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3. AMBIENTE INSTITUCIONAL

3.1. PODERES DE AGENDA DO EXECUTIVO ESTADUAL

Comparando os dispositivos institucionais que vigoram na Câmara dos Deputados com as normas legais (Constituição Estadual e Regimento Interno) que organizam os trabalhos da ALEP e distribuem os direitos legislativos na casa, percebe-se que há mais semelhanças do que diferenças entre os poderes de agenda do Executivo federal e paranaense. Como “agenda”, adotamos a definição proposta por Figueiredo e Limongi “capacidade de determinar não só que propostas serão consideradas pelo Congresso, mas também quando serão.” (FIGUEIREDO; LIMONGI, 2001, p. 23).

Assim, continuam os autores: “Maior poder de agenda implica a capacidade do Executivo de influir diretamente nos trabalhos legislativos e assim minorar os efeitos da separação dos poderes, o que pode induzir os parlamentares à cooperação.” (FIGUEIREDO; LIMONGI, 2001, p.23).

Analisando os dispositivos institucionais presentes na Câmara dos Deputados, os autores identificam os principais instrumentos legislativos à disposição do Executivo em nível federal, como sendo: I) Iniciativa exclusiva na proposição de projetos administrativos e orçamentários, incluindo legislação sobre impostos;

II) Iniciar emendas constitucionais; III) Editar medidas provisórias (considerados decretos com força de lei); IV) Solicitar urgência para projetos.

Portanto, para verificar quais desses mecanismos estão ou não presentes no caso Paranaense, procederemos em seguida à análise da Constituição Estadual 21 e do Regimento Interno 22 da Assembleia Legislativa do Estado.

A Constituição Estadual do Paraná define, em seus artigos 66, 87 e 133 as áreas onde o poder Executivo tem iniciativa exclusiva na proposição de leis.

Enquanto o artigo 66 dispõe sobre as áreas em que o chefe do Executivo tem

21 Constituição do Estado do Paraná. Curitiba, 2000.

22 Assembléia Legislativa do Paraná. Regimento Interno. Resolução nº 159/90, de 28 de dezembro de 1990.

iniciativa privativa de formulação legislativa, ou seja, na legislação que incide sobre órgãos que compõem a sua própria estrutura institucional, o artigo 87 estabelece, de maneira mais ampla, as outras atribuições Legislativas exclusivas do governador, enquanto a artigo 133 dispõe sobre a iniciativa do chefe do Executivo em iniciar legislação sobre leis de cunho orçamentário, com a necessidade de apreciação e aprovação pela Assembleia Legislativa do Estado.

No que diz respeito aos poderes de agenda garantidos Constitucionalmente ao Executivo Estadual em comparação ao Executivo Federal podemos ressaltar alguns poderes comuns: (i) direito de veto parcial ou total 23 das leis elaboradas pelo legislativo paranaense; (ii) prerrogativa exclusiva de iniciar legislação sobre um grande número de matérias relevantes, como assuntos tributários, financeiros, administrativos, orçamentários (artigos 66, 87 e 133 da Constituição Estadual); (iii) direito de solicitar urgência 24 para seus projetos. Já contrariamente às prerrogativas do Executivo Federal, o Executivo Estadual não tem o direito de editar medidas provisórias que produzam efeito legal a partir da data de sua publicação.

Em comparação aos poderes de agenda de outros Executivos

Parágrafo 2: no caso do Parágrafo1 o, se a Assembléia Legislativa não se manifestar em até 45 dias sobre a preposição, será esta incluída na ordem do dia suspendendo-se a deliberação quanto aos demais assuntos, para que se ultime a votação.

que somente os Executivos dos Estados do Acre, Piauí, Santa Catarina e Tocantins podem editá-la. A similaridade das Constituições Estaduais foi também observada por Tomio (2005, p. 09), ao afirmar que:

Redigidas em sincronia, com debates e concertações prévias entre os especialistas jurídicos na matéria e os atores pertencentes às organizações políticas e sociais, além de rígidas e extensas determinações previstas pela Constituição Federal, não é estranho que as regras estaduais possuam muito mais pontos em comum do que discordantes. Desta forma, questões centrais à organização político-institucional dos estados não possuem qualquer variação. A estrutura dos poderes estaduais é a mesma, assim como o tempo de mandato e o sistema eleitoral que legitima a ocupação dos cargos eletivos do executivo e legislativo. Todos os parlamentos estaduais são unicamerais e a quantidade de membros destes somente varia segundo as regras estabelecidas pela Carta de 1988.Independentemente do estado, os governos locais (municípios)possuem o mesmo tipo de organização política, grau de autonomia e autoridades eletivas. Até mesmo a organização burocrática do funcionalismo e os aparelhos públicos (polícias, ministério público, procuradorias, tribunais de contas, etc.) seguem a mesma institucionalidade. Apesar da existência de um estado federativo, mesmo detalhes jurídicos são reproduzidos igualmente em todas constituições estaduais.

Abaixo, apresentamos um quadro síntese dos poderes de agenda garantidos aos Poderes Executivos em nível federal e estadual.

QUADRO 1: Poderes de Agenda do Executivo Federal e Executivo Estadual

Poderes de Agenda Executivo

Iniciar emendas constitucionais; Sim Sim

Iniciativa exclusiva em leis administrativas e orçamentárias;

Sim Sim

Veto parcial ou total. Sim Sim

Fonte: Figueiredo e Limongi (2001), Constituição Estadual do Estado do Paraná e Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná.

Qual então, a interpretação que podemos dar a essas informações tendo em vista as informações acima apresentadas? Embora o Executivo Estadual assemelhe-se ao Executivo Federal na maior parte dos poderes de agenda que possui, falta ao poder local seu instrumento pró-ativo mais importante, ou seja,

o recurso à medida provisória, que permite ao chefe do executivo alterar imediatamente o status quo anterior. Sem o recurso a medida provisória, a solicitação de pedido de urgência torna-se um recurso fundamental ao chefe do Executivo, pois “impede que minorias possam, por seu controle de veto points,

“engavetar” as propostas presidenciais” (FIGUEIREDO; LIMONGI, 2001, p. 25).

O controle sobre o orçamento e a administração pública (principalmente em relação ao controle e distribuição dos cargos estatais) são outros recursos identificados pela literatura como instrumentos capazes de forçar a cooperação dos parlamentares. Seja porque se considera que a “caneta que nomeia é a mesma que demite” (FIGUEIREDO; LIMONGI, 2001, p. 33) na construção de coalizões governamentais ou pela relação clientelista que se estabelece através da conjugação da necessidade do Executivo em formar maiorias parlamentares estáveis e dos deputados de se reelegerem (conexão eleitoral), considera-se no geral que:

A politização da administração pública estadual é um instrumento fundamental para aumentar o montante de recursos políticos do executivo, tornando-o mais forte na negociação com o Legislativo e com os lideres políticos locais. (ABRUCIO, 1998 , p.102)

3.2. PRERROGATIVAS LEGISLATIVAS DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA