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O pluralismo é uma característica importante das centrais, que começou a ser configurada na CONCLAT de 1981. Apesar de haver certa unanimidade nos pronunciamentos das lideranças sindicais quanto ao escopo unitário de uma organização geral, prevaleceu o pluralismo nas formações orgânicas e possíveis unidades estratégicas na ação. Nascimento diz que “[...] nem sempre é fundamental formalizar a união das forças sindicais e os mesmos fins

que a objetivam podem ser alcançados com uniões não orgânicas, simplesmente unidades de ação”, esclarecendo que as uniões orgânicas se estabelecem “[...] quando os órgãos de grau

superior encontram-se ligados de modo estrutural, permanente como consequência de um modelo que lhes dá essa situação estável na organização sindical”, e que a unidade de ação

“é mera campanha conjunta de órgãos de grau superior para determinados movimentos, para unir, num momento necessário, forças organicamente dispersas para atuar perante os empregadores e o Governo ou participar de discussões tripartites”19.

O pluralismo das centrais, no entanto, não se confunde com divisões e atomização que ocorrem na organização confederativa oficial, onde a unicidade tem gerado cissiparidade, especialmente em razão da contribuição sindical obrigatória, o que será objeto de análise quando tratarmos da participação das centrais no rateio do bolo por ela formado.

Cabe, antes de prosseguirmos, uma rápida definição de unidade, unicidade e

pluralidade sindicais. Siqueira Neto, a propósito, esclarece que:

18 Trata-se de uma derivação da Coordenação Nacional de Lutas, organizada desde 2004, contando com estruturas horizontais. É apoiada pelo PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado.

Unidade Sindical é a vontade política dos agentes do Direito Sindical de manter um mecanismo que assegure a confluência de esforços e forças, no sentido de superestimar seu poder de influência e de pressão sobre a contraparte [...] não significa apenas o indicativo da existência de só um sindicato, mas sim o estágio em que, mesmo com a concorrência de vários sindicatos, a ação sindical se processa de forma única e indivisível.

[...]

A unicidade sindical é a determinação legal da impossibilidade de existência de mais de um Sindicato por base territorial. Concretamente é o monopólio da representação sindical, em que prevalece a personalidade jurídica de quem chegar primeiro20.

Com relação à pluralidade sindical, que permite a existência de representações concorrentes, Siqueira Neto remete sua definição à possibilidade que entreabre o artigo 2º da Convenção 87 da OIT21 ao estabelecer liberdade de organização e autorregulação dos atores sociais, acrescentando que o pluralismo não pode ser cogente e que “não é por si só o

corolário do sistema democrático”22.

Na configuração do sistema de representação sindical no Brasil foi determinada a unicidade sindical por categorias, agrupadas verticalmente em federações estaduais (em regra) e em confederações nacionais, segundo os critérios de enquadramento definidos de forma discricionária no âmbito do Ministério do Trabalho.

Ao tratar das confederações sindicais, o legislador foi bastante rígido e definiu aprioristicamente a sua denominação e o local da sede. Todas as confederações previstas são adjetivadas como “nacionais” e devem ter sede na “Capital da República”, conforme estabelece o artigo 535 da CLT. O reconhecimento de uma confederação sindical, nesse contexto, era ato privativo do Presidente da República (CLT, artigo 537, § 3º). Tomados tais dispositivos na sua literalidade, a criação de uma confederação diversa daquelas nominadas pelo artigo 535, resultante do desmembramento de uma anterior ou do surgimento de um novo setor econômico, dependeria primeiro de lei e depois de decreto presidencial.

No entanto, em 1988, pouco antes da promulgação da Constituição Federal, foi reconhecida por decreto do Presidente da República a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos quando já existia a Confederação Nacional dos Trabalhadores na

20 SIQUEIRA NETO, José Francisco. Contrato coletivo de trabalho: perspectiva de rompimento com a legalidade repressiva. São Paulo: LTr, 1991, p. 92-93.

21 “Os trabalhadores e os empregadores, sem distinção de qualquer espécie, terão direito de constituir, sem autorização prévia, organizações, de sua escolha, bem como o direito de se filiar a essas organizações sob a única condição de se conformar com os seus estatutos”.

Indústria, prevista no artigo 535 da CLT, que já abarcava o 14º grupo do quadro de atividades e profissão (CLT, artigo 577). A controvérsia em torno da criação da nova entidade foi levada ao STF que, à luz da Constituição de 1988, decidiu que os parágrafos do artigo 535 da CLT eram incompatíveis com “a ampla liberdade de associação laboral”, cujo único limite é a unicidade sindical23. Evidentemente que o reconhecimento por decreto também não foi recepcionado, bastando o registro no órgão competente de que trata o artigo 8º da Constituição.

