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CAPITULO IV. O IMIL CONTRA O PNDH3

1. O PNDH3 NAS PRODUÇÕES DO IMIL

De acordo com o registro, entre janeiro e junho de 2010, o IMIL inseriu em seu site oficial 37 textos que contem expressamente o termo “Programa Nacional de Direitos Humanos”. Das 37 publicações no site institucional que mencionam o programa, 11 delas são reproduções ou “clipping” de matérias publicadas em outros meios de comunicação, principalmente sobre repercussões daquele 1° Fórum promovido pelo IMIL (mais adiante voltaremos a falar sobre o fórum), e outras duas são artigos publicados por autores não membros de Millenium, mas afins ao campo ideológico do instituto: Reinaldo Azevedo e Fábio Portela, ambos vinculados à revista Veja como colunistas.

As outras 24 publicações introduzidas no site foram classificadas como “artigos”. Todas se encontram assinadas por jornalistas, advogados ou economistas membros ou colaboradores do IMIL: Henrique Sartori, Demétrio Magnoli, José Nêumanne Pinto, Ives Gandra, Rodrigo Constantino, Paulo Brossard, João Antonio Wiegerinck, Carlos Alberto Di Franco, Paulo Rabello de Castro, Sandro Vaia, Percival Puggina, Guilherme Fiuza e Judith Brito (Trajetória dos atores em Anexo, Doc. 1). Do total de produções feitas por membros ou colaboradores do IMIL e postadas no site institucional, 18 delas foram publicadas também em meios de comunicação gráficos e digitais dos grandes conglomerados de comunicação do Brasil: 9 foram publicadas no jornal Estado de São Paulo, 5 no Zero Hora, 2 no O Globo, 1 na Folha de São Paulo e 1 na revista Época.

A primeira pergunta que fizemos ao abordar estas fontes escritas foi: que temas do programa tinha sido objeto das intervenções dos membros de Millenium? Observamos o exemplo: no dia 11 de janeiro de 2010, o Instituto Millenium publicou

84 em seu site institucional o primeiro texto de uma longa lista, com circulação na internet e na grande mídia brasileira, em torno do PNDH3. Intitulado “Roteiro para o autoritarismo”, o texto tinha saído no dia anterior como editorial do jornal estadual Estado de São Paulo, evidenciando a fluida relação e jogo de repercuções entre os meios empresariais e o think tank. Neste texto manifestava:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou em dezembro um roteiro para a implantação de um regime autoritário, com redução do papel do Congresso, desqualificação do Poder Judiciário, anulação do direito de propriedade, controle governamental dos meios de comunicação e sujeição da pesquisa científica e tecnológica a critérios e limites ideológicos. Tudo isso está embutido no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), instituído pelo Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro – o tal decreto que, acredite quem quiser, o presidente disse que assinou sem ler. [...] A apuração das violências cometidas pelos agentes do regime militar e a revogação da Lei da Anistia são apenas uma parte desse programa – a mais divulgada, até agora, por causa da reação dos comandantes militares à redação inicial do decreto. Mas o maior perigo não está nos detalhes, e sim no objetivo geral dessa manobra articulada no Palácio do Planalto: a consolidação de um populismo autoritário sustentado na relação direta entre o chefe do poder e as massas articuladas em sindicatos, comitês e outras organizações “populares” (IMIL, http://www.imil.org.br/blog/roteiro- para-o-autoritarismo. Acesso em 18 de março de 2014).

. Em uma publicação posterior, sob autoria de Carlos Alberto Di Franco, publicado pelo jornal Estado de São Paulo e inserido no site do Instituto como “artigo”, voltava-se a manifestar:

O projeto do presidente da República e de sua candidata à sucessão presidencial, Dilma Rousseff, reduz o papel do Congresso Nacional, desqualifica o Poder Judiciário, agride gravemente o direito de propriedade, sugere o controle governamental dos meios de comunicação e sujeita a pesquisa científica e tecnológica a critérios estritamente ideológicos. Preocupam, e muito, a letra e o espírito do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). O governo se empenhará para que o assunto desapareça do noticiário. Mas o nosso dever é manter a cena iluminada. (Di FRANCO, http://www.imil.org.br/artigos/lula-imagem-estilhacada. Acesso em 18 de março de 2014)

Publicados nos editoriais, colunas ou artigos ou citados como interpretes morais do conflito, em todos os casos o juízo emitido em torno do novo PNDH foi negativo. Como tentamos evidenciar a partir das fontes, o tema da regulação dos meios de comunicação e das novas formas de intermediação nos conflitos rurais e urbanos, foram

85 os temas que mais chamaram a atenção dos membros do IMIL, seguido pela proposta de avanços nas políticas de memória verdade e justiça.

Publicados nos editoriais, colunas ou artigos ou citados como interpretes morais do conflito, em todos os casos o juízo emitido em torno do novo PNDH foi negativo. Como manifestou Carlos Alberto Di Franco32 numa nota publicada no jornal Estado de São Paulo e inserida no site do Instituto como “artigo”, seu “dever é manter a cena iluminada”, revelar o oculto, explicar o que foge da compreensão dos não expertos:

Na verdade, cabe à imprensa um papel fundamental na salvaguarda da democracia. Devemos, sem engajamento e atitudes de contrapoder, aprofundar fortemente no processo de apuração. A defesa da liberdade passa pela guerra ao jornalismo de registro e pela promoção da investigação de qualidade. Precisamos, sistematicamente, ir além das declarações para desnudar as reais intenções. Um jornalista deve ser um homem livre, independente, um demolidor de tabus, um questionador do politicamente correto. É a nossa missão. É o nosso papel. É o que a sociedade espera de nós. . (Di FRANCO, http://www.imil.org.br/artigos/lula-imagem-estilhacada. Acesso em 18 de março de 2014).

Durante os meses que transcorreu o conflito, os intelectuais do IMIL empreenderam o seu labor como policy interpreters apresentando na grande mídia as aparentes implicâncias “reais” do PNDH3. Segundo um dos titulares, tratava-se de um “roteiro para o autoritarismo” 33. Que tinha de autoritário? Que ordem ameaçava?

Entendendo que os processos de definição dos direitos humanos se inserem numa disputa em torno à ordem social e os projetos políticos que confluem e disputam em tempo presente, nos interessa captar os argumentos esgrimidos pelos intelectuais do IMIL para apresentar ao novo PNDH como um escândalo político e um perigo à democracia brasileira.

Por que o PNDH era uma ameaça à democracia? Quem foi assinalado como responsável? Por acaso o programa não foi produto de um processo participativo que ampliava os espaços de participação e representação na tomada de decisões públicas? Que tipos de democracia entraram na disputa no âmbito do PNDH3?

32 Di FRANCO, http://www.imil.org.br/artigos/lula-imagem-estilhacada. Acesso em 18 de março de 2014.

86 Vale ressaltar que não é objetivo deste trabalho analisar as falácias ou omissões dos membros do IMIL, mas sim compreender as construções argumentativas que unificaram as vozes dos expertos da grande mídia afim de influenciar na formulação do último programa; e entendendo que o conflito em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos funcionou como repertório de confrontação entre projetos políticos- culturais que disputam a hegemonia no Brasil, na sequência propomos uma classificação para os enquadramentos que o think tank divulgou em sua prática como interprete moral e que teve como caixa de ressonância à grande mídia empresarial.

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