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4. ESCRITOS PÓS DIALÉTICA DA DEPENDÊNCIA: lapidações e reformulações

4.3 Plusvalia extraordinária y acomulacion de capital(1979)

O texto​Plusvalía extraordinária y acumulación de capital​(Marini, 1979) foi resultado

de uma dissertação (que foi defendida em 1980) para pleitear o cargo de professor titular C no departamento de pós-graduação da Escola Nacional de Economia. Como Marini estava envolvido em outros projetos como a atuação profissional na UNAM, direção política do MIR e já esboçando um retorno ao Brasil, Marini realizou esta defesa apenas como uma formalidade, visto que,ao ser aprovado, em seguida renunciou ao cargo nessa instituição. Conforme o próprio autor apresenta:

Esse ensaio- provavelmente, o menos conhecido dos meus escritos - é um complemento indispensável a ​Dialéctica de la dependencia​, na medida em que

expressa o resultado das investigações, que eu começara no Chile, sobre o efeito da superexploração do trabalho na fixação da mais-valia extraordinária.(MARINI, 2011b, p 112)

Neste trabalho, além da terceira parte, na qual o autor polemiza com as autoras(es) Maria da Conceição Tavares, Francisco de Oliveira e Gilberto Mathias em suas obras, publicadas em torno do ano de 1977. Marini, entre outras questões, critica a forma como uns deles confundem as categorias valor de uso e valor, numa análise reducionista em que as dinâmicas de acumulação se diminuem à relação agricultura-indústria-Estado (visão cepalina da época), enquanto outros analisam a relação do Estado e sua mediação com os

estabelecimentos das taxas de lucro, mas esquecendo de ponderar os processos correspondentes a obtenção de mais-valia (Marini, memória, p 112).

Os outros eixos do trabalho são:

1) A polemização dentro da discussão do livro 2 d’O Capital, com alguns autores da época, baseado nos eixos:

a)exclusão do mercado mundial; b) a existência de apenas duas classes e

c) a consideração de exploração do trabalho como fator constante.

2) A partir da discussão sobre exploração, o autor verificou a alteração da jornada, intensidade e produtividade do trabalho e o desdobramento no valor e valor de uso sobre a distribuição do capital (discussão sobre a questão da mais-valia extraordinária).(Idem, p 111-112)

Para uma abordagem crítica seria necessário cotejarmos esse texto com o conjunto dessa obra de Marx. Além disso, entendemos que a abertura desta frente de análise está em uma esfera de abstração que foge aos objetivos deste trabalho. No entanto, com vista a enriquecermos o debate de uma das faces da dependência e da superexploração da força de trabalho, pontuamos algumas questões desse texto para ajudar no nosso entendimento das categorias que pleiteamos analisar. Certamente este é um debate central, na fundamentação e consolidação do diálogo entre a teoria do valor, em um nível de abstração maior, e a TMD, em um nível intermediário.

Há uma importância na fundamentação da TMD através da discussão de algumas bases da teoria do valor, principalmente no livro 2 d’O Capital. A categoria mais-valia extraordinária tem uma importância para averiguar a forma de estruturação das esferas de produção/reprodução de capital e a essência da divisão dos setores de produção representados pelos setores assinalados por Marx e apresentados por Marini(1979):

I ) Setor de produção de meios de produção (bens de capital);

II) Setor de produção de meios de consumos;

IIa)Setores de produção de meios de consumo necessários (voltado em geral ao proletariado);

IIb)Setores de produção de meios de consumo de luxo.

Dialogando com o esquema do processo de produção apresentado por Marx e tentando delimitar as diversas faces da teoria do valor com a discussão acerca do capitalismo dependente, Marini apresenta o seguinte apontamento:

En la medida que constituyen un momento definido en el proceso de producción del edificio teórico de Marx, los esquemas de reproducción no pueden ser aislados de los demás componentes que intervienen en ese proceso ni contraponerse a ellos. Es a partir de la teoría del valor y en función de la teoría de la plusvalía como se establece su ligazón con la ley de la caída tendencial de la cuota de ganancia, con la que Marx corona su trabajo. Pero, por el nivel de abstracción en que se sitúan, los esquemas solo tienen validez sobre la base de los supuestos en que se fundam; cualquier cambio en estos conduce necesariamente a su cuestionamiento global. [...]La utilización de los esquemas de reproducción para el análisis del capitalismo dependiente, que tuvimos ocasión de examinar, no presenta ese inconveniente. El simple hecho de que sean tornado una referencia teórica entre muchas y que se integren en un marco categorial más amplio es una virtud, ya que permite plantearse problemas de los que los esquemas en si no pueden dar cuenta. Sin embargo, para que el análisis llegue a buen resultado, el hilo lógico de la construcción teórica de Marx no puede ser roto, so riesgo de incurrir en un eclecticismo que invalida la capacidad explicativa de los esquemas y no los hace más útiles que cualquier otro instrumental analítico, como por ejemplo el de tradición cepalina. Análogamente, una correcta aplicación de los esquemas a los problemas de la realidad latinoamericana excluye los razonamientos unidireccionales - y, por, esto, unilaterales- y exige la consideración dialéctica de sus relaciones con la economía mundial, así como de los movimientos contradictorios que , en lo abstracto como en lo concreto, caracterizan al ciclo de capital. (Marini, 1979)

A partir da conclusão do texto de Marini, que transcrevemos acima, o autor justifica este movimento, que está mais ou menos explícito nos textos que analisamos até então: de uma tentativa de estabelecer um diálogo rigoroso das suas análises, com a teoria de valor marxiana.

