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PNMT Programa Nacional de Municipalização do Turismo

2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO BRASIL E NO ESTADO DE

2.2 Evolução da política pública de turismo no Brasil

2.2.2 Políticas públicas de turismo da década de 1980 até os dias atuais

2.2.2.1 PNMT Programa Nacional de Municipalização do Turismo

O PNMT adota a metodologia da Organização Mundial de Turismo -OMT, “visando implementar um novo modelo de gestão da atividade turística, simplificando e uniformizando, para os estados e municípios, de maneira integrada, buscando maior eficiência e eficácia na administração da atividade turística, de forma participativa”(DIAS, 2003, p. 144).

A concepção desse programa se deu ainda durante o governo do Presidente Itamar Franco, onde o marco de sua criação foi a Portaria 130, de 30 de março de 1994, do Ministério da Indústria, Ciência e Tecnologia que cria o comitê executivo para o PNMT.

O princípio norteador do PNMT foi a descentralização das ações por meio da municipalização, visando

[...] fortalecer o Poder Público Municipal para que, em conjunto com as instituições privadas e os representantes da comunidade, assumisse a co-responsabilidade e fosse partícipe da definição e da gestão das políticas, dos programas e das ações locais voltadas para o desenvolvimento do turismo sustentável (BRASIL, 1998).

O PNMT tinha o objetivo de transferir às instâncias locais a responsabilidade de discutir, planejar e executar as ações que até então eram de competência das esferas federais e estaduais. Essa linha de pensamento no turismo segue estrategicamente a filosofia adotada em vários outros setores da gestão pública, como o da saúde, da educação, dos transportes, entre outros.

A municipalização é uma estratégia de desenvolvimento turístico por meio da conscientização da população beneficiária das ações realizadas no próprio município, despertando a sensibilidade dos residentes nos municípios para o fato de que apenas possuir atrativos, ou potencial turístico, não é suficiente para que a atividade cresça e se desenvolva.

Foram definidos também alguns princípios gerais que eram essenciais para o sucesso do programa, como a descentralização que fortalecia o poder público municipal para que, em conjunto com as instituições privadas e os representantes da comunidade, assumisse a co- responsabilidade e participasse da definição e da gestão das políticas, dos programas e das ações locais voltadas para o desenvolvimento do turismo sustentável.

Os outros princípios eram o da sustentabilidade; a criação de parcerias, capazes de contribuir para o fomento e o desenvolvimento das atividades do turismo sustentável no município; o estímulo da comunidade a atuar e a decidir na busca de alternativas e objetivos comuns; e, por fim, a necessidade de capacitação com o objetivo de promover a qualificação das pessoas envolvidas com o setor turístico nos municípios.

Assim, o PNMT foi estruturado de tal forma a integrar os três níveis governamentais, tendo como núcleo central o Comitê Executivo Nacional, apoiado pelos Comitês Estaduais, e com base na estrutura municipal, representada pelos Conselhos Municipais de Turismo apoiados pelo Fundo Municipal de Turismo.

Paralelamente a esta estrutura formal, o programa previa a formação (de maneira voluntária) de um quadro técnico e de pessoal caracterizado em todos os níveis pelos Agentes Multiplicadores Nacionais, Agentes Multiplicadores Estaduais e pelos Monitores Municipais do PNMT (Figura 4).

É verificado que estado e município tem grande envolvimento nessa formatação de programa. Como aponta Endres (2001, p. 11):

Essa nova orientação faz dos órgãos estaduais e municipais os grandes responsáveis pela adaptação dessas políticas às necessidades locais, culminando com a realização, ou não, das metas propostas pelos órgãos de atuação federal e regional. Delineia-se, assim, uma descentralização política e administrativa, onde se repassa aos outros níveis estatais a decisão de seguirem ou não determinadas orientações.

Figura 4 – Estrutura dos agentes multiplicadores e monitores do PNMT.

Fonte: OMT, 1994

Contudo, a autora coloca ainda que mesmo sendo a política oficial do governo, permanece subjacente a esse programa uma estrutura hierarquizada, de sorte que, quando aceito pelos estados ou município, deve ser seguido de acordo com o que é imposto pelo poder central.

Ao longo dos oito anos de vigência oficial do programa, engajaram-se no processo 1450 municípios. Foram capacitados 28 mil agentes locais, graças à participação de 1,5 milhões de voluntários por meio de oficinas de capacitação, cursos, palestras e outras ações (BRASIL, 2002).

Pretendia-se, ao final, que as comunidades e seus agentes multiplicadores dessem continuidade aos trabalhos de elaboração de planos municipais de desenvolvimento turístico e implantação de negócios e empreendimentos para alavancar e estruturar as atividades.

De acordo com alguns autores foram detectados alguns problemas relacionados à implementação do programa. Por exemplo, Silveira, Paixão e Cobos (2006, p. 129) afirmam:

a maior parte de recursos financeiros foi destinada aos grandes destinos receptores de turistas do país; a grandes projetos de empresas ou a grupos corporativos do setor, relegando aos pequenos municípios o papel de meros participantes de exaustivas discussões sobre a importância do turismo e outras questões que talvez nunca se transformassem em realidade para os setores, tanto públicos, quanto privados locais.

Além disso, outro problema importante na continuidade do PNMT foi que os municípios não estavam dotados de recursos técnicos e humanos para trabalhar o planejamento turístico adequadamente, o que truncava o andamento das ações. Em geral, chegava-se até à fase de discussões e conscientização, porém quando era necessário avançar na elaboração de projetos e propostas tecnicamente viáveis não havia profissionais qualificados para tal, e os governos estaduais e federais também não possuíam contingente suficiente de técnicos para suprir a demanda.

O grande mérito do programa foi a imensa movimentação de milhares de pessoas em todos os quadrantes do país, discutindo sobre um tema até então recluso aos meios acadêmicos ou a setores do mercado diretamente envolvidos no processo: o turismo e o desenvolvimento sustentável da atividade. No entanto, a grande crítica que se faz ao programa é devido a sua incapacidade de transformar – ou avançar – desta grande mobilização para um patamar mais elevado em que houvesse uma materialização de resultados concretos para as comunidades locais.

O PNMT perdeu-se em sua própria estrutura e grandiosidade, porém não se pode omitir que o seu legado de mobilização deixou as bases para o lançamento das políticas do próximo governo, atualmente em vigor, fundamentada na regionalização do turismo.