranquilo. Abdicamos de momentos importantes para chegarmos ao objetivo proposto. Para Bachelard (2001, p.197) o trabalho científico exige que o investigador crie dificuldades. O autor destaca que é “essencial criar dificuldades reais, eliminar as falsas dificuldades e as dificuldades imaginárias”. O objeto que construímos nessa pesquisa já é, por natureza, mutável. Nesse sentido, o desafio lançado por Bachelard torna-se mais complexo.

Para Henn (1996) o acontecimento, nas práticas jornalísticas, ocupa o lugar lógico do objeto, que implica também na própria transformação em signo. Os acontecimentos formam-se a partir de vínculos, que podem gerar sentidos diversos em seu interlocutor.

As plataformas de redes sociais assumiram importante influência na maneira como as relações sociais se transformam. Plataformas como Twitter e Facebook se encontram no foco das discussões sobre globalização e fluxo de informações. Para Henn, (2018, p.9) “a consolidação dos sites de redes sociais e dos smartphones, associadas às tecnologias 3G e 4G, intensificam as dinâmicas de conectividade e aprofundam as transformações em curso.”

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