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Poema Orion, de Carlos Drummond de Andrade, e enunciados das

Leia o texto abaixo e responda às questões propostas 1. A partir da leitura do texto:

a) Elabore um parágrafo explicando a relação do título do poema com a primeira namorada.

b) O eu-lírico cria uma dicotomia (dualidade) com o uso da palavra LUZIA. Explique as duas possibilidades de entendimento deste vocábulo.

c) Explique de que maneira o eu-lírico tentou se aproximar da primeira namorada. Fonte: Pr.5_2014.

O poema Órion foi retirado de uma coletânea de poemas de Drummond destinada a crianças. Abaixo do poema o professor apresenta a nota explicativa referente ao título: “Orion é uma constelação reconhecida em todo o mundo, por incluir estrelas brilhantes e visíveis de ambos os hemisférios. (Wikipédia)”. O poema de Drummond à primeira vista trata das dificuldades sofridas por alguém que tinha uma namorada de alta estatura, caso típico entre pré-adolescentes, já que as meninas são quase sempre mais altas e robustas que os meninos. No entanto, para além da superfície do texto, o leitor pode ler esse poema já esperando que não há apenas o dito, mas que há muito a ler nas entrelinhas. O vocábulo “alta” não denota apenas estatura, mas denota superioridade, poder, a “primeira namorada”, na verdade, é um amor platônico, inacessível devido às diferenças sociais entre o eu-lírico e Luzia, a qual aparenta ser de uma classe social mais alta, por morar em um “sobradão”. Essa superioridade da moça é comparada, de maneira implícita, à constelação Orion, ambas brilhantes e distantes: inacessíveis e intocáveis. Essa comparação está dentro do que Marcuschi (2011) denomina de “horizonte possível” e pode ser estabelecida não somente a partir da relação entre constelação e namorada, mas a partir da duplicidade perfeitamente tecida por

Drummond da palavra Luzia, que pode ser verbo luzir, iluminar e pode ser nome da mulher amada. Essa ambiguidade do vocábulo “Luzia” tentou ser explorada na questão 02, a qual pode ser respondida sem que o aluno compreenda globalmente o poema, pois basta que ele saiba o significado de luzir e que saiba que Luzia, com letras maiúsculas, é nome de uma pessoa do sexo feminino.

Para responder às questões 01 e 03 o aluno precisa compreender o poema para além da superfície, precisa compreender crítica feita pelo poeta, precisa compreender que Orion é uma constelação imensa, importante, admirada, assim como é Luzia para o eu-lírico. Os enunciados dessas duas questões não deixam claro qual a relação que deve ser estabelecida, com base em que essa relação deve ser feita, não fica claro se o aluno deve levar em consideração a estatura da personagem e comparar com altura/distância que a constelação está da Terra, ou se o aluno deve levar em conta a magnitude, a superioridade de ambas, de Luzia, que é mais rica que o eu-lírico, e a de Orion que a mais importante e bela entre as constelações. A terceira questão, para ser respondida, exige do aluno a compreensão global do poema e, mesmo assim, não poderia ser satisfatoriamente respondida sem que o aluno entrasse em um horizonte de interpretação indevido, ao passo que não é possível com a leitura do poema afirmar de que maneira o eu-lírico se aproximou da namorada.

Além disso, a imagem não foi mencionada nas questões, sem ser explicada e citada ela se esvazia de sentido, pois ela apresenta um deus da mitologia grega Orion, intimado por Zeus para estar entre o céu e as estrelas, é um forte guerreiro e caçador. O aluno que tenta ler a imagem logo deve se perguntar: quem é esse homem com a espada? É o eu- lírico? Mas esse eu-lírico não é um homem inferior à amada, pequeno, sem luz, perto da amada? Outros alunos, arriscamos dizer que são a maioria, sequer leriam a imagem, pois o “o professor não pediu pra fazer isso na questão!”, poderiam pensar...

