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4 RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO ESTATAL NO EXERCÍCIO DO PODER

4.2 PODER DE POLICIA AMBIENTAL DO ESTADO

A Politica Nacional do meio Ambiente tem como um de seus objetivos a garantia de um meio ambiente saudável e de boa qualidade, e para que esse objetivo seja cumprido, compete ao Poder Público tutelar administrativamente o meio ambiente, utilizando-se do poder de policia ambiental para limitar ou disciplinar direito, interesse ou liberdade, regular a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público atinente a atividades que venham causar danos ao bem ambiental.

A noção de poder de policia é uniforme, tendo sua conceituação legal, pelo art. 78 do Código Tributário Nacional3, o qual é usado subsidiariamente, no direito ambiental. Ensina Machado (2013, p. 385) que o poder de polícia age através de ―ordens e proibições‖, mas e, sobretudo, por meio de ―normas limitadoras e sancionadoras‖, ou ―pela ordem de polícia, pelo consentimento de polícia, pela fiscalização de polícia e pela sanção de polícia.‖ O mencionado autor ainda conceitua poder de polícia ambiental através do seguinte entendimento:

Atividade da Administração Pública que limita ou disciplina direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato em razão de interesse público concernente à saúde da população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas ou de outras atividades dependentes de concessão, autorização/permissão ou licença do poder público de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza. (MACHADO, 2013, p.385)

O poder de polícia administrativa tem por atributos a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a coercibilidade. Na lição de Sirvinskas (2011, p. 594):

[...]. A discricionariedade está relacionada à oportunidade e conveniência no exercício do poder de policia, devendo aplicar as sanções administrativa adequadas com vistas no interesse público. A autoexecutoriedade é faculdade que a Administração Pública tem de executar diretamente a sua decisão, ou seja, aplicar e executar as sanções previstas em lei. A

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Art. 78 – CTN. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

coercibilidade é a capacidade de imposição coativa das sanções aplicadas pela Administração Pública, utilizando-se, se for o caso, da força.

A Constituição Federal/88, ao estabelecer no caput do artigo 225, ―o dever do Poder Público e da coletividade de defender e preservar o meio ambiente‖, expressamente, adotou os princípios da preservação e da precaução. Determinando, de forma inquestionável, o Estado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) como um dos sujeitos ativos responsáveis pela defesa do meio ambiente. Diante do principio da obrigatoriedade da intervenção estatal, sua atuação decorre da natureza indisponível do bem ambiental, cuja proteção apresenta-se indispensável à qualidade de vida e dignidade de toda pessoa, conforme art. 225, caput e §1º da CF/88 e art.2º, I da PNMA. Desta forma, compreende-se que o dever imposto ao Poder Público, no que tange a proteção ao meio ambiente, é como uma obrigação para com a coletividade, porquanto, cabendo a esta o direito a reivindicar a completa realização deste dever estabelecido pelo ordenamento jurídico.

O poder de policia administrativo diferencia-se das demais formas de poder de policia, seja pela sua natureza quanto pelos seus métodos. Nesse sentido, vale salientar o ensinamento de Milaré (2013, p. 336), quando ressalta que:

Não é exercido por policiais profissionais, voltados preferencialmente para manutenção da ordem pública, mas por profissionais técnicos adrede capacitados que se ocupam de aspectos específicos do bem comum. No caso, estão em jogo a defesa e a preservação do meio ambiente, assim como a manutenção da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico essencial – tudo em função do patrimônio ambiental (que é publico) e do desenvolvimento sustentável (que é do interesse da sociedade).

Entretanto, há circunstâncias em que o poder de policia administrativa ambiental pode e deve ser reforçado por outras modalidades de policia. Aqui se enquadram as Policias Militares Ambientais, que agem por delegação expressa do Poder Executivo competente, segundo os objetivos e métodos de polícia administrativa.

A atuação preventiva cria condições para que não ocorram situações de lesão ambiental, seja através da degradação, poluição, dano, ou de impacto que venha prejudicar ao meio ambiente saudável. Em observância ao preceito constitucional supracitado, vale demonstrar as palavras de Canotilho e Moreira (apud LEITE, 2003, p.50), que salienta o seguinte entendimento:

As ações incidentes sobre o meio ambiente devem evitar, sobretudo, a criação de poluições e perturbações na origem e não apenas combater

posteriormente os seus efeitos, sendo melhor prevenir a degradação ambiental do que remediá-la a posteriori.

De fato, a preservação é preceito fundamental, uma vez que os danos ambientais, na maioria das vezes, são irreversíveis e irreparáveis (FIORILLO 2011, p 117). Deste modo, observa-se a necessidade da adoção do principio da preservação e sua utilização como sustentáculo do direito ambiental, consolidando-o como seu objetivo fundamental, uma vez que, ocorrido o dano, em sua maioria, as medidas judiciais de reparação mostram-se incapazes para que haja o restabelecimento do meio ambiente em igualdade de condições idêntica a situação anterior.

Para melhor entendimento sobre o que venha a ser os princípios da prevenção e da precaução, Thomé (2015, p.68), esclarece da seguinte forma:

O princípio da prevenção se apoia na certeza científica do impacto ambiental de determinada atividade. Ao se conhecer os impactos sobre o meio ambiente, impõe-se a adoção de todas as medidas preventivas hábeis a minimizar ou eliminar os efeitos negativos de uma atividade sobre o ecossistema. Caso não haja certeza científica, o princípio a ser aplicado será o da precaução.

O princípio da prevenção é o maior alicerce, por exemplo, do Estudo de Impacto Ambiental - E.I.A. - (art. 225, parágrafo 1 °, inciso IV, da Constituição de 1988) realizado pelos interessados antes de iniciada uma atividade potencialmente degradadora do meio ambiente, dentre outras medidas preventivas a serem exigidas pelos órgãos públicos.

O princípio da precaução é considerado uma garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados.

O poder de policia ambiental é exercido habitualmente por meios das ações de fiscalização, contemplando medidas corretivas, de inspeção, entre outras. No entanto, também decorre do poder de policia administrativa, o licenciamento ambiental, o qual age de forma preventiva, e representa o consentimento estatal, através de licenças que são requeridas como condicionantes para o exercício de atividades que possam ser potenciais causadores de degradação ambiental.

Vale ressaltar que a Constituição Federal /88 determina expressamente sete deveres específicos do Poder Público na tutela ao meio ambiente, compreendidos em seu art.225, § 1º, assim como, a legislação infraconstitucional que trata sobre a Politica Nacional do Meio Ambiente dispõe em seu art. 9º, inc. I ao XIII, os instrumentos para o exercício do dever de proteção ao bem ambiental. Dentre os deveres e instrumentos apresentados pelo ordenamento jurídico nacional, cabe destacar o Estudo de Impactos Ambientais – EIA (art. 225, §1º, inc. IV CF/88); a

Avaliação de Impactos Ambientais - AIA e; o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras (art. 9º, III e IV da PNMA).

A Avaliação de Impacto Ambiental é conceituada por Milaré (2013, p.741), como:

Instrumento de política ambiental, formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o inicio do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa, plano ou politica) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles considerados.

A AIA encontra-se na esfera do licenciamento ambiental e, tem como uma de suas modalidades o Estudo de Impacto Ambiental, considerado um dos principais instrumentos de compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação ambiental, haja vista ser encontrado como preceito Constitucional, devendo ser elaborado antes da instalação de obra ou de atividade potencialmente causadora de significativa degradação ao meio ambiente, uma vez que ―os procedimentos do EIA não são apenas legais e compulsórios: eles são altamente pedagógicos e encerram um caráter social, a saber, o interesse e a participação da comunidade‖ (MILARÉ, 2013, pg.185).

A Politica Nacional de Meio Ambiente, em seu artigo 10 determina que:

A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, em seu art. 1º, inc. I define licenciamento ambiental da seguinte forma:

Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimento e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

Neste mesmo prisma, Farias (2013, p. 26) conceitua Licenciamento ambiental expondo que:

O licenciamento ambiental é um processo administrativo complexo que tramita perante a instância administrativa responsável pela gestão ambiental, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, e que tem como objetivo assegurar a qualidade de vida da população por meio de um controle prévio e de um continuado acompanhamento das atividades humanas capazes de gerar impactos sobre o meio ambiente.

Importante ressaltar que licenciamento ambiental não pode ser confundido com a licença ambiental, haja vista, aquele ser o processo administrativo em que são verificadas as condições de concessão desta, por parte do Poder Público, ou seja, é através do licenciamento que se apura se a licença poderá ou não ser concedida para que a atividade potencialmente poluidora possa ter o direito de ser exercida.

Licença ambiental, no entendimento de Farias (2013, p. 27) está conceituada como:

[...] uma espécie de outorga com prazo de validade concedida pela administração Pública para a realização das atividades humanas que possam gerar impactos sobre o meio ambiente, desde que sejam obedecidas determinadas regras, condições, restrições e medidas de controle ambiental.

Contudo, mesmo a atividade licenciada obedecendo todos os padrões requeridos em lei, ainda assim, poderá ensejar lesão ao meio ambiente. E apesar da importância dos imperativos constitucionais em priorizar a preservação de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e de todo aparato determinado pelo ordenamento jurídico nacional, a realidade evidencia, na prática, que as alterações ambientais geradas através dos impactos efetivos ou potenciais são toleráveis por parte do Poder Público, a favor das atividades econômicas e da promessa de desenvolvimento.

Deste modo, o Estado, em situações variáveis, apresenta-se inerte a seu dever de preservar e sua manifestação frente ao seu poder de polícia. Exemplos clássicos da inercia do Poder Público se apresentam perante a falta na fiscalização; a concessão de licenças ambientais fora dos parâmetros normativos; entre outras situações que permitem o favorecimento a degradação do meio ambiente.

Por fim, cabe salientar que a omissão da autoridade competente em seu exercício de poder de polícia ambiental, pode configurar infração administrativa, conforme expressa a Lei de Crimes Ambientais em seu art.70, §3º, assim como ato

de improbidade administrativa, nos termos do art. 11 da lei 8.429/92, podendo ensejar a corresponsabilidade, até a perda do cargo do funcionário que cometeu a omissão.