Esse caso da CNTM foi paradigmático e abriu as portas para o desdobramento de confederações. Muitas vezes o caso foi lembrado como exemplo de “unicidade na base e pluralismo no vértice”. Do ponto de vista político ou sociológico é verdade (ao menos a segunda parte desse enunciado), mas juridicamente não é. Com efeito, quando foi criada a CNTM, as entidades sindicais de trabalhadores em indústrias metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico deixaram de ser coordenados pela CNTI, que restou como a confederação nacional dos trabalhadores na indústria menos os da indústria metalúrgica, preservando-se, do ponto de vista formal, a unicidade em grau superior. Preservou, também, por não se apresentar como problema no caso, o âmbito nacional das confederações (que embora não fosse comando direto da lei, defluía da adição do “nacional” ao nome).

A abertura seguinte, em razão da forte ação da CUT nesse sentido e também do interesse da Força Sindical, foi em relação à base territorial das confederações. A partir das modificações trazidas pela Constituição Federal na organização sindical (e possivelmente estimulada por elas), a CUT passou a privilegiar a organização vertical, transformando paulatinamente seus departamentos em federações e confederações assemelhadas à estrutura oficial, mas dentro da sua perspectiva de organização por ramo de atividade e com a qualificadora de “sindicato orgânico”24. Seu objetivo era centralizar a estrutura e a negociação coletiva do trabalho e tal caminho levava, inexoravelmente, à necessidade de registro sindical. Por isso, a consolidação das confederações cutistas demandou processos complexos, especialmente em razão das resistências oferecidas pelas confederações pré-

23 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº 20.829-5, Pleno, Brasília, 3 maio 1989. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=85338.

24 O conceito de sindicato orgânico foi importado do sindicalismo europeu (como no passado mais distante, aliás, tantos outros conceitos o foram) e tem como principal característica a adesão direta do trabalhador à central sindical feita no local de trabalho, na seção de base que, a final, é o sindicato. Evidentemente que a implantação desse modelo pressupõe o fim da unicidade sindical, pois cada trabalhador escolhe a representação a qual deseja aderir ou não. Na CUT, especialmente a partir do 5º Congresso, realizado em 1994, essa discussão ganhou força, porém com predominância da questão hierárquica, ou seja, do dever de obediência por parte das entidades filiadas aos princípios e as campanhas promovidas pela CUT.

existentes. No caso dos metalúrgicos, um acordo com a Força Sindical garantiu o registro sindical da Confederação Nacional dos Metalúrgicos organizada pela CUT, quebrando a territorialidade, ou seja, a confederação da CUT atuaria dentro da base dos sindicatos filiados, da qual, em contrapartida, foi excluída a representação da CNTM. Embora ambas se denominem “nacionais”, nenhuma ficou com essa qualidade. Nessa trilha, com maior ou menor grau de litigiosidade, as confederações se multiplicaram pela repartição da base territorial, em conformidade com a base territorial dos sindicatos filiados por meio das federações. Acentuou-se a “pluralidade na unicidade”, que hoje está contemplada no regramento do processo de registro sindical no Ministério do Trabalho25.

De acordo com os dados cadastrais do Ministério do Trabalho, no final de 2010 havia 27 confederações de trabalhadores com registro sindical, sendo seis filiadas à Nova Central; cinco filiadas à CUT; duas filiadas à UGT; uma filiada à Força Sindical; e 13 independentes, o que representa 19 confederações a mais que as nominadas pelo artigo 535, §§ 2º e 3º, da CLT.

A formação de novas federações também percorreu trajetória semelhante, permitindo-se a criação de unidades federadas sobre a base territorial de representação pertencente a, no mínimo, cinco sindicatos dentro do mesmo Estado. No caso delas, porém, a vigência do dispositivo legal que estabelece que “as federações serão constituídas por Estado”26 (e sua a interpretação à luz do princípio da unicidade) ainda é um tema em aberto no Judiciário.

Relativamente aos sindicatos de base a atuação das centrais foi diferente. Nenhuma delas chegou a criar sindicatos independentes para competir com os oficiais na mesma base territorial. A prática usual, neste caso, foi a adoção dos processos de criação de entidade por desmembramento de base ou desdobramento de categoria, o que fragmentou a representação em relação à situação anterior à Constituição de 1988 e, portanto, anterior à presença consolidada das centrais no sistema. A par dos processos fragmentários, deve ser ressalvado que, em alguns sindicatos, onde há índices altos de sindicalização e os respectivos estatutos proporcionam igualdade material entre as chapas concorrentes, ainda são possíveis as disputas eleitorais que permitem efetiva alternância de poder.

25 Trata-se da Portaria nº 186/2008, cujo artigo 21, parágrafo único, dispõe que: “As entidades de grau superior coordenam o somatório das entidades a elas filiadas”.

3 LEI 11.648/2008: PRINCIPAIS ASPECTOS

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