Em síntese, nesta primeira seção percebemos o quanto os textos que associam recursos verbais e não verbais se fazem presentes nas provas de todo o Ensino Fundamental II. Essa presença é positiva, pois os alunos têm a oportunidade de ter contato com diversos gêneros de textos, conforme preveem os PCN. Contudo, somente estar presente não significa que efetivamente esses textos são lidos, compreendidos e que entre eles e o aluno-leitor há interação, pois os enunciados das questões que acompanham esses textos não favorecem ou favorecem muito pouco o aluno a compreender o que lê, notamos isso

ao analisarmos as habilidades que o aluno deve realizar para responder às questões. Grande parte desses enunciados teve como foco trabalhar com alguns dos conceitos gramaticais que possivelmente foram sistematicamente trabalhados no decorrer das aulas de Língua Portuguesa. Por esse motivo, esses textos que associam recursos verbais e não verbais serviram de pretexto ao trabalho com a gramática tradicional. Isso nos faz pensar que a presença desses textos nas provas não contribuiu para avaliar se o aluno sabe lê-los ou não, ou seja, se o aluno é ou não um leitor proficiente da multimodalidade presente nos textos e que essa presença não implica em afirmar que os textos que associam imagens e palavras são efetivamente explorados. Isso nos faz pensar, também, se esses textos estão sendo lidos na sala de aula, já que nas provas eles não são considerados como textos, já que se destinam a outros tipos de trabalhos que não o de compreensão. Em resposta ao quinto objetivo desta pesquisa, notamos que os textos que associam recursos verbais e não verbais são adequados à faixa etária, pois apresentam linguagem acessível e que circulam socialmente, o que gera a incompreensão dos textos, portanto, não é a “faixa-etária”, mas o tipo de trabalho realizado com esses textos. Contudo, as análises realizadas nesta pesquisa não foram suficientes para respondermos à outra pergunta do quinto objetivo, quanto ao fato do trabalho com esses textos ser sistemático ou não. Acreditamos que isso não foi possível, pois não analisamos o processo de ensino desses textos, ou seja, não tivemos acesso às práticas de sala de aula e ao material didático que serviu de apoio aos alunos no período em que realizaram as provas.

4.2 A exploração das tirinhas em geral e das tirinhas da Mafalda especialmente Nesta seção, apresentamos o trabalho com as tirinhas que compõem o corpus desta pesquisa. Na primeira subseção, analisamos as questões motivadas por tirinhas e as analisamos à luz das teorias descritas no capítulo 1. Na segunda subseção, apresentamos como é feito o trabalho com os dois exemplares de tirinhas da Mafalda, comparando esse trabalho com o que foi analisado das questões que utilizam textos que associam recursos verbais e não verbais, na subseção anterior. Ao final da segunda subseção, apresentamos até que ponto as concepções sócio interacionistas de língua, de linguagem, de texto, de leitura e de aprendizagem que norteiam o ensino de língua portuguesa subjazem as questões presentes nas provas.

O trabalho com as tirinhas se assemelha bastante ao trabalho com os outros textos que associam recursos verbais e não verbais. Contudo, ao analisarmos o total de questões e textos que associam recursos verbais e não verbais que compõem o corpus percebemos que o trabalho puramente gramatical é muito mais intenso nas tirinhas do que com os outros textos. Esse tipo de trabalho foi predominante e, em alguns casos foi exclusivo, ou seja, em alguns casos a tirinha somente serviu para trabalhar com as classificações gramaticais. O trabalho com as tirinhas é de dois tipos: o primeiro é exclusivamente gramatical, ou seja, sobre a tirinha é preciso apenas classificar os termos destacados de acordo com classificações vigentes nas Gramáticas; o segundo tipo de trabalho, refere- se àquele que mescla questões gramaticais e questões sobre parte do sentido da tirinha. O primeiro tipo de trabalho, o exclusivamente gramatical, é feito de duas maneiras: (i) localizar itens nos balões de fala e os classificar e (ii) reescrever palavras ou frases de acordo com as regras da gramática normativa. Os exemplos dessas duas abordagens de trabalho puramente classificatório e que esvazia o texto de sentido.

Exemplo 15 – tirinhas da Turma da Mônica e de Hagar, retiradas, respectivamente, das

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