Por fim, pontuamos o resgate que Marini faz sobre a precisão das formas de exploração do trabalho, no entanto, na tentativa de apontar essa discussão do texto, Marini

busca apresentar mais determinações a esta categoria, em especial à questão da mais-valia extraordinária. No trecho a seguir, observamos uma breve ponte que o autor faz nessa discussão com a superexploração da força de trabalho, mas o mais interessante é como que estas análises já se apresentam, de forma diluída, nos textos que abordamos até então:

El examen de la reproducción del capital a luz de la teoría de la plusvalía nos ha permitido llegar a algunas conclusiones que podemos retomar aquí deste otro ángulo. La principal es la de que, desde el momento en que hacemos intervenir cambios en la productividad y la intensidad del trabajo, se modifica la cuota de plusvalía, modificación que opera diferentemente según se trate del capital individual o de las ramas de producción.

En el primer caso, el del capital individual, ambos métodos de producción de plusvalía se traducen en plusvalía extraordinaria e implican, por ende, cambio en la relación básica de distribución; sin embargo, ese cambio en la distribución del producto excedente entre salario y plusvalía (o, lo que es lo mismo, en el grado de explotación) se lleva a cabo, en el case de la productividad, sin que necesariamente se superexplote la fuerza de trabajo, mientras que, si trata del aumento de la intensidad, la superexplotación tiende a producirse, dado que dicho aumento hace subir también el valor de la fuerza de trabajo.(Idem)

Já no caso da possibilidade de obtenção de mais valia extraordinária em todo um ramo de produção:

[...]constatamos que el aumento de la cuota de plusvalía sólo se expresa en plusvalía extraordinária si dichas ramas pertenecen al sub-sector IIb (así como a las ramas del sector I que producen exclusivamente para éste), si dicho aumento se deriva de una mayor productividad, mientra que, si el aumento de la cuota de plusvalía se debe a la intensificación del trabajo, la posibilidad de plusvalía extraordinaria existe para cualquier rama en cualquier sector. A su vez, la relación básica de distribución (y, por tanto, el grado de explotación) se modifica en toda la economía, se, en ambos casos (productividad e intensidad) la ramas afectadas corresponden al sector I y al subsector IIa, (generalización del cambio en la cuota de plusvalía o, en otros términos, paso de la plusvalía extraordinaria a la plusvalía relativa) o se modifica tan solo en la rama en cuestión, si esta pertenece al subsector IIb, dejando invariable la relación básica de distribución en el conjunto de la economía, aunque pudiendo alterar allí la distribución de la plusvalía (fijación de la plusvalía extraordinaria).(Idem)

Sobre este ponto, é interessante notarmos como esta discussão se baliza sobre questão da dissociação dos mercados externos e internos na economia dependente. Ao comparar como a mais valia extraordinária é perseguida no nível individual e no ramo de produção, vemos que este movimento passa por e justifica todas as categorias que buscamos analisar (dependência, superexploração da força de trabalho e subimperialismo). No entanto, a mais valia extraordinária tem como finalidade a luta ou a superação(individual) da queda

tendencial da taxa de lucro por parte dos capitalistas. Nesse sentido, Marini chega ao ponto central da categoria mais valia extraordinária, assim como a coloca no movimento da realidade dos mercados que estão constantemente concorrendo entre si.

[...]la plusvalía extraordinaria no es sino un supuesto para la apropiación de ganancia extraordinaria. El que esa apropiación se realice o no depende de la concurrencia. Ello se debe a que la variación de la cuota de plusvalía en función de cambios en la producción hace variar en el mismo sentido la masa de valores de uso producida, pero su expresión en el valor social queda sujeta a la validación que sobre dicha masa opera la demanda (necesidades sociales solventes). Así, según se sitúe la demanda respecto a la oferta, la magnitud de valor se establecerá al nivel, por encima o por debajo de las condiciones medias de producción, aunque, en todos los casos, se esté realizando la masa de valores de uso producida. El mercado opera así en el sentido de corregir o amplificar la desviación entre valor y valor de uso implícita en el desarrollo de la producción mercantil.(Idem)

Com base nos pontos que apresentamos, acreditamos que este texto pode ajudar a enriquecer as categorias que analisamos em Marini ao estreitar a análises das economias dependentes (e da TMD como um todo) com a teoria geral de acumulação capitalista empreendidas na obra O Capital de Marx, mais especificamente, no momento de circulação/realização do capital. A partir do entendimento das dinâmicas globais de produção/circulação e reprodução do Capital, Marini vem tensionando as tendências mundiais capitalistas com as particularidades do subcontinente latino americano. Feito estas considerações, passamos ao texto que encerra nosso material bibliográfico levantado sobre Marini na década de 1970.